Virgílio Lima revela candidatura ao Montepio. “Sinto que devo”

Em entrevista ao ECO, o atual presidente do Montepio anuncia candidatura às eleições. Diz que já tem equipa pronta (mas não revela), e faz descolagem em relação ao passado com Tomás Correia.

Está feito o anúncio do primeiro candidato às eleições para a liderança da Associação Mutualista Montepio (AMMG), que vão ter lugar em dezembro. Em entrevista ao ECO, Virgílio Lima adiantou que vai encabeçar a lista de continuidade. “Sim. Despretensiosamente, sim. Sinto que devo”, anunciou o atual presidente da instituição.

Lima (como é conhecido no Montepio) já tem a equipa pronta e, sem revelar nomes, antecipou uma renovação entre os administradores que quer ter a seu lado na gestão da maior mutualista do país, com 600 mil associados. Também fez uma descolagem em relação ao passado recente, nomeadamente quanto a Tomás Correia, de quem herdou o atual mandato e com quem apenas falou por três ocasiões nos últimos anos. “Não sou de ninguém, sou do grupo. Genuinamente. Trabalhei bem e honro-me desse passado”, declarou.

Vai ser recandidato à presidência da AMMG?

Sim. Despretensiosamente, sim. Sinto que devo. Se calhar, fá-lo-ia pela minha ligação a esta casa. Estive em todas as entidades do grupo, conheço profundamente o grupo. Devo-me ao grupo e tenho essa gratidão. Se eu sentisse que podia dar o meu contributo, dá-lo-ia sempre. Mas não foi nesse quadro que fiz essa reflexão. Foi em função do que se passou no último ano.

Das grandes transformações havidas, do grande envolvimento que tivemos de ter com todas as autoridades de supervisão, da tutela, do ministério, no contexto turbulento que vivemos. Em particular na criação de planos de continuidade a dez anos, e planos de convergência, a assunção de caminhos que foram muito aprofundados e envolveram muita gente e que têm consistência, mas carecem de continuidade.

Temos de voltar aos valores de sempre, de uma entidade de valores, de ética, de reputação indiscutível, credível, sem complicações e isso exige consistência. Depois, temos de ajustar a oferta que está muito ajustada em muitos domínios, mas há alguns como a saúde e a habitação que deverão ser melhorados na própria AMMG, para acompanharmos completamente o ciclo de vida do associado.

Para que tudo isto convirja de facto e se consolide é preciso dar continuidade a um trabalho que foi muito intenso, que nasceu em 2020, e que não deverá agora ter ruturas. Eu aceito ter esse papel de continuador e, nessa medida, me candidato, se essa for a vontade dos associados, no sentido de concretizar um ano de grandes transformações, do começo de situações estruturais e estruturantes para o futuro. Importa dar continuidade sem ruturas.

"Eu aceito ter esse papel de continuador e, nessa medida, me candidato, se essa for a vontade dos associados, no sentido de concretizar um ano de grandes transformações, do começo de situações estruturais e estruturantes para o futuro. Importa dar continuidade sem ruturas.”

Virgílio Lima

Presidente da AMMG

Assumiu a presidência da AMMG em 2019 num contexto muito especial, com a saída do anterior presidente. Não teme ser visto como uma lista de continuidade de Tomás Correia ou isso não é um problema?

Não é um problema. Não foi nunca. Tomás Correia esteve cá muitos anos e eu estava como administrador de outras empresas do grupo. Chegou muita gente de dentro e eu estava noutras funções. Só no último mandato me convidou. Sou uma pessoa do grupo.

Não é de Tomás Correia?

Sou do grupo. Não sou de ninguém, sou do grupo. Genuinamente. Trabalhei bem e honro-me desse passado. Quando tive de estar sozinho e isolado, estive nessas circunstâncias. Algumas vezes em circunstâncias muito difíceis. O passado fala por mim. Agora, são os associados que estão em primeiro. Têm de estar e estiveram sempre em primeiro na minha ação, até como homem do grupo que sou e a quem me devo. Terei dado o meu contributo genuíno.

Foi apontado como presidente, mas os críticos consideravam que, na verdade, quem continuaria na presidência era Tomás Correia?

Isso foi um ruído breve, inconsistente. Aliás, falei com Tomás Correia ao telefone três vezes desde que saiu. E foi por razões de logística e ligadas à sua saída, não mais. Isso são ruídos. Quem está por dentro sabe que isso é uma impossibilidade. Ser alguém que representa terceiros jamais o fiz, jamais o farei. O que vale aqui é o serviço ao associado, a margem financeira, os excedentes criados, a adesão do associado, o grupo a funcionar. Este é o foco e é por aqui que as pessoas ajuízam no final. Mas há sempre ruído que é perturbador. Muitas vezes essa perturbação afeta a atividade de muita gente, porque estamos a crescer muito bem, de repente há uma notícia e instantaneamente há quebras na atividade. Isto instala a dúvida.

Se têm projetos alternativos, que devam ser discutidos, contrastados, colocados à escolha dos associados, isso é bom. Mas que seja feito com ética, que seja feito sem chicana, sem ataques pessoais. Nós jamais faremos isso.

Virgílio Lima, presidente da Associação Mutualista Montepio, em entrevista ao ECO - 13MAI21
Hugo Amaral/ECO

Já tem equipa?

O tempo próprio para a apresentação da equipa é agora logo após a assembleia geral que vai aprovar o regulamento eleitoral. Nós temos um período para apresentar as equipas ainda nos bastidores, de forma prévia, às autoridades de supervisão, no sentido de avaliar a sua competência e idoneidade. Isso deve correr os bastidores, porque se alguém tem um perfil que não está ajustado, porque nós valemos individualmente, mas também como equipa, essa avaliação tem de ser feita.

Isso vai ser feito a partir de junho?

Por aí. Com a aprovação do regulamento eleitoral há aqui 45 dias para a apresentação de listas. É nesse período que devem ser apresentadas e, uma vez sancionadas em termos associativos, seguem em termos de idoneidade e competência em relação aos órgãos que estão sujeitos a estas exigências para a ASF. Tem de haver alguma interação e há um tempo próprio que a ASF tem e tem de ter para poder fazer isso com todo o rigor.

Espontaneamente, tendo nós o dever de criar uma candidatura institucional, naturalmente no recato dos bastidores e não misturando a função de presidente com essa função de candidato, temos o dever de ir preparando as coisas. Com todo o sigilo que isto envolve, posso dizer que sim, que temos equipas preparadas, robustas, consistentes, com sentimento de pertença.

Credíveis?

Credíveis, com competência, idóneas e que naturalmente se compaginam com estas exigências de futuro que perspetivávamos há pouco.

"Falei com Tomás Correia ao telefone três vezes desde que saiu. E foi por razões de logística e ligadas à sua saída, não mais. Isso são ruídos.”

Virgílio Lima

Presidente da AMMG

Herdou uma equipa porque assumiu funções com uma equipa que já estava em funções. Vai seguir o mesmo princípio de renovação para a equipa que vai apresentar aos associados?

Há necessariamente renovação, por razões diversas. Muitas vezes porque os próprios consideram que é o momento de fazer essa renovação. Mas o critério não é esse, o critério é: o que é que temos de fazer, quem é que melhor pode fazer, que competências são necessárias para a complexidade deste grupo que vai desde a dimensão social à dimensão financeira, à dimensão de proteção, à dimensão associativa fundamental.

Gerir a associação é gerir o grupo, gerir a associação diretamente na relação com os 600 mil associados e com tudo o que envolve, mas depois também gerir o grupo. E é para este projeto e para este plano de atividades a 10 anos e de convergência que nos caminhos definidos temos de encontrar, como sempre fizemos quer para os órgãos sociais quer para as funções de gestão no dia-a-dia ao nível de direção, os melhores que formos capazes.

Vai ter concorrência, pelo menos é que se diz oficiosamente…

…Admito que sim, faz parte. É desejável que haja esse contraste de projetos, essa obrigação de tentar fazer melhor, a tal emulação. Isso é natural. Dito isto, muita gente dirigiu-se a mim espontaneamente, vinda de outras linhas de pensamento, no sentido de tentar uma unidade na diversidade. Porque o momento no mundo, no país, na associação e no grupo exige, na medida do possível, essa convergência de vontades, ainda que com linhas de pensamento diferentes. Mas essa convergência de vontades ao serviço dos associados que é o que nos move.

Pedro Alves e Miguel Coelho são bons candidatos?

Não os conheço formalmente como candidatos. Agora, há a informação dos bastidores que poderão estar envolvidos e as pessoas têm legitimidade natural, enquanto associados.

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