Conheça o Facebook, o novo regulador financeiro

  • Bloomberg
  • 11 Fevereiro 2017

Talvez não seja tão mau assim ter algoritmos como mestres -- pelo menos quando eles são estimulados a proteger as pessoas em vez de as explorar.

No início da semana, o Facebook anunciou que vai deixar de permitir que alguns anunciantes levem a cabo seleções raciais. Na prática, a medida proíbe que anúncios a serviços de crédito, imobiliários e de emprego utilizem as categorias de “afinidade étnica” — perfis de marketing que se correlacionam com a etnia — para direcionar a mensagem para o público que mais poderá ter interesse em recebê-la.

A decisão não acontece da noite para o dia. Primeiro, a rede social foi pressionada por uma investigação da ProPublica, realizada em outubro passado, no qual a organização conseguiu incluir no Facebook um anúncio imobiliário excluindo categorias afins às minorias. O acontecimento gerou uma ação judicial na qual o Facebook é acusado de violar leis dos EUA relativas à habitação justa e aos direitos civis.

O interessante é que os anúncios de educação, como os de universidades privadas conhecidas por se concentrarem em afro-americanos pobres, foram deixados de fora da nova política. Isto acontece possivelmente porque não existe uma lei federal contra este tipo de seleção. Sendo assim, o Facebook está a começar a atuar como um regulador privado, perseguindo atividades ilegais.

Uma história parecida pode ser contada a respeito do Google que, em 2016, anunciou que eliminaria anúncios sobre empréstimos com desconto e, desde então, reportou a eliminação de 1,7 mil milhões desses “maus anúncios”, incluindo cinco milhões da categoria escolhida. Ou seja, o Google também assumiu o papel de polícia.

Este pode ser um avanço desejável, especialmente face ao crescente receio de que o governo do presidente Donald Trump possa colocar entraves ao trabalho do Escritório de Proteção Financeira ao Consumidor, a agência federal encarregada de proteger a população americana de predadores financeiros. Mas o assunto também levanta algumas perguntas difíceis.

Primeiro, o Google e o Facebook usam algoritmos para selecionar os anunciantes. Essas regras informáticas impedirão que os maus anunciantes consigam enganar os sistemas de seleção?

Outro possível problema está relacionado com o facto de o governo transferir a tarefa de regulação para empresas privadas, fazendo com que os órgãos federais percam poderes, tornando-se incapazes de cumprir suas tarefas, mesmo que um novo governo queira ativá-los. Isto é problemático porque as empresas privadas, em última análise, não têm responsabilidades perante a população e oferecem pouca transparência.

Se Trump optar por reduzir a proteção aos consumidores, esta pode ser a melhor saída possível.

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