Semapa Next e fundo holandês põem amêijoa de aquicultura no prato

Projeto pioneiro de aquicultura de amêijoa em mar aberto vai chegar aos consumidores portugueses e espanhóis no próximo ano, depois de um investimento de seis milhões na Oceano Fresco.

As primeiras amêijoas de aquicultura do mundo nascem na Nazaré e crescem ao largo de Lagos. Em breve, vão chegar às mesas de Portugal e Espanha, e depois ao resto do mundo, com a nova ronda de investimento da Oceano Fresco, que passará a ter no capital o fundo holandês Aqua-Spark e a Semapa Next, o braço de venture capital da holding da família Queiroz Pereira.

A ronda de investimento de série B vai fazer entrar 6,1 milhões de euros na Oceano Fresco, elevando para 13,5 milhões o capital levantado pela startup da economia azul que deu os primeiros passos em 2015. O dinheiro servirá para criar uma infraestrutura de embalamento, armazenamento e expedição no centro biomarinho da Nazaré, arrancando com a comercialização dos bivalves no próximo ano, primeiro no mercado ibérico e depois noutros países europeus e no sudoeste asiático.

A empresa, que já conta com 23 colaboradores, vai contratar mais 30 pessoas em 2022, a maioria para as áreas de vendas, marketing, logística e operações. Parte delas ficarão no novo escritório no campus de Carcavelos da Nova SBE, que integra o ecossistema de inovação que está a ser criado pela universidade.

“As primeira vendas vão acontecer ainda este Natal, como prova de conceito. A partir da Páscoa já será com maior dimensão”, afirma ao ECO Bernardo Carvalho, que criou a Oceano Fresco depois de vários anos como consultor de gestão no estrangeiro, nomeadamente na Suíça, onde trabalhou com os setores da agrogenética, biotecnologia e farmacêutica.

Partindo do desafio de como alimentar o mundo de forma mais sustentável, foi descartando a agricultura e a pecuária. Virou-se então para o mar. Como os peixes “têm os mesmos problemas da exploração animal, com o uso de jaulas e de antibióticos, fui para os bivalves”, conta. Mais exatamente para as amêijoas, “onde há mais espaço para melhorar”.

A ideia “foi trazer a abordagem das grandes farmacêuticas a um mercado muito fragmentado, primitivo, com uma perspetiva de muito curto-prazo”, continua o CEO da Oceano Fresco. E que, diz, vale 6.000 milhões de euros na primeira venda.

Três trabalhadores e uma volta ao mundo

O projeto começou com a contratação de três pessoas, em 2015, um doutorado em genética, outro em aquicultura e um técnico de aquicultura. Juntos deram quase a volta ao mundo, passando por países produtores e grandes consumidores, como a China, a Coreia do Sul, a Itália, a Espanha ou a Noruega, “para perceber o estado da arte do mercado”.

A primeira ronda de financiamento aconteceu em 2018, com a entrada no capital do fundo português BlueCrow Capital, que permitiu a construção do centro biomarinho na Nazaré, onde é feita a investigação e desenvolvimento e onde é produzida a amêijoa de semente. Seguiu-se a construção do primeiro viveiro de amêijoas em mar aberto do mundo, a três milhas da costa de Lagos, no Algarve.

O viveiro de amêijoa em mar aberto foi instalado em 2020, ao largo de Lagos, no Algarve.

Com capacidade para produzir até 600 toneladas de bivalves por ano, o investimento de 3,1 milhões, que contou também com fundos europeus do MAR2020, recebeu em julho o ministro Ricardo Serrão Santos, que vestiu o fato de mergulhador para visitar o viveiro de cerca de 100 hectares.

A investigação e desenvolvimento tem sido uma das apostas da empresa, que segundo Bernardo Carvalho já investiu entre um e dois milhões de euros em I&D nas áreas da genética e biologia. Além dos recursos internos, tem projetos de colaboração aberta com entidades como o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, o IPMA, a faculdade de Biotecnologia da Universidade Católica no Porto e universidades estrangeiras.

O fundador e CEO da Oceano Fresco salienta a importância dos novos investidores, que colocam três milhões cada um nesta série B. “A Aqua-Spark, um fundo de 200 milhões especializado em aquacultura, nunca tinha investido em bivalves nem em Portugal. Representa um passo importante na profissionalização deste setor. Vai atrair muita atenção para o país”, antecipa Bernardo Carvalho.

Ricardo Pires, CEO da Semapa Next, que será presidente executivo da holding a partir de janeiro, salienta em comunicado que a capital de risco que gere “tem como imperativo endereçar o imperativo da sustentabilidade com soluções escaláveis e economicamente viáveis. A Oceano Fresco está inteiramente alinhada com esta visão, visto que está a trazer a produção de amêijoas para o século XXI através de uma abordagem completamente integrada, escalável, sustentável, e baseada na ciência”.

A Aqua-Spark sublinha que “os bivalves estão bem alinhados com a sua carteira de participadas, na medida em que são uma das proteínas animais com produção mais eficiente e sustentável do ponto de vista da utilização de recursos, requerendo quantidades mínimas de energia e alimento”. Sublinha ainda que as espécies cultivadas estão ameaçadas por apanha excessiva e ilegal no seu estado selvagem, pelo que o projeto da Oceano Fresco ajuda a proteger os ecossistemas naturais.

Este investimento “significa passarmos de uma startup para uma scaleup, para podermos alimentar o mundo com a trilogia mágica dos três ‘s’: sustentável, saudável e saboroso”, aponta Bernardo Carvalho. “É uma comida do futuro. É uma COP26 como devia ter sido.”

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