“Dialogar” com os talibãs será necessário para preservar progressos de 20 anos, diz Merkel
Angela Merkel disse que a comunidade internacional deve continuar "a dialogar com os talibãs”, de forma a preservar os progressos alcançados ao longo dos últimos 20 anos no Afeganistão.
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou esta quarta-feira que a comunidade internacional deve continuar “a dialogar com os talibãs”, de forma a preservar os progressos alcançados no Afeganistão durante os 20 anos da operação militar da NATO naquele país.
“O nosso objetivo deve ser preservar tanto quanto possível as mudanças que alcançámos ao longo dos últimos 20 anos no Afeganistão”, disse Merkel, numa intervenção diante dos deputados da câmara baixa do parlamento alemão (Bundestag).
“A comunidade internacional deve também falar com os talibãs sobre isso”, prosseguiu a chanceler alemã, num momento em que os Estados Unidos da América (EUA) já confirmaram que mantêm o dia 31 de agosto, a próxima terça-feira, como prazo para a retirada total das tropas norte-americanas do Afeganistão, país controlado pelos radicais islâmicos desde o passado dia 15 de agosto.
No parlamento alemão, Merkel frisou que os talibãs são “uma realidade no Afeganistão”.
“Esta nova realidade é amarga, mas devemos enfrentá-la”, sublinhou.
Citando os progressos alcançados no Afeganistão desde 2001 [ano do início da intervenção das forças militares estrangeiras no país], a chanceler alemã salientou que “quase 70% dos afegãos têm agora acesso a água potável, quando eram apenas 20% há 20 anos”.
Merkel destacou igualmente que a mortalidade infantil no país diminuiu para metade nas últimas duas décadas.
“Na História, muitas coisas precisam de um longo fôlego”, disse Merkel, que deixará a liderança da Alemanha no outono, acrescentando: “É por isso que não devemos esquecer o Afeganistão e não o esqueceremos”.
“Continuo firmemente convencida de que nenhuma violência, nenhuma ideologia pode parar a aspiração à justiça e à paz“, reforçou.
Na mesma intervenção, Merkel falou sobre o processo de retirada em curso de cidadãos ocidentais e afegãos do país da Ásia Central, declarando que o término da atual ponte aérea com o Afeganistão, igualmente estabelecido para a próxima terça-feira, não deve ser o fim dos esforços para retirar do país as pessoas que necessitam de proteção.
“O fim da ponte aérea em poucos dias (…) não pode ser o fim dos esforços para resgatar todas as pessoas que precisam de proteção”, frisou a líder alemã, avançando que representantes de Berlim têm mantido contactos com os talibãs para tentar facilitar a saída do país de colaboradores locais.
Diante dos deputados alemães, Merkel destacou que a operação de retirada em curso deveria continuar “tanto quanto possível” para “possibilitar a saída” do Afeganistão a todos os afegãos que se posicionaram pela democracia, pelo Estado de Direito e pelo desenvolvimento e que agora, por esse motivo, se sentem ameaçados pelos talibãs.
A chanceler disse ainda que, neste momento, todas as “forças” e “atenções” estão voltadas para a operação de retirada alemã, no âmbito da qual mais de 4.600 pessoas de 45 países, “quase metade delas mulheres”, deixaram o Afeganistão, incluindo 3.700 afegãos.
Após uma ofensiva relâmpago, os talibãs tomaram Cabul no passado dia 15 de agosto, o que assinalou o seu regresso ao poder no Afeganistão, 20 anos depois de terem sido expulsos pelas forças militares estrangeiras (EUA e NATO).
Foi o culminar de uma ofensiva que ganhou intensidade a partir de maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e dos seus aliados da NATO, incluindo Portugal.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Desde que os talibãs entraram na capital afegã, milhares de pessoas têm convergido para a zona do aeroporto internacional de Cabul para tentar sair do país antes de 31 de agosto.
Depois de terem governado o país de 1996 a 2001, impondo uma interpretação radical da ‘Sharia’ (lei islâmica), teme-se que os radicais voltem a impor um regime de terror, nomeadamente ao nível dos diretos fundamentais das mulheres e das raparigas.
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