BRANDS' TRABALHO Portugal, um país Unicórnio. O que nos falta?
Tânia Ribeiro, Senior Manager EY, People Advisory Services, fala das apostas que Portugal deve fazer para investir no futuro e tornar-se cada vez mais competitivo.
Em tempo de eleições, muitas contas e análises têm sido feitas sobre o país. Gerámos cinco unicórnios nos últimos anos. O que, considerando a dimensão do país, é um feito assinalável. No entanto, outros números ilustram um país diferente. Olhando para as últimas duas décadas, a nossa economia foi a terceira mais lenta da zona euro. Fomos ultrapassados, em termos de riqueza média, por países dentro e fora da Europa. A nossa dívida aumentou, a produtividade é inferior à que tínhamos há 20 anos e o salário médio em Portugal é o quarto mais baixo da UE.
As causas
O Global Competitiveness Index do World Economic Forum identifica áreas onde não somos competitivos: qualificações dos trabalhadores, baixa mobilidade interna do trabalho, gestão e cultura empresarial, complexidade de impostos e tarifas, eficiência do sistema legal na resolução de conflitos. Adicionalmente, outros aspetos já estão há muito identificados, tais como: estrutura produtiva especializada em produtos de baixo valor acrescentado e reduzida tecnologia, competição em mercados internacionais através de preços baixos, tecido empresarial caracterizado sobretudo por PME (gestão pouco profissionalizada e menos produtivas), falta de investimento estrangeiro, dificuldade de acesso a linhas de financiamento, mercado interno de pequena dimensão, e universidades que não preparam para competências fundamentais no mercado.
Soluções possíveis
O importante agora é, compreendendo o contexto, investir no futuro. Existem medidas estruturais importantes e sobejamente discutidas, tais como, reduzir a carga fiscal, aumentar eficiência do sistema jurídico, atrair investimento estrangeiro de qualidade, gerir de forma mais eficiente as contas públicas, aumentar o investimento público em atividades produtivas.
"É essencial que cada português acredite. (….) É necessário acreditar em unicórnios para nos transformarmos num.”
Para além disso devemos apostar em:
- Inovar e gerar valor acrescentado. Com os desafios que a pandemia trouxe, ficou claro a necessidade de apostar na reindustrialização da Europa. Portugal deve capitalizar essa oportunidade, investindo e modernizando o setor, com recurso à tecnologia, ciência e inovação, para gerar produtos de maior valor acrescentado. A componente intangível associada ao setor dos serviços, com soluções diferenciadoras, digitais e experienciais, será também uma boa oportunidade de construir valor. Áreas de futuro, como a energia verde ou a economia do mar, são setores estratégicos onde o país se deve posicionar.
- Profissionalizar PME. Ao terem um peso substancial no nosso tecido empresarial (as grandes empresas não chegam aos 0,8%), não conseguimos fazer a transformação desejada, sem apoiar as PME. Deve ser criada uma academia especializada que promova a profissionalização das equipas de gestão, faculte acesso a informação, conhecimento e tecnologia, e a participação em fóruns de discussão. O acesso a linhas de crédito e a redução da carga fiscal são também aspetos críticos.
- Construir dimensão através de redes. As nossas empresas têm uma dimensão reduzida, mas podem associar-se para ganhar escala, eficiência e acesso a canais, tecnologias, I&D, capitais e mercados internacionais, que lhes estão vedados à partida. Projetos colaborativos, uma cadeia de valor bem montada e uma rede robusta e profissional, potenciando associações já existentes, vão alavancar oportunidades.
- Ganhar escala em mercados internacionais. Num mundo global, a dimensão do mercado interno não deve ser uma barreira ao crescimento económico. Se apostarmos na inovação e em produtos e serviços de maior valor acrescentado, se construirmos uma rede robusta onde as nossas empresas se encontrem associadas, conseguimos alterar o nosso posicionamento competitivo, ganhando quota de mercado não pelos preços baixos, mas por uma oferta diferenciadora e de qualidade.
- Qualificar talento. As qualificações dos portugueses aumentaram, mas tal não se refletiu na produtividade nacional. Porquê? Os programas ministrados pelas universidades estão desajustados das necessidades do mercado. Projetos ambiciosos que liguem universidades e empresas, criando aceleradores de competência e ideações de projetos, são essenciais (e já temos alguns bons exemplos). Mesmo nas grandes empresas, que investem na qualificação, existe um gap no que se refere às competências de futuro e novas formas de trabalhar. Para fazer a transformação necessária, é essencial fazer evoluir a cultura organizacional e os key drivers, e apostar em programas disruptivos de desenvolvimento de talento.
Mindset Unicórnio
Contudo, para fazer a transformação desejada no país, não basta garantir os aspetos já enunciados. É essencial que cada português acredite. Que tenha ousadia, ambição, pragmatismo, e que pelo trabalho e em colaboração com os outros, arrisque, aprenda e implemente. Que assuma um papel ativo na sociedade, em redor deste propósito maior. É necessário acreditar em unicórnios para nos transformarmos num.
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