BE humilde nos objetivos luta contra maiorias absolutas e “política velha”
Catarina Martins fez campanha para provar que o BE pode assumir responsabilidades, mas com humildade nos objetivos eleitorais e a esperança de entrar em executivos pela primeira vez.
Para mudar a “política velha” autárquica e contra maiorias absolutas socialistas, Catarina Martins fez campanha para provar que o BE pode assumir responsabilidades, mas com humildade nos objetivos eleitorais e a esperança de entrar em executivos pela primeira vez.
As eleições autárquicas são, tradicionalmente, as mais desafiantes para o BE, com pouca implementação em câmaras – atualmente com 12 vereadores em 11 concelhos – e apenas com uma presidência de um município, Salvaterra de Magos, nas mais de duas décadas de história do partido.
Catarina Martins chegou a esta campanha para transmitir a mensagem que o “Bloco de Esquerda já provou que muda a política autárquica” e, por isso, quer ter “mais força” nas eleições de domingo.
“Muita humildade e muita determinação” é a resposta pronta quando se pede à líder do BE que estabeleça uma meta para a noite eleitoral, tendo ao longo da campanha fixado o objetivo de manter, entre outros, um lugar na vereação em Lisboa ou em Almada e de conseguir a estreia no Porto, onde aliás termina a volta ao país que conta já com mais de três mil quilómetros percorridos em período oficial.
As conquistas e mudanças “para a vida concreta das pessoas” que reclama terem sido conseguidas em Lisboa – resultado do pelouro que o BE assumiu por acordo pós-eleitoral com Fernando Medina em 2017 – foram usadas, diversas vezes, como exemplo daquilo que o partido alcança quando elege vereadores para as câmaras.
Quando a caravana foi para a estrada, já Catarina Martins tinha mostrado disponibilidade para reeditar este acordo com o PS e continuar, assim, a “mudança de paradigma” da cidade, mas foi a meio da campanha, num comício do Largo de São Carlos, no coração da capital, que se ouviu o maior ‘tiro’ às maiorias absolutas socialistas.
“Agora, se nos perguntarem o que queremos fazer nos próximos quatro anos, respondemos que queremos fazer o que ainda não foi feito, porque os últimos quatro anos mostraram que é onde acaba a maioria absoluta do PS que começa a mudança na cidade da Lisboa”, avisou então.
Já em 2017, o BE tinha travado esta batalha contra o poder maioritário dos socialistas – um objetivo cujo falhanço foi admitido na noite eleitoral –, mas em vésperas de nova cruzada negocial sobre o próximo Orçamento do Estado esta aposta ganha especial relevo.
Apesar desta proximidade orçamental, Catarina Martins quis deixar este tema sempre mais ao longe e apenas foi respondendo aos jornalistas sobre a falta de vontade do PS em negociar questões concretas ou os avisos para a intenção do BE discutir orçamento e legislação laboral em paralelo.
Catarina Martins ficou sempre mais livre nos seus discursos para as propostas para acabar com a “política velha” das autarquias e a promessa de uma política nova pela mão do BE com transportes, habitação e alterações climáticas no centro, bem como os apelos ao voto.
Algumas das críticas mais ferozes ficaram para ‘pesos pesados’ como Luís Fazenda, José Manuel Pureza e Fernando Rosas, este último que até rebatizou o PS como “partido da bazuca”, uma crítica reiterada pelo BE ao primeiro-ministro e líder socialista, António Costa, por usar o Programa de Recuperação e Resiliência como arma eleitoral autárquica.
A lógica de campanha seguiu o desenho habitual do BE: a primeira semana mais dedicada a visitas para debater temas concretos e apresentar propostas para as autarquias, enquanto na derradeira semana voltaram as arruadas, os mercados e as feiras.
No contacto com a população, Catarina Martins mantém receções calorosas e reconhecimento popular – até os abraços voltaram depois do interregno pandémico – e houve mesmo desejos expressos de quem espera que “vá para o Governo”.
A questão é que estas eleições são autárquicas e não legislativas, partindo o BE com um desempenho modesto nas últimas eleições que agora tenta defender – apesar de concorrer a menos 12 câmaras do que em 2017 – e depois de umas presidenciais com um mau resultado e o voto contra no último orçamento.
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