Resoluções de conforto térmico para 2022
Sabendo que praticamente 50% do consumo de energia final é utilizado para aquecimento e arrefecimento, dos quais 80% são utilizados em edifícios, o potencial de descarbonização deste setor é enorme.
Com a chegada do Ano Novo, priorizamos resoluções mentalmente, mas são raras as pessoas que colocam a climatização e o conforto térmico da sua habitação como uma das suas prioridades. Sem que nos apercebamos acabamos por deixar para o fim da tabela o conforto da nossa casa e família, ao mesmo tempo que adiamos o nosso contributo para um planeta mais verde e um meio para reduzir a nossa fatura energética.
É certo que tornar a nossa casa mais confortável acarreta algum investimento, que teimamos em ver como um “custo”. Mas se olharmos para estes investimentos como “desafios psicológicos”, vamos rapidamente perceber que seremos compensados com poupança na fatura energética de aquecimento.
A regulamentação pode oferecer um empurrão na direção certa… Há mais de 40 anos que a Suécia iniciou uma política ambiciosa para substituir as caldeiras a combustível fóssil por bombas de calor. Na Europa, os Países Baixos vão dizer adeus ao gás, o governo francês está a estimular alternativas às caldeiras a gasóleo, a Finlândia tenciona ser neutra em carbono até 2035. O sul da Austrália proibiu o aquecimento a gasóleo em edifícios novos.
Por cá, o “Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis” do Fundo Ambiental permite apoios, que são realmente importantes, mas insuficientes. Além disso, o processo é bastante complexo e extenso e conduz a que os incentivos sejam utilizados em grande proporção pelo consumidor que já tem capacidade financeira e que, mesmo sem esse incentivo, muito provavelmente já iria fazer este investimento.
Com o incentivo a ser insuficiente para motivar o consumidor, é natural que este continue a utilizar o seu simples aquecedor elétrico para aquecer o ambiente do seu agregado familiar, o cilindro para produção de Águas Quentes Sanitárias, e não sinta o benefício. Por outro lado, temos o que podemos considerar de pobreza energética e a cultura do frio, em que o programa PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) propõe o “Vale Eficiência” para famílias economicamente vulneráveis. Com um valor relativamente baixo, o “Vale Eficiência” nem sempre permite avançar para uma solução energeticamente eficiente e com o devido conforto, até porque, por diversas vezes, os sistemas de climatização e renovação do ar são catalogados por ambientes de “luxo”, optando as famílias por aumentar as camadas de roupa, no inverno, e ventilação natural durante a noite, no verão.
Estes são alguns dos paradigmas a ultrapassar e que se deparam com uma falta de sensibilidade no que é necessário investir para obter o real resultado. Por outro lado, deveria ser possível avaliar cada processo referente a cada família e dispor dum conjunto de medidas, em que as entidades certas fariam o seu levantamento, análise, implementação, fiscalização e acompanhamento, mediante a tipologia / necessidade de cada agregado, de forma a proteger o projeto.
Os edifícios novos ou reabilitados têm necessidades completamente distintas e o problema poderá persistir se o respetivo equipamento instalado não for o apropriado. É fundamental que o proprietário perceba que deve recorrer a entidades especializadas, que possam primeiramente auditar o edifício ou habitação, identificando patologias e propondo soluções que se adequem às necessidades, protegendo-o de certa forma.
Sabendo que o parque imobiliário europeu é responsável por aproximadamente 36% de todas as emissões de CO2 na União Europeia, que praticamente 50% do consumo de energia final é utilizado para aquecimento e arrefecimento, dos quais 80% são utilizados em edifícios, o potencial de descarbonização deste setor é enorme.
Alcançar o compromisso ambiental ao qual Portugal se propôs está nas mãos das entidades reguladoras e também de cada um de nós, nas nossas casas. Tenhamos a vontade de concretizar a resolução e 2022 poderá ser o ano de viragem na climatização das nossas casas e, consequentemente, na poupança energética.
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