“Novo Banco era mau, mas podia sobreviver. E sobreviveu”, diz Stock da Cunha
Antigo CEO disse que banco tinha um “abcesso muito grande” com grupo de grandes devedores. Falou em situações “opacas” com alguns clientes. E em devedores que podiam, mas não queriam pagar dívidas.
Stock da Cunha foi presidente do Novo Banco entre dezembro de 2014 e agosto de 2016. Quando chegou ao banco ficou com esta ideia: “Havia um banco péssimo, o BES, e havia o banco mau, com possibilidades de ser recuperado, com um bom franchise”. O problema: esse banco mau, o Novo Banco, tinha “um abcesso muito grande com um número diminuto de devedores, mas com uma exposição creditícia muito grande”.
“O Novo Banco era mau, mas podia sobreviver. E sobreviveu”, acrescentou aos deputados da comissão de inquérito, isto para defender o seu trabalho à frente da instituição.
O gestor bancário revelou que encontrou situações “opacas” ao longo do tempo do seu mandato. Quais situações? Por exemplo, a determinado momento, detetou que havia um produto emitido pela companhia seguradora (o BES Vida) e que o banco tinha subscrito. “Era como se fosse um fundo que tinha 200 milhões de euros de liquidez. Disse logo: acabem com o produto pois precisamos de liquidez e vamos ter a composição de cada um dos ativos”. Descobriu-se que o fundo tinha títulos em fundos de investimento no Luxemburgo, que por sua vez tinha fundos e que estes também tinham fundos. “Quando fomos ver camada a camada, na base havia algum crédito a alguns grandes devedores. Eram poucos milhões”.
Mais tarde, após insistência do presidente da comissão de inquérito, Stock da Cunha revelou que “num dos níveis mais abaixo” havia crédito a uma sociedade ligada ao grupo Ongoing.
O gestor, hoje em dia no britânico Lloyds, disse ainda que havia quatro grupos de devedores, sendo que um deles correspondia aos devedores que “podiam mas que não queriam pagar os seus créditos”. Quem eram? Stock da Cunha não quis revelar.
Os vilões e os trabalhadores heróis
Stock da Cunha lembrou por mais do que uma vez que “a esmagadora senão a totalidade dos créditos problemáticos nasceu no BES, e não no Novo Banco”, isto apesar de ter admitido que se aumentou a exposição de alguns grandes devedores durante a sua passagem. Por exemplo, em relação ao grupo Moniz da Maia, esse aumento decorreu de um project finance que tinha sido assinado em 2012.
Pelo meio da sua intervenção, o gestor quis fazer um tributo àqueles que considera ser os “maiores lesados” do BES: os trabalhadores do Novo Banco. Muitos foram despedidos, incluindo durante o mandato de Stock da Cunha. Outros eram acionistas do BES que perderam os investimentos com a resolução. Também sofreram “ameaças” à sua integridade, contou.
“Esta história terá alguns vilões, mas também terá heróis. E nunca foi reconhecido o papel dos trabalhadores”, disse Stock da Cunha.
(Notícia atualizada às 18h42)
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