Como são as relações comerciais entre Portugal e a Rússia? E a Ucrânia?

Portugal tem uma relação comercial mais forte com a Rússia, nomeadamente no que diz respeito ao fornecimento de gás natural. Já com a Ucrânia os negócios são pouco expressivos.

Depois do escalar das tensões entre a Ucrânia e a Rússia, Vladimir Putin acabou por reconhecer a independência de duas regiões separatistas no leste do país, fazendo adivinhar o cenário mais “negro”. Com as ações da Rússia, os negócios e comércio dos dois países com o resto do mundo, nomeadamente a União Europeia, vão ficar afetados. As relações comerciais entre Portugal e a Rússia e a Ucrânia poderão assim sofrer algumas alterações.

A Rússia já chegou a ser um dos principais fornecedores de Portugal, mas perdeu a posição nesse ranking em 2020. Já em 2019 se tinha registado uma queda nas importações provenientes da Rússia (-15,4%, ou seja, menos 199 milhões de euros, sobretudo devido a combustíveis minerais), de acordo com as estatísticas do comércio internacional do Instituto Nacional de Estatística.

No ano seguinte, “as transações de combustíveis minerais diminuíram, tendência fortemente influenciada pela diminuição dos preços nos mercados internacionais (o preço médio anual do petróleo bruto (brent), em euros, diminuiu 36,3% em 2020)“. Este era um dos principais produtos importados da Rússia, mas os combustíveis “passaram para décimo principal grupo de produtos exportado e quinto principal grupo de produtos importado (6.º e 3.º em 2019, respetivamente)”.

Segundo o FMI, em 2020 a Rússia era o terceiro produtor mundial de petróleo o terceiro de gás natural e o quarto produtor de energia elétrica. Portugal não se encontra entre os principais clientes da Rússia, segundo os dados da Comtrade citados pela AICEP, nem entre os maiores fornecedores (mas a Ucrânia figura em ambas as listas, apesar de ficar no fim da tabela).

Em 2020, “no âmbito dos dez principais fornecedores [de Portugal], os Estados Unidos desceram para a décima posição (nona em 2019) e os Países Baixos e Itália trocaram de posições (4.ª e 5.ª em 2020, respetivamente). Verificou-se a entrada do Brasil para o ranking dos dez principais fornecedores e a saída da Rússia (10.ª posição em 2019 e 16.ª em 2020)”.

A balança comercial de bens entre Portugal e Rússia foi assim “desfavorável ao nosso país, tendo apresentado um défice de 335 milhões de euros em 2020″, como salienta a AICEP. Na estrutura das exportações “destacam-se os Produtos Agrícolas (17,4% do total), a Madeira e Cortiça (17,2% do total), os Produtos Alimentares (15,7% do total), as Máquinas e Aparelhos (13,3% do total) e o Calçado (9,4% do total)”.

Por outro lado, os “principais grupos de produtos importados foram os Combustíveis Minerais (53,6% do total), os Produtos Químicos (14,7% do total), os Produtos Agrícolas (12,3% do total), os Metais Comuns (10,5% do total) e a Madeira e Cortiça (3,5% do total)”.

No entanto, dados mais recentes indicam mesmo que no espaço de apenas um ano, Portugal mais do que quintuplicou as suas importações de gás natural proveniente da Rússia. As estatísticas da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) mostram que o gás russo só entrou no pacote de compras de gás a país estrangeiros em novembro de 2019, no entanto a encomenda foi aumentando, para ser mais do que cinco vezes superior em 2020. O movimento continuou e fez com que, em 2021, a Rússia tenha passado a ser o terceiro fornecedor de gás natural de Portugal, a seguir à Nigéria e aos EUA.

Em 2021, a encomenda chegou aos 573 milhões de metros cúbicos de gás russo chegar ao Porto de Sines. Assim, a Nigéria é responsável por 49,5% (2,8 mil milhões de metros cúbicos) e os Estados Unidos garantem 33,3% (quase 2 mil milhões de metros cúbicos), enquanto a Rússia chega já a garantir 10,2% das importações de gás.

Apesar disso, o Governo garante que “é prematuro falar em dependência da Rússia” no gás e acrescenta que “não se antevê uma disrupção profunda do fornecimento a Portugal, resultado de uma potencial interrupção do fornecimento por parte da Rússia”, disse fonte oficial do Ministério do Ambiente e da Ação Climática em declarações ao ECO/Capital Verde na semana passada.

A DGEG não tem ainda disponíveis as estatísticas de 2022, mas ao Expresso confirmou que este ano Portugal ainda não comprou gás a Moscovo.

Balança comercial com Ucrânia é desfavorável a Portugal

Já a economia ucraniana “assenta, sobretudo, na capacidade exportadora dos seus setores industrial e cerealífero”, nota a AICEP. O país não se encontra entre os principais parceiros comerciais de Portugal. De acordo com os dados do INE, a Ucrânia foi o 68º cliente das exportações portuguesas de bens em 2020, com uma quota de 0,1% no total, ocupando a 35ª posição ao nível das importações (0,3%).

Mesmo com uma relação diminuta, as exportações da Ucrânia aumentaram de forma mais significativa ao longo do período 2016-2020. Assim, a balança comercial de bens é de novo desfavorável a Portugal, “tendo apresentado um défice de 175 milhões de euros em 2020”.

Nas, “exportações destacam-se as Máquinas e Aparelhos (20,3% do total), a Madeira e Cortiça (17,1% do total), os Produtos Alimentares (14,7% do total), os Metais Comuns (11,2% do total) e as Pastas Celulósicas e Papel (8,4% do total)”. Já as importações centraram-se nos Produtos Agrícolas (68,7% do total), os Metais Comuns (23,3% do total), as Máquinas e Aparelhos (2,2% do total), a Madeira e Cortiça (1,9% do total) e os Produtos Alimentares (1,2% do total).

Apesar desta dimensão menos expressiva no comércio externo, é ainda de sublinhar que a Ucrânia é o maior fornecedor de milho de Portugal, segundo avança a Portugal Foods, citada pelo Expresso (acesso livre). O destino destas importações é em grande parte a alimentação animal, sendo que mais de metade do que Portugal compra ao país (152 milhões de euros) é relativo a cereais.

É de salientar ainda assim que não se tratam de compras diretas mas sim no mercado de futuros, em Chicago, “onde os grandes operadores fazem a gestão da origem dos produtos para evitar grandes quebras e podem ir alternando os principais fornecedores”, explicou ao semanário Deolinda Silva, diretora-executiva da Portugal Foods. Desta forma, “estamos a falar de encomendas feitas a três ou seis meses pelo que o impacto não é imediato”.

Olhando para o quadro geral, os cinco principais mercados clientes da Ucrânia, em 2020, foram a China (14,5% do total), a Polónia (6,7% do total), a Rússia (5,5% do total), a Turquia (4,9% do total) e a Alemanha (4,2% do total).

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