Aumento do preço da energia nas faturas é “inevitável”, dizem comercializadores
A Iberdrola, por exemplo, admite que "a manter-se este cenário de elevada pressão nos preços grossistas, teremos de reflectir ajustes mediante uma revisão de valores".
O preço da eletricidade não para de aumentar no mercado grossista ibérico, tendo chegado já acima dos 140 euros por MWh esta quinta-feira. Em Portugal, as atenções voltam-se agora para a ERSE, para saber qual será a proposta tarifária para 2022 no mercado regulado. Já no mercado livre, onde está a esmagadora maioria dos consumidores portugueses, a questão é saber o que vão fazer as empresas comercializadoras em relação aos seus tarifários de energia: conseguirão manter os preços ou serão forçadas a aumentá-los por causa do Mibel?
Ricardo Nunes, presidente da ACEMEL – Associação dos Comercializadores de Energia no Mercado Liberalizado, garante que “o aumento da componente de energia da fatura é inevitável”.
“Os comercializadores de energia são intermediários de uma matéria-prima. Se ela tem um preço superior no mercado, é natural que os consumidores venham a sentir esse aumento. Quando e como, depende da maturidade do contrato de energia, da estratégia de cada comercializador, e como estão posicionados no mercado”, diz o responsável, sublinhando que as elétricas estão atentas e temem “um efeito de inflação e até perda de competitividade das empresas europeias quando incorporarem estes custos com energia nos seus produtos”.
A defesa do consumidor alertou entretanto o ECO/Capital Verde para o facto de alguns comercializadores de menor dimensão que operam no mercado livre já se terem visto forçados a atualizar os seus tarifários por causa da alta de preços no Mibel. Mas a tendência pode alargar-se a todo o mercado, diz a Deco Proteste.
A prová-lo está a Iberdrola, por exemplo, que tem a terceira maior carteira de clientes em Portugal mas admite desde já, tal como tinha dito em junho, que “a manter-se este cenário de elevada pressão nos preços grossistas, teremos de refletir, na menor medida possível, ajustes mediante uma revisão de valores”.
“A Iberdrola segue uma estratégia de aprovisionamento que protege os clientes durante o período contratual. No início de cada novo período propõem-se novos preços de mercado que contemplam não só o presente como a evolução futura”, admitiu a elétrica espanhola ao ECO/Capital Verde, sublinhando que tanto o segmento empresarial como o residencial “são diretamente afetados pela evolução dos preços grossistas no mercado”.
Do Governo, a Iberdrola espera que “se materializassem as intenções do Executivo de redução da parte não-energia da fatura, indo ao encontro das necessidades dos consumidores”.
Quanto à também espanhola Endesa, a segunda maior operadora a seguir à EDP, diz que “não está a equacionar neste momento uma alteração de preços aos clientes do mercado liberalizado” e que “os clientes que têm um contrato de preço fixo não terão as suas tarifas alteradas”, mas reconhece que o mercado liberalizado já está a viver um importante aumento de preços para aqueles contratos que estão a ser renovados.
“Para combater essa situação, estamos por exemplo a realizar propostas para contratos a vários anos (porque os preços baixam quantos mais anos sejam contratados; é uma fórmula para minimizar o impacto)”, refere fonte oficial da Endesa.
A elétrica espanhola prevê que a situação ainda vai piorar, já que se espera que o preço do gás para a segunda metade deste ano de 2021 seja 60% mais caro do que a média histórica dos 5 anos anteriores (sem considerar 2020 em que o preço esteve nos mínimos, devido à pandemia).
Miguel Checa, CEO da Goldenergy, admite também que “no caso de não existirem medidas, podem incrementar os preços finais da energia aos consumidores”. Na sua opinião, com aumentos dos preços no Mibel “tão constantes no tempo, já não falamos em situações pontuais ou volatilidade, mas sim estruturais, e acabaremos por refletir nas nossas ofertas os preços de mercado pela parte da componente de energia”.
No entanto, lembra que a componente da energia é só aproximadamente um terço do preço final na fatura, existindo “outras partes sobre as quais o Governo tem a previsão de intervir, através de um pacote de medidas, de forma que o incremento do preço da energia seja compensado”.
O CEO da Goldenergy sublinha que “o efeito final só será quantificável quando as tarifas e preços para 2022 sejam definidos pela ERSE”.
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