“É preciso vontade política para avançar nas cidades inteligentes”, diz o GeSI

  • Fatima Ferrão
  • 19 Novembro 2021

Ambição, visão, diálogo, inovação, parcerias público-privadas e envolvimento de todos os stakeholders são os ingredientes para construir cidades inteligentes. O digital será o facilitador da inovação.

A fórmula parece simples, mas envolve um conjunto de agentes, públicos e privados, que obrigatoriamente têm que trabalhar em prol do objetivo comum de tornar as cidades mais eficientes e sustentáveis, com vista a melhorar a qualidade de vida das populações. Mas, para avançar, “é preciso vontade política”, desafia Luís Neves. Para o CEO do GeSI (Global Enabling Sustainability Initiative), associação empresarial mundial dedicada ao setor das TIC, e que visa responder a um conjunto de desafios globais, a tecnologia existe e tem o poder e a capacidade de ajudar a reduzir as emissões de CO2, “mas é preciso ser implementada”.

O responsável falava durante a sessão de encerramento do Smart Cities Summit, que decorreu esta semana na FIL, em Lisboa, fazendo um apanhado dos três dias de debate, e apelando à mobilização de todos os players que podem fazer a diferença na transformação das cidades tal como hoje as conhecemos. “Esta mudança é urgente e exige políticas integradas que melhorem a vida dos cidadãos”, acrescenta, lembrando que, hoje, 55% da população mundial vive em áreas urbanas e que as previsões apontam para que, em 2050, sejam 78%.

Ao longo do dia estiveram em debate outros temas incontornáveis na construção e gestão das cidades inteligentes, como a água, os resíduos, o ambiente, e a sustentabilidade nos edifícios ou na mobilidade. Não faltou a discussão sobre a importância da descarbonização, essencial para a eficiência energética, das casas ou dos transportes, ou o 5G, o facilitador que chega agora a Portugal, sob a forma de “uma verdadeira disrupção”, como disse Manuel Ramalho Eanes, administrador da NOS.

“Estamos a entrar na era do 5G”

Uma revolução tecnológica, mas também social, é a forma como Manuel Ramalho Eanes classifica a chegada do 5G que terá um impacto em diferentes vertentes da sociedade e da economia. Segundo um estudo do GeSI, o 5G terá um impacto de 15% na diminuição das emissões de CO2 no mundo, permitirá aumentar a produtividade e a produção industrial entre 20 e 30%, e contribuirá para uma redução de 25% no tráfego das cidades. Números que tornam a tecnologia apelativa e que lhe conferem uma possibilidade de implementação global muito elevada.

"O 5G é uma tecnologia que permite criar sociedades e cidades superinteligentes.”

Manuel Ramalho Eanes

Administrador executivo da Nos

Manuel Eanes aponta ainda a vantagem na redução do consumo energético associado às telecomunicações que, gastando menos, terão maior capacidade de oferta e de gestão de serviços. “É uma tecnologia que permite criar sociedades e cidades superinteligentes”, acredita. Basta considerar que tem dez vezes mais velocidade, um décimo do tempo de resposta, e que permite ligar até um milhão de objetos por quilómetro quadrado. A juntar a isso, completa, “a sua super-resiliência é ideal para setores como a indústria ou a saúde, porque a rede ajusta-se conforme o serviço”.

De entre as vantagens diretas para os utilizadores, o administrador da NOS, destaca a possibilidade de otimizar o tráfego, ajudando a gerir a mobilidade nas cidades, a capacidade de otimizar recursos variados para uma maior eficiência nos meios urbanos, criar novos serviços que, entre outras coisas, permitam às pessoas mais idosas manterem-se, de forma segura, nas suas casas até mais tarde, ou facilitar o acesso à cultura.

Melhor mobilidade exige descarbonização

Durante o primeiro estado de emergência, em março de 2020, a quebra na mobilidade foi de 70% na região da Grande Lisboa, revela um estudo da NOS, citado por Pedro Machado, responsável de novos negócios B2B da operadora, que moderou esta tarde o debate sobre “Mobilidade: Transição Progressiva”.

Esta reação a uma situação extrema acabou por provocar uma mudança geral nas opções de mobilidade dos cidadãos. “Num ano alterou-se tudo”, diz Paulo Rodrigues, fundador e CEO da MOB. No fundo, acrescenta Paulo Humanes, “foi a confirmação de que não precisamos sempre do mesmo modo para as deslocações”. O responsável de mobilidade do CEEIA acredita que este foi o primeiro passo para a micromobilidade, na qual a bicicleta desempenha um papel essencial. Agora, revela, o trabalho do centro de investigação será compreender como funciona o ecossistema da mobilidade e de que forma “podemos usar os dados para geri-la da melhor maneira”.

No entanto, para que a intermodalidade entre diferentes formas de transporte possa ser uma realidade, é preciso descarbonizar. Em representação da Galp no debate sobre “Energia – a revolução urbana inevitável”, Teresa Abecassis destacou o trabalho que a empresa tem vindo a desenvolver ao nível da transição energética, com impacto também na oferta de produtos e serviços essenciais nas cidades. “Usar um carro elétrico não pode ser um pesadelo”, aponta, salientando a importância de aumentar o número de carregadores disponíveis nas cidades.

Até ao fim do ano, a Galp tem como meta instalar mil pontos de carregamento em todo o país, número de deverá chegar aos dez mil em 2025. Em simultâneo, a energética está a investir em empresas de tecnologia – como a Go With Flow, na gestão da mobilidade, ou a EI (Energia Independente) para a comercialização de soluções solares -, com vista a ter ‘em casa’ os dados e o conhecimento essenciais para o negócio. “Hoje ninguém tem dúvidas de que o caminho é o da transição energética, da descarbonização, e da eficiência energética”, diz a administradora para a área comercial.

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