“Não houve nenhuma complacência” a afastar Salgado do BES, diz Carlos Costa

Carlos Costa recusa conclusões “deslocadas” do relatório Costa Pinto. Diz que agiu a tempo e que “não houve nenhuma complacência” no afastamento da família Espírito Santo da administração do BES.

Carlos Costa atacou as conclusões “deslocadas” do relatório Costa Pinto, que concluiu que o Banco de Portugal poderia ter atuado mais cedo e de forma mais enérgica no BES. O antigo governador considera que agiu atempadamente em todo o processo e disse que “não houve nenhuma complacência” no afastamento da família Espírito Santo da administração do BES.

“Os oito capítulos do relatório são bons capítulos, a única coisa que está deslocada são as conclusões. As conclusões não correspondem ao capítulo oitavo que é o das condicionantes legais e também não correspondem às recomendações”, afirmou Carlos Costa esta segunda-feira na comissão de inquérito ao Novo Banco, abordando o relatório elaborado por João Costa Pinto, que fez uma avaliação crítica da atuação do supervisor na queda do BES.

O ex-governador apontou um “problema de consistência interna” no relatório. Há coisas que não batem certo, acrescentou: “Uma de duas: ou as conclusões são feitas a partir de um enquadramento legal existente e então as recomendações não têm sentido porque o enquadramento legal já integrou. Ou o enquadramento legal suporta as recomendações e então é porque o enquadramento legal é insuficiente, como está demonstrado no capítulo oitavo”.

Carlos Costa também disse ter agido logo quando entrou para o cargo de governador do Banco de Portugal, em 2010. “Eu tomei posse a 10 de junho, no dia 9 de julho o banco foi obrigado a fazer supervisão e apresentação de contas a nível consolidada. Essa foi uma das fases mais tensas no relacionamento do Banco de Portugal com o BES”, recordou.

Em relação ao afastamento de Ricardo Salgado do BES, Carlos Costa disse que “não houve complacência” nesta matéria. O que houve foi “rigor na constituição de provas” porque “não basta ter sentimentos” neste tipo de decisões. Até porque: “A reputação de Ricardo Salgado no mercado era superior à reputação que tinha dentro do Banco de Portugal”.

“Se o dr. Costa Pinto tivesse falado comigo…”

Carlos Costa recusou a ideia de que havia uma “relação epistolar” entre Banco de Portugal e BES, adiantando que chegou a ter várias reuniões presenciais com Salgado. E voltou com mais críticas a Costa Pinto.

Se o dr. Costa Pinto tivesse tido o cuidado de falar comigo, saberia que com o Dr. Salgado tive seguramente 15 reuniões, o que significa que não tinha uma postura epistolar. Essas reuniões foram sempre muito injuntivas, desde logo a primeira em final de junho [de 2010], quando lhe indiquei que passaria a ter uma supervisão consolidada. Se o dr. Costa Pinto tivesse tido o cuidado de falar com as direções perceberia que se há matéria de que me prezo é ter introduzido uma grande proximidade entre o conselho de administração e os serviços”, disse.

Carlos Costa não se ficou por aqui: “Se o dr. Costa Pinto tivesse tido o cuidado de falar comigo, saberia que o afastamento de Ricardo Salgado e família foi resultado de reuniões presenciais. A relação epistolar existe mas é necessária por uma questão de segurança administrativa. Eu não posso comunicar ao Dr. Ricardo Salgado que vai passar a ser supervisionado em base consolidada sem depois enviar uma carta onde está aquilo que lhe comuniquei pessoalmente”.

Mais à frente da audição, o ex-governador deixou dois lamentos em relação a este tema: que Costa Pinto “não tenha tido tempo para fazer o contraditório” e que “não tenha havido condições para elaborar uma edição publicável” e sem estar sujeita ao dever de segredo.

(Notícia atualizada às 18h15)

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