Santander admite ligeira subida do custo de financiamento para as empresas
Administrador diz que “há algum espaço para as Euribor poderem subir”, mas afasta “impacto significativo” nas empresas. Consultora da EY defende que consolidação na banca é "necessária e importante".
Miguel Belo de Carvalho, administrador executivo do Santander Portugal, vê “alguma negação em torno do tema da inflação, que é um dos principais riscos” atuais e que os bancos centrais estão a gerir com “muitíssimo cuidado”, mas considera que “há muitas variáveis que estão a ir no mesmo sentido e há um risco claro de haver uma necessidade de alteração da política de taxa de juro”.
E os custos de financiamento vão subir no próximo ano? “A Euribor está ainda em terreno negativo. Grande parte do próprio financiamento às empresas tem um floor no zero. Haverá aqui algum espaço para as Euribor poderem subir, mas sem um impacto significativo no custo financeiro das empresas. Mas estou convencido que as subidas serão residuais, pelo menos num horizonte de um a dois anos”, respondeu.
Haverá uma estabilização dos spreads em níveis que são aceitáveis, tendo em conta as condições de liquidez e de capital disponível também para financiar a economia.
Relativizando esse possível agravamento ligeiro das condições do crédito às empresas pela existência de “muita liquidez e capital disponível” no mercado, Miguel Belo de Carvalho perspetivou ainda que “haverá uma estabilização dos spreads em níveis que são aceitáveis, tendo em conta as condições de liquidez e de capital disponível também para financiar a economia”.
O gestor do Santander Portugal interveio esta terça-feira durante a 4.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO no Palácio da Bolsa, no Porto, onde considerou que, face à crise financeira iniciada em 2008, quando a pandemia surgiu, as empresas nacionais estavam “financeiramente mais saudáveis, capitalizadas e com mais capacidade de resiliência”. E desvalorizou o impacto das moratórias de crédito – “os sinais são positivos e não revelam grande preocupação” -, embora o banco tenha de “continuar vigilante”.
Falando numa “fase histórica da economia” em que “nunca houve tanto capital disponível”, associada a um ciclo longo de taxas de juro coladas ao zero, o administrador do Santander diz que isso “potenciou enormemente a diversificação e a migração do capital para muitos setores de atividade” em Portugal. Não só o imobiliário, mas também noutros com “negócios saudáveis e capacidade para crescer no futuro”, descrevendo “uma procura muito grande por investimento em ativos reais e em empresas que geram rendimento e EBIDTA de 15%, 20%, 25%”.
Rita Costa, responsável pelos serviços de consultoria financeira da EY, avisou na mesma conferência que “a circulação do capital também deve ter inovação”. Lembrou alguns projetos que têm atraído bancos estrangeiros para Portugal, como os franceses BNP Paribas ou a Natixis, mas notou que “ao mesmo tempo parece que não temos capacidade de dar o retorno na mesma proporção” e falta uma “estratégia alinhada para pôr este capital a funcionar e a render mais”.
Consolidação na banca não só é importante como é necessária. O nosso espaço financeiro é demasiado pequeno para a quantidade de bancos que temos
Já sobre a importância de haver também uma maior consolidação no setor da banca em Portugal, a consultora da EY mostrou não ter qualquer dúvida. “Não só é importante como é necessário. O nosso espaço financeiro é demasiado pequeno para a quantidade de bancos que temos. Incluindo os grandes? Os pequenos e os médios bancos, tirando algumas exceções, na nossa perspetiva, não vão ter condições de competitividade para continuarem sozinhos”, finalizou Rita Costa.
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