Luz, gás e gasóleo. Quanto gasta por ano cada português?

De acordo com o INE, a fatura energética das famílias ronda os 2.300 euros por ano. O Governo diz "não ser este o momento oportuno para extrair conclusões".

Eletricidade, gás e gasóleo. Tudo somado, ao final de um ano dá uma fatura de 2.300 euros. Os dados são do Inquérito ao Consumo de Energia no Setor Doméstico 2020, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, que revela também que os portugueses consomem hoje menos 30% de energia do que há 10 anos. No entanto, a fatura que pagam ao fim do mês pela eletricidade, o gás e os combustíveis para abastecer o carro é 4,4% mais mais cara.

Somando parcela a parcela, e para uma família que tenha um carro a diesel (1.253 euros por ano em combustível), que pague conta de eletricidade (751 euros/ano) e de gás natural (296 euros/ano), a fatura de energia ascendeu em 2020 para os 2.300 euros. Caso o automóvel familiar seja a gasolina, a parcela alocada aos combustíveis desce para 765 euros por ano.

Mas se a casa onde moram tiver gás canalizado (386 euros/ano) ou de botija (242 euros/ano), lareira a lenha (248 euros/ano) ou salamandra a pellets (281 euros/anos) para o aquecimento no inverno, a fatura com energia dispara.

Dentro de casa, a eletricidade é a energia mais comum em Portugal (46,4%), seguida da biomassa (18,4%) e gás natural (12,4%). Por seu lado, 12,2% dos portugueses usam botija de gás, 4,4% gás canalizado, 4,1% gasóleo para aquecimento (a energia mais cara de todas, a custar 992 euros/ano) e apenas 2,1% solar térmico.

O inquérito do INE revela que em 2020 despesa global com energia por alojamento em Portugal foi em média de 1.925 euros, já incluindo a despesa com combustíveis dos transportes. Da última vez que este inquérito foi feito, em 2010, os portugueses gastavam por ano 1.843 euros em energia, ou seja, menos 82 euros. Mas consumiam 30% mais energia. Numa década, o gasto energético por alojamento caiu 355 toneladas equivalentes de petróleo, diz o INE.

Questionado pelo ECO/Capital Verde sobre o tema — como se explica afinal que os consumidores gastem hoje menos energia e paguem mais por ela? — fonte oficial do Ministério do Ambiente e Ação Climática disse apenas “não ser este o momento oportuno para extrair conclusões quanto aos dados apresentados, atendendo a que se trata de resultados preliminares do Inquérito ao Consumo de Energia no Setor Doméstico, não havendo ainda uma versão final”.

Fatura dos combustíveis pesa quase metade nos gastos anuais com energia

Neste raio-X aos hábitos de consumo de energia nas habitações, algo que já não acontecia há 10 anos, o INE descobriu que o consumo total de energia no setor doméstico foi de quase cinco milhões de toneladas equivalentes de petróleo em 2020, com o consumo de energia nos veículos utilizados no transporte individual dos residentes no alojamento a representar 45,6% do total. Em 2010 esta percentagem ascendia a 50,6%.

Nos transportes, “o gasóleo continuou a ser o principal combustível utilizado nos veículos, tendo-se reduzido o peso da gasolina”, diz o INE. Em 2020 o gasóleo teve um peso superior a 70% (63,8% em 2010), enquanto a gasolina se ficou pelos 29,3%, diminuindo face aos 36% de 2010.

Por ano, a fatura das famílias com gasóleo ficou no ano passado em 1.253 euros, e em 765 euros para a gasolina.

De acordo com um relatório recente da Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE), “os preços médios de venda ao público estão em máximos de dois anos, em todos os combustíveis” e tem-se assistido a um diferencial cada vez mais elevado entre os valores de referência calculados pela entidade fiscalizadora do mercado de combustíveis e o de venda ao público.

Esse diferencial começou a aumentar com o primeiro confinamento, em 2020, mantendo-se desde então. A margem supera os 20 cêntimos por litro tanto na gasolina como no gasóleo, num contexto de agravamento dos preços do petróleo a nível internacional. A ENSE afasta culpas à fiscalidade, apontando como explicação o aumento da margem das gasolineiras.

Depois disso, o Governo já veio anunciar que vai fixar por portaria a margem máxima de comercialização dos combustíveis, para “garantir que nunca terão subida excessivas” e o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Matos Fernandes, acusou mesmo as petrolíferas de operarem em oligopólio informal.

Por seu lado, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, veio dizer que faz mais sentido o Governo apostar na redução do preço da eletricidade do que gastar recursos públicos na redução do preço dos combustíveis, até porque aí tem menos capacidade de intervenção.

O governante disse que as empresas e as famílias portuguesas têm gastos energéticos tanto em eletricidade como em combustíveis e que o importante é que “o Governo se empenhe em reduzir custos energéticos” em termos genéricos. “Interessa pouco se poupam um euro no combustível ou na eletricidade, desde que poupem na fatura global”, defendeu

O Inquérito ao Consumo de Energia no Sector Doméstico (ICESD), atualmente na 4ª edição, ocorreu anteriormente em 1989, 1996 e 2010.

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