DBRS revê em alta outlook da dívida portuguesa
A agência canadiana manteve o rating da dívida, mas melhorou as suas perspetivas. A maioria absoluta do PS, nas últimas eleições, antecipam anos de crescimento forte, justifica a DBRS.
A agência DBRS mudou de “estável” para “positiva” a perspetiva (outlook) da dívida portuguesa e manteve esta sexta-feira inalterado o rating de Portugal. “Uma recuperação saudável começou no último ano e a economia deve voltar ao nível pré-pandemia no segundo trimestre de 2022”, justifica a agência canadiana, que no ano passado não mexeu nem no rating de Portugal, nem no outlook da dívida. O anúncio desta sexta-feira da DBRS surge numa altura de elevada incerteza geopolítica, face ao ataque militar da Rússia na Ucrânia que está a fazer disparar os preços da energia, com impacto na economia, além da subida dos juros da dívida devido à alta inflação.
Na nota, a agência de rating assinala que a crise pandémica “não parece ter infligido graves danos” a longo prazo na economia portuguesa, depois de o PIB ter contraído 8,4% em 2020, o primeiro ano da pandemia de Covid-19. Aliás, as “perspetivas de crescimento são fortes nos próximos anos”, apoiadas “por maior estabilidade política” após a maioria governativa resultante das eleições de janeiro de 2022, frisa a DBRS.
A notação de Portugal pode voltar a ser melhorada, antecipa a agência, desde que se mantenha a trajetória “firme” de redução do rácio da dívida pública. Depois de a resposta à crise sanitária em Portugal ter empurrado a dívida para 135,2% do PIB, mais 19 pontos que um ano antes, a DBRS assinala que o rácio “está rapidamente a ser reparado”.
No entanto, a DBRS aponta como vulnerabilidades a dívida pública elevada, o legado de stress do sistema financeiro e o crescimento potencial baixo, além de que o rating pode degradar-se caso o “compromisso político” com políticas macroeconómicas sustentáveis enfraqueça.
Na análise, identifica ainda a procura externa como um risco para a economia portuguesa, devido ao peso do turismo, já que “não está claro quando é que o setor irá recuperar totalmente”. “Com isso, a recuperação das exportações do setor de serviços provavelmente será prolongada e irá pesar nas contas externas”, alerta, ainda que refira que as contas externas se revelam muito mais resilientes nos últimos anos do que durante a crise anterior, pelo que espera “que o forte desempenho das exportações de bens e a recuperação gradual do turismo melhore o equilíbrio externo nos próximos anos”.
Salienta também que a “rápida consolidação orçamental” é “fundamental”, porque as contas públicas podem enfrentar desafios associados a possíveis execuções de crédito relacionadas com as garantias concedidas durante a pandemia ou com necessidades de financiamento adicionais para as empresas estatais, deixando paralelamente o aviso de que “tendências demográficas adversas” poderão pesar na despesa no médio prazo.
Ainda assim, nota que o rácio da dívida pública face ao PIB, apesar de alto, está a recuperar e que o serviço da dívida diminuiu nos últimos anos, pelo que “o perfil de financiamento de Portugal” mitiga o risco associados a condições de financiamento mais apertadas do que o esperado.
A DBRS assinala ainda que os riscos da estabilidade financeira diminuíram nos últimos anos, mas alerta que o cenário pode mudar se a crise pandémica afetar “drasticamente” as famílias e as empresas, dando nota de que “a direção das insolvências do setor privado continua a ser uma importante incógnita“.
A agência canadiana foi a primeira a pronunciar-se este ano sobre Portugal, marcando o início das avaliações das principais agências de notação financeiras previstas para este ano. Segundo os calendários provisórios de atualização dos ‘ratings’, a DBRS deverá voltar a pronunciar-se sobre Portugal em 26 de agosto.
O rating é uma avaliação atribuída pelas agências de notação financeira, com grande impacto para o financiamento dos países e das empresas, uma vez que avalia o risco de crédito.
(Notícia atualizada às 22h08)
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