Energia para carregar carro elétrico pode ficar até 35% mais cara em 2022
A Associação de Utilizadores de veículos Elétricos diz que o valor líquido do aumento da energia andará entre os 7% e os 10%. Mas a Iberdrola prepara-se para aumentar preços em 35% a novos clientes.
Os utilizadores de veículos elétricos garantem que, de um modo geral, se tem verificado um aumento generalizado dos preços da eletricidade para a mobilidade elétrica em 2022, o que no caso de alguns comercializadores já tinha acontecido na parte final de 2021. A garantia é dada por Manuel Reis, vice-presidente do Conselho Diretivo da Associação de Utilizadores de veículos Elétricos (UVE), em declarações ao ECO/Capital Verde.
O responsável diz que “é difícil de quantificar um valor médio exato, até porque estão a acontecer alguns reajustes nos tarifários de alguns Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME), mas o valor líquido do aumento da energia andará entre os 7% e os 10%”.
E se a Galp deu conta de um aumento de 16% este ano, a Iberdrola diz que prevê ajustar os tarifários para mobilidade elétrica a 1 de fevereiro: para clientes sem contrato de energia o aumento rondará os 35%, mas para os clientes com contrato a diferença será de aproximadamente 15%.
“Esta alteração deve-se a três fatores de contexto. Primeiro, o aumento exponencial dos preços de energia no mercado grossista, que não é suficientemente compensado pela redução das tarifas de acesso à rede para 2022. Segundo, manter as garantias de origem (oferta 100% verde). Por último, o impacto do valor da tarifa da Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica (EGME), assim como o valor do apoio financeiro à mobilidade elétrica, adicionais ao preço da tarifa CEME”.
Por seu lado, a EDP está ainda a “analisar as consequências que as decisões [do Governo] irão ter na sua estrutura tarifária, porque estes efeitos têm um impacto direto no valor da energia a pagar pelos clientes de mobilidade elétrica“.
“Há dois efeitos que se anulam: por um lado, introduzem um financiamento do Fundo Ambiental para eliminar o aumento das tarifas da Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica e, por outro, acabam com o apoio que vigorou desde 2019 até ao final de 2021 nas Tarifas de Acesso à Rede”, diz fonte da EDP.
Carlos Ferraz, Gestor de Desenvolvimento de Negócio da Prio, revela que a empresa, “à semelhança de outros players do setor, teve necessidade de ajustar a tarifa de eletricidade para a mobilidade elétrica no início de 2022″, sem revelar o aumento aplicado.
“O preço da eletricidade no mercado ibérico sofreu um aumento nunca antes visto, tendo passado de um valor médio, entre 2007 e 2020, de 50 €/MWh para valores acima dos 200 €/MWh. No entanto, e tendo em consideração o facto de o mercado ser recente e pretendermos mais uma vez contribuir para o seu desenvolvimento, optamos por não refletir a totalidade do custo nos nossos clientes”, garante.
Governo diz que redução da taxa de acesso às redes compensa aumento do preço da energia
Logo desde que os carregamentos passaram a ser pagos (em 2019) que a UVE considera que “os tarifários cobrados na rede pública nacional são demasiados elevados face aos carregamentos dos veículos elétricos feitos em casa”, sublinha Manuel Reis. Na rua, há que suportar a taxa do Operador de Posto de Carregamento (OPC) e ainda a tarifa da Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica (EGME), que a ERSE aumentou este ano para 0,2964 euros por carregamento. No entanto, o Governo decidiu intervir e através do Fundo ambiental reduziu esse valor para apenas 0,035 euros por carregamento.
Este valor é pago pelos utilizadores, cobrado pelas empresas e entregue à EGME. No entanto, de acordo com a ERSE, a tarifa da entidade gestora da rede de mobilidade elétrica representa apenas “cerca de 10% da fatura total” dos utilizadores.
“O subsídio pago pelo Fundo Ambiental ao aumento da taxa EGME vem repor alguma justiça nesta taxa, embora a UVE continue a discordar da forma como essa tarifa é paga (por sessão de carregamento em vez de estar diluída na energia consumida) e no seu valor, que onera desproporcionalmente o pequeno universo atual de utilizadores face a uma estrutura da EGME que irá servir no futuro um número de utilizadores dezenas de vezes superior, diluindo consideravelmente mais os seus custos operacionais”, argumenta Manuel Reis.
Recentemente, o ECO/Capital Verde tinha já avançado que a Galp decidiu aumentar as suas tarifas a 1 de janeiro e agora de novo, a 1 de fevereiro, resultando num salto de 16% no valor da eletricidade para abastecer o carro nas horas de vazio e de 12,4% fora do vazio, face aos preços do ano passado.
A empresa diz que os novos preços refletem o aumento do custo de aquisição de energia nos mercados grossistas, bem como a previsão de redução das tarifas de acesso às redes, anunciada pela ERSE para 2022. Além disso o Governo retirou aos CEME um apoio existente sobre as tarifas de acesso às redes da mobilidade elétrica que vigorou até 31 de dezembro de 2021.
A UVE confirma: “A razão para o aumento generalizado de preços, tanto quanto pudemos apurar, está essencialmente relacionada com o aumento do custo da energia elétrica ao nível da produção no mercado ibérico. Apesar da Tarifa de Acesso às Redes (TAR) da Mobilidade Elétrica para 2022 ter sofrido uma forte descida, de quase 50% em média, não foi suficiente para colmatar a subida dos preços de produção de eletricidade”, disse Manuel Reis.
Já o Governo defende que nenhuma das razões apresentadas “tem qualquer influência sobre o preço da eletricidade que é cobrado pelos comercializadores de eletricidade para a mobilidade elétrica (CEME)”.
“Relativamente às alegações que estarão a ser dadas pelas empresas para justificação do aumento dos preços da eletricidade para a mobilidade elétrica, importa esclarecer o seguinte: no que respeita à atualização da tarifa da EGME determinada ERSE para 2022, importa ter em conta que estamos perante um custo a suportar pelos utilizadores de veículos elétricos, por cada carregamento efetuado, mas que não tem qualquer influência sobre o preço da eletricidade que é cobrado pelos comercializadores de eletricidade para a mobilidade elétrica. Ou seja, os CEME cobram na fatura a tarifa e entregam essa receita à EGME”, explica fonte oficial.
Relativamente à Tarifa de Acesso à Rede (TAR), diz fonte do MAAC, que “o valor definido pela ERSE apresenta uma redução muito significativa para 2022 quando comparado com 2021, verificando-se variações entre -18% e -67% (consoante o nível de tensão e o tipo de tarifa), contrabalançando o aumento do preço da eletricidade”.
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