Suspensão da AstraZeneca atrasa vacinação nacional por duas semanas. Adia objetivo da imunidade de grupo na UE

Vários países decidiram fazer uma pausa na administração da vacina da AstraZeneca, enquanto é feita uma análise dos efeitos adversos reportados. Decisão atrasa por algumas semanas metas de vacinação.

Depois de problemas e atrasos na entrega das doses combinadas da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca, há outro contratempo com o fármaco: vários países europeus avançaram com a suspensão da administração da vacina, devido à morte de uma enfermeira e o registo de sintomas graves noutra, depois de ambas terem sido vacinadas. Portugal decidiu também fazer uma pausa na administração desta vacina, o que pode representar uma pedra no caminho para a imunidade de grupo.

Esta era uma de três vacinas a serem administradas em Portugal atualmente, tendo sido aprovada pela EMA, a 29 de janeiro. A farmacêutica adiantou que já mais de 17 milhões de doses foram administradas na Europa e no Reino Unido. Em Portugal, já tinham sido administradas 400 mil doses deste fármaco, segundo adiantou o coordenador da task force esta segunda-feira. Agora, com esta pausa na administração, vão ficar em armazém 200 mil doses.

A DGS e o Infarmed recomendaram a interrupção temporária da vacinação da AstraZeneca, no seguimento dos casos reportados por outros países de reações adversas graves. “Estes casos estão em avaliação no comité da Agência Europeia do Medicamento (EMA, em inglês) e ainda não foi possível concluir e estabelecer causalidade entre casos reportados e toma da vacina”, explicou o presidente do Infarmed.

Pelo princípio da precaução, Portugal decidiu então fazer uma pausa na administração da vacina enquanto não são conhecidos os resultados da análise da EMA. O vice-almirante Gouveia e Melo garantiu que as doses armazenadas não serão desperdiçadas até ser conhecida uma decisão, já que estão em condições de serem armazenadas por algum tempo.

O coordenador da task force apontou que “o processo de vacinação fica ligeiramente atrasado porque saiu da panóplia de vacinas uma quantidade substantiva” de doses, pelo que o “processo vai adiar cerca de duas semanas”. A primeira consequência da decisão são os planos para vacinar, no fim de semana, os docentes e não docentes do pré-escolar e 1 º ciclo, devido à reabertura destes estabelecimentos no âmbito do desconfinamento, que foram postos em pausa.

Isto já que as vacinas da AstraZeneca “estavam destinadas aos professores mas também a todos utentes com mais de 50 anos com comorbilidades até 80 anos”, segundo explicou o coordenador da task force. Estes serão vacinados com as vacinas da Pfizer e Moderna.

Agora, o “plano prossegue com outras vacinas e prevê-se que primeira fase de vacinação esteja terminada em abril”, sendo que não existia ainda uma previsão específica de quando nesse mês seria terminada. Isto será possível já que se vão “concentrar vacinas nos grupos mais prioritários, diminuindo nos grupos de resiliência”, ou seja, trabalhadores de alguns grupos prioritários, como os professores.

Quanto às pessoas que já receberam a primeira dose da AstraZeneca, a diretora-geral da saúde sinalizou que “está previsto que a segunda dose da Astrazeneca ocorra daqui a bastante tempo”, pelo que neste intervalo as agências e autoridades de saúde vão chegar a uma conclusão sobre a segurança da vacina com base nos dados de vigilância.

Enquanto em Espanha foi definido que a suspensão era por 15 dias, em Portugal a pausa é por tempo indeterminado, estando dependente da decisão da EMA. “Após essa avaliação podemos depois comunicar relativamente às fases seguintes”, referiu Rui Ivo, salientando que as “datas são indicativas porque é sempre feita referência a este processo coordenado” a nível europeu.

Suspensões atrasam objetivo de imunidade europeu

Agora, com as suspensões em vários países europeus, os esforços para atingir o objetivo da Comissão Europeia de ter 70% dos europeus vacinados até ao final do verão podem-se atrasar em pelo menos algumas semanas e potencialmente mais – até setembro em vez de agosto – de acordo com a empresa de research Airfinity, citada pela Bloomberg (acesso condicionado, conteúdo em inglês).

De sublinhar que estas suspensões vão servir para perceber e analisar melhor os dados dos estudos, pelo que se não existir uma relação causa-efeito entre a vacina e os episódios que se têm vindo a verificar poderá voltar a ser administrada. Desta forma, o tempo durante o qual se suspende esta vacina também irá determinar o atraso na chegada à imunidade de grupo.

Já as previsões da task force para o plano de vacinação nacional apontavam para agosto como o momento em que se atinge a imunidade de grupo. Tudo estava dependente do ritmo de entrega das vacinas, mas agora encontra também este entrave, que diminui o número de inoculações que podem ser feitas. Segundo os últimos números da DGS, já foram administradas 1.168.215 vacinas contra a Covid-19 em Portugal.

O número de países europeus que suspenderam a toma da vacina da AstraZeneca já é de 15, grupo a que se junta agora Portugal. Tudo começou com a suspensão na Áustria, devido à morte de uma enfermeira e o registo de sintomas graves noutra, depois de ambas terem sido vacinadas com o fármaco anglo-sueco. Outros países seguiram-se, nomeadamente depois de registarem alguns incidentes após a administração da vacina.

Até agora, a EMA, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a própria farmacêutica continuam a defender o uso da vacina. No entanto, a EMA está a avaliar a situação e deve apresentar conclusões esta semana.

De salientar que a AstraZeneca representa um dos maiores contratos estabelecidos pelo bloco comunitário, que acordou para a compra antecipada de 300 milhões de doses. No entanto, a farmacêutica tem enfrentado problemas na produção da vacina e tem vindo a cortar no número de vacinas entregues na data prevista.

A AstraZeneca anunciou no final de janeiro que só poderia entregar 40 milhões de doses aos países da União Europeia no primeiro trimestre, dos 120 milhões que havia inicialmente prometido devido a dificuldades de fabrico numa fábrica belga.

Novas vacinas a ser aprovadas, nomeadamente a da Johnson & Johnson, que já recebeu “luz verde” do regulador europeu, e a russa Sputnik V, que está a avançar com o processo para a aprovação, poderão ajudar a colmatar as falhas. Poderão também ser feitas novas aquisições às outras farmacêuticas.

De recordar que esta vacina já enfrentou algumas limitações de outra ordem, sobre a utilização em pessoas acima dos 65 anos. A DGS começou por determinar que devia ser preferencialmente utilizada para pessoas até aos 65 anos de idade, mas acabou por retirar essa recomendação, sendo que estava atualmente a ser administrada sem restrições etárias.

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