“É possível que não consiga comprar tudo” neste Natal, alerta CEO da Arm
CEO da Arm, a gigante dos microprocessadores, antevê um ano difícil no período das compras do Natal. Crise mundial dos "chips" vai gerar escassez de produtos, sobretudo eletrónicos.
Simon Segars iniciou a intervenção na Altice Arena com um número: 53, a quantidade de dias que falta até ao Natal. De seguida, proferiu um aviso: “Se ainda não compraram tudo o que querem, se ainda não adquiriram todos os dispositivos eletrónicos que pretendem, então receio ter de vos desapontar: é possível que não consigam comprar tudo o que pretendem.”
Segars sabe do que fala. É o presidente executivo da Arm, a gigante dos microprocessadores que, ao longo dos últimos 30 anos, vendeu tecnologia que serviu de base à produção de 200 mil milhões de processadores em todo o mundo (dos quais 25 mil milhões somente no último ano, e a crescer). Precisamente, um produto que enfrenta agora escassez global, praticamente desde que a pandemia se instalou.
O problema que este ano poderá condicionar as compras do Natal é, por isso, a “crise dos semicondutores, que tem estado nas notícias ultimamente”, afirmou. Na palestra inserida na Web Summit, Seagers explicou que existe um desacerto “sem precedentes” entre a oferta e a procura de chips no mercado — isto é, há muito mais procura do que oferta disponível.
“Estou nesta indústria há algum tempo e nunca vi uma situação tão extrema como a que se verifica neste momento”, reforçou.
Na Altice Arena, Seagers notou que muitos dos objetos que usamos atualmente no dia-a-dia contêm processadores no interior, que os tornam mais “inteligentes”. “Os chips dão inteligência às coisas comuns. Acrescentam segurança aos carros e aviões. A inteligência artificial é usada para detetar cancro. Mas tudo começa com chips“, disse.
Depois, os equipamentos que já os usavam no passado passaram a incorporar ainda mais processadores atualmente. A título de exemplo, um automóvel comum há dez anos tinha uma centena de processadores. “Agora, um carro elétrico de gama alta tem cerca de 3.000”, contabilizou.
De acordo com Seagers, o setor “é de natureza cíclica”: “muitas vezes há demasiada oferta ou demasiada procura”, mas “nunca foi assim”. Ora, quando a Covid-19 se propagou pelo mundo em março de 2020, as empresas cortaram a produção de chips para produtos que iam ser menos necessários (como os automóveis) e reforçaram a aposta nos processadores para dispositivos eletrónicos como computadores, tablets e telemóveis.
Mas quando a procura por carros retomou este ano, de forma praticamente imprevisível, a produção dos chips não a acompanhou. Nem tinha como acompanhar, argumentou Seagers: “É muito difícil de retomar”, assegurou.
O líder da Arm estimou na Web Summit que o setor vai gastar dois mil milhões de dólares por semana nos próximos tempos para aumentar a capacidade da cadeia de abastecimento. O crescimento deverá ser de 50% nos próximos cinco anos.
São investimentos que terão de ser feitos para garantir que o setor “aprende com esta experiência”. E que para o ano não haja constrangimentos que compliquem a altura mais importante do ano para o consumo.
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