“Se Marine Le Pen ganhar as eleições em França há um risco enorme da União Europeia desaparecer. E isso, para nós, é assustador” Eis os alertas de Pedro Ferraz da Costa.
A pergunta foi sobre os Estados Unidos e a administração Trump. A resposta é um alerta para o que se está a passar politicamente em vários países europeus, Pedro Ferraz da Costa em entrevista ao ECO recomenda que nos foquemos nos problemas europeus nomeadamente sobre os efeitos do populismo.
Nesta última parte da entrevista ao ECO, o atual presidente do Fórum para a Competitividade e ex-presidente da CIP defende que devemos estar preparados para um eventual colapso do euro da mesma forma que nos prevenimos para terramotos. Pronuncia-se sobre as causas do populismo e faz um retrato resumido das atuais dinâmicas políticas de alguns países europeus, de Inglaterra à Alemanha.
Portugal devia sair do Euro ou estudar a hipótese de sair do Euro?
Não é responsável não ponderar o que é que nós deveríamos fazer se o Euro acabasse. Portugal sair do Euro, por iniciativa própria, acho uma loucura total, não se mede o que é que seriam as consequências. O escudo desvalorizaria pelo menos 30% a 40% em relação ao nível atual, toda a gente ficava mais pobre, esses 30% ou 40%.
Só ficava mais pobre quem tivesse que sair para o estrangeiro porque internamente não ficavam mais pobres?
Se nós repararmos que as pessoas consomem mais quando acham que os seus ativos valem mais, isso teria um efeito de travagem do investimento direto estrangeiro, que é o que tem feito subir o imobiliário, muito marcado. O nível de preços, o valor das casas, tudo vinha para baixo. Ninguém achava isso bom.
O que é que se devia equacionar? Fazer um estudo sobre que estratégias é que nós devíamos ter se o Euro colapsar?
Exatamente.
Acha provável que o Euro colapse?
Eu não acho provável ou improvável. Não vejo as coisas dessa forma. Desde que exista algum risco, mesmo que a probabilidade seja baixa, de um cenário tão catastrófico, nós devíamos preparar-nos para ele. Se me perguntar se acha que é provável para o ano um tremor de terra, eu acho que a probabilidade é baixa. Se me perguntar se nós devemos investir na proteção civil para que um acontecimento desses traga menos sofrimento, eu acho que sim.
O populismo está a aumentar porque as pessoas acham que nem sequer podiam exprimir o seu desacordo com algumas políticas.
Porque é que, na sua perspetiva, os populismos estão a aumentar na Europa?
Porque as pessoas acham que lhe foram impostas um conjunto de políticas com que elas não concordavam e que nem sequer podiam exprimir publicamente o seu desacordo, porque eram criticadas, achincalhadas e insultadas.
Pode dar um exemplo?
A inquietação com a imigração é o mais gritante.
Não permitiram que as pessoas exteriorizassem as suas preocupações com a imigração?
Não se olhou para o problema que as pessoas tinham. Nós sabemos que há zonas nos arredores de Lisboa onde os portugueses que aí viviam saíram porque não acharam possível a vida ali. E o valor das casas baixou para menos de metade.
Em que zonas?
Nos arredores.
Mas há muitos arredores aqui, quais são os arredores?
Zonas da linha de Sintra. Aliás, as pessoas que têm que utilizar o comboio da linha de Sintra queixam-se muito. Acha que essas pessoas não estão em posição para irem atrás de qualquer proposta populista capaz de lhe resolver o problema em 15 dias?
Pensa que nós corremos também o risco…
Nós não corremos esse risco porque somos o país da União Europeia que tem menos imigrantes. Se não estaríamos também, com certeza, preocupados.
Ou seja, os políticos não ouviram as pessoas, é a sua opinião.
Não só não ouviam como achavam que estavam iluminados por uma verdade que era aquilo que eles achavam.
Está preocupado com o que se está a passar nos Estados Unidos com a administração Trump?
Eu estou muito mais preocupado com o que se está a passar na Europa, com a Sra. Le Pen.
Acha que há probabilidade de Marine Le Pen vencer as eleições?
Acho que é um risco muito maior. O que é que o Sr. Trump nos afeta a nós? Nada. Agora a Marine Le Pen afeta. Se ela ganhar as eleições há um risco enorme da União Europeia desaparecer. E isso, para nós, é assustador. Por isso, em termos de preocupações, eu quero lá saber do Sr. Trump e se ele vai resolver os problemas dos eleitores que acharam que deviam votar numa proposta tão disruptiva ou não.
Fico é preocupado quando vejo as coisas em Inglaterra encaminharem-se definitivamente para um cenário de saída muito conflitual, por causa dos ingleses e por causa dos outros europeus. Quando vejo a situação na Holanda, onde vemos um partido mais moderado a anunciar publicamente que faria uma coligação com o Sr. Geert Wilders, o que evidentemente lhe dá uma auréola de governabilidade que não tinha antes dessa declaração. Uma situação em França, dos diversos candidatos, cada um por sua razão, que é uma coisa perfeitamente assustadora. E a França é um dos pesos pesados da UE. Ou Sr. Martin Schulz, que eu nunca ouvi dizer nada muito ponderado, à frente da Sra. Merkel nas sondagens na Alemanha. E não sabemos o que pode acontecer em Itália. Acho que era melhor focarmo-nos nestes problemas.
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Trump? Ferraz da Costa está mais preocupado com França, Holanda, Inglaterra e Alemanha
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