Transição ambiental vai onerar “sobretudo os contribuintes”, diz presidente do CFP
O Conselho das Finanças Públicas está a estudar o impacto das transições, estando para "dentro em breve" a publicação de um "relatório, justamente, sobre riscos e sustentabilidade".
A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP), Nazaré da Costa Cabral, alertou esta terça-feira em Lisboa que a transição ambiental terá impactos diretos e indiretos nos países, onerando “sobretudo os contribuintes”.
“Do ponto de vista dos impactos financeiros, [há] impactos diretos e outros mais indiretos, e que vão onerar os países, vão onerar os governos e vão onerar, sobretudo, os contribuintes“, disse Nazaré da Costa Cabral, falando acerca da transição ambiental no Congresso Nacional dos Economistas, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
A responsável referiu, precisamente, que no CFP está a ser estudado o impacto das transições, estando para “dentro em breve” a publicação de um “relatório, justamente, sobre riscos e sustentabilidade”, avaliando “a questão dos impactos para as finanças públicas” que a transição ambiental vai ter.
Já no âmbito da transição digital, numa apresentação que iniciou o debate “PME [Pequenas e Médias Empresas] – Que obstáculos ao processo de crescimento”, Nazaré da Costa Cabral já tinha referido que a “digitalização deve ser encarada pelas PME e pelas empresas em geral como um bom vento de mudança”.
“A digitalização, pela desmaterialização que envolve, pode implicar desintermediação, aceleração dos processos produtivos, redução de custos, incluindo custos de transação e comunicação, mudança nas cadeias de valor, designadamente uma maior facilidade na colocação de bens e serviços junto do consumidor final”, sustentou.
Em reação à intervenção da presidente do CFP, Nuno Santos, presidente executivo da Agência para o Desenvolvimento e Coesão (AD&C), acrescentou que não são só as PME que sentirão as transições digital e climática, mas sim que “há muitas grandes empresas que não vão ser capazes de fazer aquilo”.
Nuno Santos criticou também o discurso dos “centros de decisão nacional”, defendido num painel anterior, afirmando que “o mundo é dos melhores, e os melhores são os que estudam todos os dias, com muita humildade, e quanto mais acima estão, mais estudam”.
O responsável da AD&C afirmou ainda que “os fundos europeus servem para resolver falhas de mercado, e portanto, se as empresas são grandes, saúde-se que não precisam de fundos de coesão, que é assim que eles se chamam”.
Também presente no painel esteve Denise Henriques, investigadora integrada do ICNOVA/Universidade Nova de Lisboa e associada do Também presente no painel esteve Denise Henriques, investigadora integrada do ICNOVA/Universidade Nova de Lisboa e associada do CIES-IUL do ISCTE/IUL, considerou que há “falta de colaboração entre empresas, setores e até instituições, associada a uma certa cultura de improviso, uma falta de planeamento estratégico que também nos caracteriza”, acaba por se traduzir “numa descontinuidade de medidas de política pública, nos setores, e na própria sociedade civil”.
“Isto também se associa a uma certa falta de monitorização e de prestação de contas”, com todos os fatores mencionados a confluírem para “uma escassez de dimensão, de escala, para a internacionalização e um desaproveitamento das redes de cooperação, tanto na diáspora como no mundo de língua portuguesa”, sustentou.
No painel anterior, intitulado “Grandes empresas demasiado pequenas para os mercados globais”, o presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), Luís Miguel Ribeiro, tinha referido que “há uma necessidade de ganhar alguma massa crítica e escala” nas empresas portuguesas, para aumentar a competitividade.
O presidente da AEP referiu também que, atualmente, “o setor financeiro não dá resposta” às necessidades do tecido empresarial português, já que há “cada vez mais microempresas e com menor dimensão, e por isso com projetos diferentes em que o risco está mais presente”, que hoje a banca “não quer assumir”.
Já o economista e gestor Jaime Quesado afirmou também que Portugal continua a ter “índices de qualidade de gestão muito baixos”, havendo “uma ideia na sociedade portuguesa que face aos volumes maciços recebidos no Fundo Social Europeu em diferentes ciclos comunitários”, se tinha “a obrigação de, por um lado ter melhor capacidade de gestão das organizações empresariais”, e também “maior capacitação e qualificação dos técnicos e trabalhadores”.
No entanto, Jaime Quesado já tinha afirmado que os fundos europeus “tiveram um papel muito importante” na “modernização tecnológica das empresas”, referindo que se hoje Portugal tem “empresas têxteis de nova geração e metalomecânica liderante em termos de posição internacional”, o deve “muito” aos fundos comunitários.
Por seu lado, António Gomes Mota, presidente não executivo da EDP Renováveis, afirmou que o “nó górdio” em termos de qualidade de gestão está mais nas pequenas empresas e não nas médias, já que as últimas “já estão a seguir um trilho relativamente diferente”.
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