Para férias ou para viver, estes britânicos renderam-se a Portugal

Enchem as ruas do Algarve à procura do sol que quase não existe no Reino Unido. Vêm de férias, mas há quem deixe para trás a terra natal e se mude de vez para Portugal.

Vivem no Reino Unido, mas é em Portugal que procuram o descanso. No verão ou no inverno, são milhares os britânicos que todos os anos apanham um avião em busca do paraíso algarvio. A pandemia trocou-lhes as voltas, mas hoje respiram de alívio por poderem voltar. Vêm atraídos pelo sol, pela “boa comida” e pela segurança. Semanas depois voltam. Mas há quem se tenha rendido completamente a Portugal e tenha decidido ficar cá de vez.

“Passámos os últimos três anos de férias em Portugal. Normalmente começamos pelo Porto ou Lisboa e ficamos a maior parte do tempo no Algarve”, conta ao ECO Carol Disberry. Com 67 anos e já reformada, viaja sempre com o marido e algumas vezes traz amigos. Chega a Portugal no início de dezembro e cá fica cerca de quatro meses. “Gostamos do povo português e da comida, do clima e da paisagem”, acrescenta.

Em 2020, devido à pandemia, os planos foram adaptados e Carol Disberry — que estava em Portugal desde janeiro — ficou até julho. Este ano, devido às restrições impostas pelo Governo britânico, ainda não tinham viajado. Mas a notícia de Boris Johnson, que permitiu aos britânicos viajarem para fora em turismo a partir de hoje, foi muito bem recebida. “Pretendemos viajar para Portugal em setembro e vamos estender a nossa estadia até ao máximo de tempo que o nosso visto nos permitir [pelo facto de o Reino Unido ter saído da União Europeia], caso contrário iremos para Marrocos”, diz ao ECO.

De malas aviadas está também Lee Hunting. Esteve uma única vez em Albufeira — em janeiro do ano passado — e foi o suficiente para querer voltar. “Já reservámos [uma viagem para Portugal] e chegaremos em breve para uma pausa de cinco dias. Mal posso esperar por aproveitar um pouco de sol, mar e boa comida”, diz ao ECO o empresário da construção civil, residente em Norwich, a este do Reino Unido.

Tal como Carol Disberry, também Lee Hunting viu os planos para o verão passado impactados pela pandemia. “Fomos para Espanha à última da hora em setembro, durante uma semana”, recorda ao ECO, contando que precisava daquelas férias antes de iniciar um tratamento contra um cancro. Mas sublinha: “Não há nenhum lugar de que tenhamos gostado tanto como Portugal”.

Em terras algarvias, o casal de 47 anos sente-se “totalmente seguro” e não deixa de destacar o “sol” e a “boa comida”. Só lamenta o facto de ter de pagar por um teste ao coronavírus, um dos critérios de entrada em Portugal. “Podiam ser um pouco mais baratos e fáceis de fazer”, diz Lee Hunting que, tal como a esposa, também está vacinado. O mesmo defende Carol Disberry. “Não estamos contentes por ter de pagar pelo teste, sobretudo porque estamos os dois vacinados”, diz a reformada britânica.

Sentimo-nos muito seguros cá [em Portugal] e ficámos muito impressionados com a forma como as restrições foram impostas e como as pessoas as cumpriram. Infelizmente a pandemia atrasou os nossos planos [de comprar casa em Portugal].

Carol Disberry

Reformada britânica que costuma passar férias em Portugal.

Até há pouco tempo, o Governo português não permitia a entrada de britânicos no país através de voos diretos. Contudo, estes podiam vir através de voos com escalas feitas noutros países. Ainda assim, essa entrada implicava uma quarentena de cerca de duas semanas e a apresentação de um teste negativo à Covid. Somado a isto estava a proibição imposta por Boris Johnson quanto às viagens não essenciais para fora do Reino Unido. O resultado? O número de turistas britânicos a visitar o país caiu a pique. Mas, mesmo assim, houve quem tivesse procurado alternativas.

“Viajámos para Portugal de ferry desde Santander [Espanha]”, recorda Carol Disberry. E o gosto por Portugal é tanto que começou em 2019 a procurar casa cá para comprar. Contudo, devido à pandemia, o processo ficou em standby. “Infelizmente a pandemia atrasou os nossos planos e também a nossa hipótese de obter residência [em Portugal] antes do Brexit”, conta, garantindo que Portugal está nos planos futuros. “Sentimo-nos muito seguros cá e ficámos muito impressionados com a forma como as restrições foram impostas e na maneira como as pessoas as cumpriram”, remata.

Lisboa “tem hoje uma melhor qualidade de vida do que o Reino Unido”

São milhares os britânicos que anualmente escolhem Portugal para passar férias, mas também são muitos aqueles que acabam por escolher Portugal para viver. Vêm atraídos pelo sol, pela gastronomia e pela segurança.

A segurança foi exatamente um dos fatores que trouxe Andrew Brown de malas aviadas para Portugal. Já lá vão quase cinco anos. “Mudei-me [para Portugal] porque queria mudar de carreira e ir para um país diferente parecia divertido. Nunca tinha estado em Portugal antes”, recorda o professor de inglês de 41 anos. Escolheu Sintra para se instalar, mas já conhece várias cidades portuguesas. “Sinto-me sempre seguro, exceto quando ando de bicicleta, porque os condutores portugueses são descuidados”, diz.

Mas os pontos a favor pesam bem mais. “Amo o vinho, o clima, a paisagem, os alimentos (que podemos comprar) e a culinária (adoro algumas partes, outras não). Há coisas que eu não gosto (algumas mais sobre a zona onde moro e não sobre o país em geral)”, diz.

As férias são normalmente passadas no Reino Unido (de onde é natural) ou na África do Sul (país natal da esposa), mas com a pandemia, Andrew Brown não tem intenções de viajar até ser vacinado. Ainda assim, sentiu os impactos das restrições nas viagens. “Os meus pais planeavam visitar-me em maio, mas isso acabou cancelado há alguns meses. Parámos de fazer planos para as férias”, diz. A solução será viajar dentro de Portugal.

Lamenta o facto de não poder ver a família. A esposa não vê os pais há dois anos, conta. Ainda assim, afirma: “Qualquer coisa que impeça viagens desnecessárias, quando algumas pessoas não estão a agir com responsabilidade é, na minha opinião, uma coisa boa”.

Não tem uma opinião formada sobre as medidas decretadas pelo Governo de Boris Johnson no que toca às viagens, mas tem algo a dizer sobre a postura do Governo português. “É geralmente sensato, mas muitas vezes precisa de ajustes ao longo do tempo. Não estou muito feliz com nada disto, mas entendo os motivos e aplaudo a abordagem subtil, gradual e cautelosa que o Governo está a adotar”, diz.

O Governo português é geralmente sensato, mas muitas vezes precisa de ajustes ao longo do tempo. Não estou muito feliz com nada disto, mas entendo os motivos e aplaudo a abordagem subtil, gradual e cautelosa que o Governo está a adotar.

Andrew Brown

Britânico a viver em Sintra desde 2016

James Campbell é outro britânico que, tal como Andrew Brown, também se deixou render a Portugal. Apaixonado pela cultura e pelo à vontade dos portugueses, James Campbell deixou Oxford em novembro do ano passado. Aos 27 anos, tem o seu próprio negócio de desenvolvimento de aplicações para o telemóvel, o que lhe permite dividir-se entre Óbidos e Lisboa. “Morei em Londres durante cinco anos antes de me mudar para cá. Lisboa tem vindo a crescer e tem hoje uma melhor qualidade de vida. Mas, claro, saí do Reino Unido por causa do Brexit”, conta ao ECO.

Este britânico, que gosta de viver em Portugal “porque existe um bom equilíbrio entre o dinheiro e a vida familiar”, acredita que as restrições nas viagens não essenciais do Reino Unido terminaram no tempo certo [esta segunda-feira] e, tal como Andrew Brown, saúda ainda o Governo português pela postura que tem adotado no combate à pandemia. Contudo, não deixa de salientar que “ter aberto antes do Natal” não tenha sido uma “boa ideia” e lamenta ainda a “falta de apoios aos negócios”.

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