Invasão russa “desafia” melhoria do rating de Portugal, admite Leão
João Leão admite “desafio adicional para as perspetivas que havia, que eram muito positivas, de melhoria do rating” e vai avaliar apoios extraordinários às fábricas portuguesas no Orçamento do Estado.
O ministro das Finanças português, João Leão, considerou este sábado que a invasão da Ucrânia pela Rússia cria “um desafio” à melhoria do rating de Portugal, já que em tempos de incerteza as agências tendem a estabilizar as notações.
“A situação da Rússia cria naturalmente um desafio porque, quando há incerteza, cria-se um desafio adicional para as perspetivas que havia, que eram muito positivas, de melhoria do rating. Nós temos esperança de que na primavera, já que há mais um conjunto de agências de rating que vão pronunciar-se, possam melhorar também a perspetiva de Portugal“, disse o ministro português, questionado pelos jornalistas em Paris.
João Leão está em Paris depois de ter participado na sexta-feira na reunião informal dos ministros da Economia e Finanças da União Europeia, que teve a agenda modificada devido à recente invasão russa na Ucrânia.
Na capital francesa, o governante reagiu à melhoria da perspetiva económica de Portugal de ‘estável’ para ‘positiva’ da agência DBRS. “Portugal tem aqui a oportunidade de fazer uma melhoria significativa dos seus ratings, que coloquem o país numa posição mais favorável para enfrentar este período de normalização da política monetária, com taxas de juro mais elevadas, que criam um desafio ao financiamento das economias“, sustentou o ministro.
A agência DBRS justificou que a melhoria da perspetiva para Portugal reflete a avaliação de que as vulnerabilidades de crédito do país ligadas à pandemia parecem “estar a recuar, enquanto as perspetivas macroeconómicas estão a melhorar”.
Esta manhã, João Leão referiu ainda que há países, como a Grécia e a Itália, que “estão a ser prejudicados pelo aumento das taxas de juro, têm spreads que aumentaram muito face a outros países europeus”, salientando que “isso não aconteceu com Portugal, que teve uma evolução muito positiva da dívida pública e conseguiu nesta fase manter o seu spread, as suas taxas de juro, face à Alemanha”.
Portugal teve uma evolução muito positiva da dívida pública e conseguiu nesta fase manter o seu spread, as suas taxas de juro, face à Alemanha.
“Isso é extremamente positivo para o país porque assegura ao Estado, às empresas e às famílias condições de financiamento com taxas de juro mais baixas, o que é crítico para a estabilidade e para a segurança da economia portuguesa, e para financiar a recuperação” do país, acrescentou o ministro das Finanças, em declarações transmitidas pela RTP3.
Apoio extra à indústria portuguesa “interage” com OE
Com o “desafio” adicional do conflito entre Rússia e a Ucrânia, João Leão considerou ainda que ainda é cedo para falar de apoios extraordinários às indústrias portuguesas, embora reconhecendo que alguns setores vão ser mais afetados.
“Há indústrias mais dependentes do gás, Portugal tem uma vantagem que é não estar tão dependente do gás russo como a Alemanha ou Itália ou outros países europeus, mas isso afeta o preço mundial do gás e não deixamos de ser afetados. É importante percebermos como é que, nesse contexto, conseguimos que essas indústrias não sejam tão afetadas, mas isso interage com questões do Orçamento do Estado e isso é uma coisa que tem de ser ponderada nas próximas semanas em função da situação no terreno”, detalhou.
"É importante percebermos como é que, nesse contexto, conseguimos que essas indústrias não sejam tão afetadas, mas isso interage com questões do Orçamento do Estado.”
O Banco Central Europeu e a Comissão Europeia vão avaliar a possibilidade de mais sanções à Rússia, especialmente a exclusão do país do sistema SWIFT, mas também os impactos económicos deste conflito nos países da União Europeia, de forma a levar a coordenar a ação dos 27 face a Moscovo e possíveis apoios aos setores europeus mais afetados.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos 198 mortos, incluindo civis, e mais de 1.100 feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 120.000 deslocados desde o primeiro dia de combates.
(Notícia atualizada às 13:20 com mais declarações de João Leão)
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