Acordo entre PS e PSD pós-eleições seria positivo “se levar a reformas”, diz Poul Thomsen
O ex-chefe da missão do FMI em Portugal considera que um acordo entre os dois maiores partidos pode ser positivo se levar às reformas estruturais que a economia portuguesa precisa.
É um “sim” condicional. Questionado pelo ECO sobre se uma coligação entre o PS e o PSD seria positivo para a economia portuguesa, o ex-chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal, Poul Thomsen, afirma que sim, mas só “se levar a reformas” estruturais que o país precisa. O economista dinamarquês aproveita para elogiar a noção de interesse nacional dos partidos portugueses.
Em entrevista ao ECO publicada esta terça-feira, Poul Thomsen, que esteve recentemente em Portugal a apresentar um paper sobre os desafios da economia europeia, reconhece que há méritos num acordo entre os dois maiores partidos na medida em que é a forma de se fazer mudanças estruturais que não revertidas pouco depois.
“Espero que essa grande coligação que referiu possa levar a reformas, mas não sei se levará“, acrescenta Thomsen com ceticismo. Em causa está a hipótese de o PS e o PSD se unirem num acordo após as eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro, caso não haja maioria absoluta. O PSD já mostrou abertura para que tal aconteça, mas do lado do PS há apenas alguns sinais discretos, preferindo pedir aos portugueses uma “maioria estável”. Ambos rejeitam a ideia de um bloco central, ou seja, de um Governo com ministros de ambos os partidos.
E que reformas devia Portugal fazer? O ex-quadro do FMI e atual professor da London School of Economics começa por dizer que “não há uma solução que encaixe em todos os países“. Ressalvando que não segue o debate económico em Portugal “em detalhe”, Poul Thomsen dá dois exemplos: aumentar a concorrência de setores como a energia onde os custos ainda são elevados e melhorar a educação vocacional para reduzir a lacuna de conhecimento na força de trabalho.
O economista dinamarquês aproveitou esta questão para deixar um elogio aos políticos portugueses. “A razão mais importante pela qual o programa em Portugal foi bem-sucedido passou pela elite política unir-se à volta do programa” de ajustamento, garante o ex-chefe da missão do FMI em Portugal, comparando o caso português com o da Grécia.
"Os políticos portugueses do mainstream perceberam que Portugal estava perto do abismo e que era a altura de deixarem de lutar entre si e unirem-se.”
“Um ano antes, tinha estado a negociar na Grécia e vi como o programa grego colapsou porque os dois partidos principais estavam a lutar entre si, de forma populista, mesmo com o país perto do abismo”, recorda, lembrando que quando chegou a Portugal “a primeira coisa que dissemos ao Governo socialista é que queríamos também o acordo dos social-democratas”. Na altura, foi Eduardo Catroga quem negociou o resgate da parte do PSD já liderado pelo que viria a ser o primeiro-ministro que executou o programa, Pedro Passos Coelho.
Poul Thomsen relembra que “tinha reuniões paralelas com os dois partidos e na última noite antes do acordo fizemos questão de ter a certeza de que havia consenso amplo”, o que “significou que quando houve mudanças no Governo meses depois a implementação do programa continuou”.
“Os políticos portugueses do mainstream perceberam que Portugal estava perto do abismo e que era a altura de deixarem de lutar entre si e unirem-se”, conclui, rematando que “isso diz bastante da noção de interesse nacional” que existe no país e nos partidos políticos.
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