Cavaco desconfiava das “boas notícias” de Sócrates
"Hoje tenho boas notícias." Era assim que José Sócrates começava muitas vezes as reuniões com Cavaco Silva. Mas o antigo Presidente diz, no seu livro, que "as palavras não se conformavam à realidade".
Cavaco Silva diz que começou a olhar desconfiado para as “boas notícias” que o então primeiro-ministro José Sócrates trazia sempre que se juntavam no Palácio de Belém para as reuniões semanais. Na pré-publicação do livro do antigo Presidente da República, que será apresentado na próxima semana, Cavaco refere que, ao longo do tempo, as palavras não se conformavam à realidade dos factos.
“Hoje tenho boas notícias.” Era assim que José Sócrates começava muitas vezes as reuniões de quinta-feira com Cavaco Silva — que foram ao todo 188, segundo a pré-publicação que está disponível na edição deste sábado do semanário Expresso (acesso pago). Depois, o ex-primeiro-ministro “avançava com os números sobre a execução orçamental, o investimento, as exportações, o turismo ou outros dados económicos. Demorou pouco tempo até eu perceber que se tratava de uma tática de abertura de diálogo. Frequentemente, as palavras não se conformavam à realidade dos factos”.
"Nos primeiros anos, foram muitas as vezes em que começou por me afirmar: Hoje tenho boas notícias. E avançava com números sobre a execução orçamental, o investimento, as exportações, o turismo ou outros dados económicos. Demorou pouco tempo até eu perceber que se tratava de uma tática de abertura do diálogo.”
Resultado? “Passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’ do primeiro-ministro”, diz Cavaco Silva, no seu livro intitulado “Quinta-feira e Ouros Dias”, que regista as memórias enquanto ocupou o cargo de Presidente da República e que vai para as bancas na próxima quinta-feira.
No livro, Cavaco Silva diz que o primeiro-ministro vinha, de forma geral, preparado para as reuniões. E tomava normalmente a iniciativa da conversa. “Notava-se que tinha pensado no que me queria dizer e que procurara antecipar as questões que eu lhe poderia colocar.”
Mas Pedro Passos Coelho já era diferente. Cavaco Silva nota que o primeiro-ministro que sucedeu a José Sócrates, “apresentava-se geralmente sem uma preparação específica para as reuniões. Na maioria das vezes, esperava que fosse eu a abrir os temas que queria abordar e tinha tendência para se alargar nas respostas”, o que tornava as reuniões mais longas em comparação com Sócrates.
Mas as diferenças não ficavam por aqui. “Contrariamente a José Sócrates, nunca alterava o tom de voz, exibia uma permanente tranquilidade e era diligente no envio da informação que lhe solicitava”, diz Cavaco Silva, e “quando não tinha conhecimento completo do assunto, dizia-o abertamente”.
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