60% dos empresários acha que PRR não terá impacto no negócio

O Plano de Recuperação e Resiliência tem dominado a agenda política, incluindo a campanha eleitoral, mas um inquérito da CIP indicia que os milhões da Europa não vão chegar às empresas portuguesas.

Seis em cada dez empresários portugueses consideram que o Plano de Recuperação e Resiliência vai ter pouco (28%) ou mesmo nenhum impacto (32%) direto ou indireto nos seus negócios. Só 12% acredita que terá um impacto significativo na atividade das empresas.

A chamada bazuca europeia é o tema que tem ocupado a maior parte da agenda política, incluindo na campanha eleitoral para as autárquicas, mas os empresários e gestores de topo auscultados pela CIP e pelo ISCTE desvalorizam o efeito que terá no terreno. E estão menos confiantes do que na última edição deste barómetro, realizada antes do verão.

Lembrando que o plano foi criado para recuperar a atividade económica e transformar a economia nos vários Estados-membros da União Europeia, Óscar Gaspar, membro da direção da CIP, lamenta que, como mostram os resultados divulgados esta segunda-feira, “aquilo que os empresários sentem é que o PRR não lhes diz respeito, pois dizem que não tem qualquer impacto na sua atividade”.

"Aquilo que os empresários sentem é que o PRR não lhes diz respeito, pois dizem que não tem qualquer impacto na sua atividade.”

Óscar Gaspar

Membro da direção da CIP

O mais recente relatório de monitorização do PRR, que tem dados a 15 de setembro de 2021, mostra que já foram contratualizadas quase metade das verbas. Estão 44 contratos de financiamento assinados – correspondentes a 48% da dotação – e 29 contratualizações em curso.

No entanto, o porta-voz dos patrões portugueses contesta, em conferência de imprensa, que os contratos realizados até agora abrangeram “zero empresas” e “o que vemos é que há uma contratualização com as entidades públicas”. “Em termos de execução pode-se dizer que tem um nível significativo de compromisso e de contratualização, mas o que dizem os empresários é que o impacto vai ser muito reduzido”, critica.

“É uma questão da máxima importância porque a Covid teve um impacto brutal na economia e percebe-se que a recuperação é bastante assimétrica. Portugal é um dos países da UE que só no próximo ano voltará ao nível de 2019. Chegou a hora de virarmos a página e olharmos para o futuro. Não chega apenas sobreviver. É preciso uma política económica robusta”, frisou Óscar Gaspar, lembrando a posição do Conselho Nacional das Confederações Patronais sobre o OE2022, divulgada na semana passada.

Critérios afastam empresas dos apoios Covid

Para essa retoma, os empresários confiam cada vez menos nos programas de apoio lançados pelo Estado português. No início de setembro, 82% dos inquiridos apontaram que ficam aquém ou muito aquém do que necessitam (mais do que os 79% que o referiam em junho), com quase 70% a apontar o dedo à burocracia associada a essas medidas.

Mais: entre os dois terços de inquiridos que disseram não se ter candidatado a medidas de apoio à economia nos últimos três meses, 31% dizem que foi por não preencherem as condições necessárias de elegibilidade e só 21% por não necessitarem dessas ajudas estatais. A CIP fala num “problema de adequação entre a formulação dos apoios e a real necessidade das empresas portuguesas”.

O 17.º inquérito realizado no âmbito do projeto “Sinais Vitais”, desenvolvido em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE e que conta com uma amostra de 355 empresas, revela ainda que só 21% já atingiu um nível de atividade semelhante ao que tinha antes da pandemia. Os preços da energia e a escassez o custo das matérias-primas são “choques inesperados” e podem atrasar a retoma, que 30% acredita acontecerá em 2022, 17% em 2023 e 6% nos anos seguintes.

No capítulo do emprego, a grande maioria (73%) espera manter os postos de trabalho até ao final do ano, enquanto 19% prevê aumentar e 8% reduzir o efetivo.

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