Alterações à lei laboral são “inoportunas”, avisa CCP
“Consideramos muito negativo que se pretenda reverter um conjunto de avanços feitos em matéria de legislação laboral no período da ‘troika’", disse Ana Vieira, secretária-geral da CCP.
A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) considerou esta terça-feira “inoportunas” as diversas iniciativas de alteração à lei laboral que estão em discussão no parlamento por iniciativa de vários partidos.
Ouvida na Comissão de Trabalho e Segurança Social, Ana Vieira, secretária-geral da CCP, afirmou que, para esta confederação patronal, as iniciativas do PCP de combate à precariedade, bem como as do PCP e do BE sobre a reposição do pagamento do trabalho suplementar, são “inoportunas”, não só pelo contexto político, mas também pelo facto de as empresas continuarem a enfrentar um conjunto de constrangimentos devido à pandemia.
“Consideramos muito negativo que se pretenda reverter um conjunto de avanços feitos em matéria de legislação laboral no período da ‘troika’, nomeadamente em relação ao trabalho suplementar e descanso compensatório”, começou por dizer Ana Vieira, salientando que estas são matérias que devem ser tratadas no âmbito da contratação coletiva.
A Comissão de Trabalho e Segurança Social está a ouvir os parceiros sociais sobre várias iniciativas legislativas no âmbito da legislação laboral, nomeadamente um projeto do PCP que prevê limitações aos contratos a prazo, reduzindo as situações em que uma empresa pode recorrer à contratação a termo, bem como do número máximo de renovações destes contratos, e altera o período experimental, retomando os 90 dias em vigor até à alteração do Código do Trabalho produzida em 2019.
A audição tem também como objetivo discutir iniciativas do BE e do PCP sobre a reposição dos valores de pagamento do trabalho suplementar e o descanso compensatório e várias iniciativas legislativas sobre a alteração do regime de luto parental.
Sá e Mello, consultor jurídico a CCP, acrescentou, por seu lado, que em matéria de trabalho suplementar o que se pretende é regressar ao período anterior a 2012, esquecendo o enquadramento de todas as mudanças que a legislação laboral sofreu desde então.
Relativamente às várias iniciativas sobre o luto parental, que genericamente preveem o aumento de cinco para 20 dias o período de faltas justificadas – com o do PSD a considerar que este passe a ser pago pela Segurança Social –, a CCP lembrou que o atual regime está na lei desde 1976 e que devido ao atual enquadramento se deveria esperar pela próxima legislatura.
Sublinhando a sensibilidade da questão, com a qual todos são solidários, Sá e Mello lembrou que numa microempresa a falta de um trabalhador por um período de 20 dias não é meramente uma questão financeira.
“Os trabalhadores fazem falta às empresas e por isso pedia reflexão deste aumento súbito de cinco para 20 dias”, referiu, recomendando que a questão seja levada à Concertação Social.
Nas suas intervenções, o PS relembrou os objetivos e alcance da Agenda para o Trabalho Digno do Governo e cuja proposta foi enviada para o parlamento, acentuando que “defender o trabalho digno para todos não é utopia”, enquanto o PSD se centrou sobretudo na sua iniciativa sobre o luto parental, que defende que a nova solução não onere as empresas.
Já o PCP afirmou que no trabalho suplementar o que está em causa é “repor direitos” que “foram retirados” em 2012.
Em 2012, com a alteração ao Código do Trabalho então produzida, os trabalhadores passaram a receber, por cada hora de trabalho suplementar, um acréscimo de 25% na primeira hora (em vez dos 50% até aí previstos) e de 37,5% nas seguintes (contra os anteriores 75%).
Em paralelo foi reduzida de 100% para 50% a majoração por cada hora de trabalho suplementar em dia feriado e a eliminação do descanso compensatório nos moldes até aí em vigor.
Em 2015, o corte de 50% no pagamento do trabalho suplementar, do trabalho em dia feriado ou em dia de descanso semanal foi revertido, mas apenas para as situações abrangidas pela contratação coletiva, solução que BE e PCP consideram não ser suficiente por deixar de fora muitos trabalhadores, defendendo a eliminação deste corte para todos.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Alterações à lei laboral são “inoportunas”, avisa CCP
{{ noCommentsLabel }}