Empresa da Trofa veste roupa de malha “desenrolada” pela pandemia
Crivedi, da família Archer, enfrentou pandemia com máscaras Happö e despede-se dela com vestuário de malha para o teletrabalho, a abrir destinos comerciais na Escandinávia e industriais em Marrocos.
A Crivedi, empresa da Trofa que trabalha com grandes marcas de moda, como Bimba y Lola, Adolfo Dominguez, Purificación García e Carolina Herrera, vai deixar de trabalhar apenas com tecidos e, ao fim de três décadas no mercado, apostar também no vestuário de malha, com o objetivo de “complementar a oferta” e dar resposta a uma das tendências surgidas com a pandemia de Covid-19.
“Nesta fase, até com o teletrabalho, está a haver uma procura completamente anormal por roupas práticas, nomeadamente nas senhoras, que são sempre malhas. Os tecidos foram muito penalizados e tivemos de reagir rapidamente. As marcas estão a apostar nesses produtos e os nossos clientes também pretendem comprar. Estamos a falar de t-shirts, sweats, calças confortáveis. Mas tudo artigos que seguem tendências de moda, nada de básicos”, justifica António Archer.
O presidente da têxtil nortenha adianta ao ECO que está a ser admitida uma equipa profissional para desenvolver toda esse componente de malhas — tem uma “técnica ligeiramente diferente” da dos tecidos –, o que inclui uma “pesquisa intensiva”, a criação de uma coleção própria e a montagem de um departamento para esta nova área de negócios que, estima, “num horizonte de quatro a cinco anos vai ter o mesmo peso que a dos tecidos”.
Está a haver uma procura completamente anormal por roupas práticas, nomeadamente nas senhoras, que são sempre malhas. Os tecidos foram muito penalizados e tivemos de reagir rapidamente.
Em dois anos, o gestor conta ter uma dezena de colaboradores dedicados apenas a esta área das malhas, embora salvaguardando que quer manter a aposta nos tecidos e que está apenas a acrescentar produtos ao portefólio. Em termos comerciais, explica que “todos os clientes que compram tecidos também compram malhas”, tendo dessa forma “uma porta privilegiada de entrada” neste segmento.
Fundada em 1991, a Crivedi classifica-se como “uma indústria sem indústria”. Isto é, faz internamente todo o processo de pesquisa, prototipagem, design, modelação e controlo de qualidade, assim como a compra de matérias-primas ou acessórios, e ainda os contactos com os clientes e a negociação das encomendas. Só a parte da confeção é que subcontrata a cerca de 30 fábricas, numa área não superior a 30 a 40 quilómetros da Trofa.
Outra novidade é a aposta no mercado escandinavo. Esta PME contratou uma empresa especialista em comércio internacional que já lhe está a “abrir portas” em mercados como a Dinamarca, a Suécia e a Noruega, com os quais ainda não trabalhava. Com escritórios nessas geografias, essa consultora está a “contactar massivamente todos os clientes nesses países e a promover a marca Crivedi”, relata António Archer.
Já na componente produtiva, a empresa trofense está a equacionar o lançamento de um projeto industrial em Marrocos. Colocado em suspenso nos últimos meses por causa do contexto pandémico – “não estavam criadas as condições para visitarmos o país sem constrangimentos” –, prevê reiniciar esse projeto no segundo semestre deste ano. O empresário explica que “a ideia é optar pela aquisição de uma unidade de fabrico já em funcionamento, modernizá-la e torná-la o nosso cartão-de-visita para conseguir responder a produções com um preço mais competitivo”.
“Com o surgimento da pandemia havia dois cenários porque estávamos a baixar vendas. Um deles era readaptar a empresa com uma redução de pessoal e de dimensão. Outra seria reagir positivamente, abrindo uma série de frentes e foi o que fizemos. (…) Acredito muito na retoma, estou muito convicto que vai ser rápida e massiva porque as pessoas estão fartas de confinamentos, de não gastar dinheiro, de não comprar roupa. Estão ávidas de uma vida normal e isso significa vestir-se bem, sair para ir ao restaurante, viajar”, resume.
Retomar vestuário sem deixar cair a máscara
Outra das frentes abertas foram as máscaras. Menos de um mês depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretar a Covid-19 como uma pandemia, em abril de 2020, uma a uma, a totalidade das encomendas que a Crivedi tinha em carteira foram canceladas pelos clientes estrangeiros. António Archer foi “uma semana para casa sem saber o que ia fazer da vida”. Até receber um telefonema do filho, designer gráfico que trabalha em marketing digital e vive há quatro anos em Espanha. Decidiram avançar com a produção de máscaras na Trofa.
O projeto Happö Mask, associado à sociedade Philusitânia criada dois anos antes para o relançamento da marca Boxer Shorts, que tinha sido comprada em 2014 pela Crivedi e pela capital de risco Explorer Investments – tal como a falida Throttleman, que venderam quatro anos depois ao grupo Lanidor – acabou por ser “uma ajuda brutal” para a sobrevivência da empresa nessa altura. Os 2,5 milhões de euros faturados nas máscaras mais do que cobriram as perdas no vestuário, fechando 2020 com um recorde de vendas, acima dos sete milhões.
Já 2021 é descrito como “um ano de enorme desafio”. Desde logo, porque os principais clientes estiveram encerrados nos quatro primeiros meses do ano e simplesmente não houve compras. No acumulado do primeiro semestre ficou 25% abaixo por comparação com 2019; o segundo semestre já igualou os números pré-covid, tendo encerrado o ano passado com vendas um pouco acima dos cinco milhões de euros. Archer garante que “o 2022 está a arrancar muito bem” e está com um crescimento superior a 30% face ao registo anterior à pandemia.
As máscaras têxteis certificadas, que, entretanto, sofreram com o aumento da concorrência, com o desvio dos consumidores para as soluções descartáveis (cirúrgicas e FFP2) e com o facto de terem deixado de ser de uso obrigatório em várias ocasiões e países, estão agora “com valores e números completamente diferentes”. Mas o presidente da Crivedi assegura que “o projeto não morreu” e acha que “é um negócio que veio para ficar” por haver “um conjunto de pessoas que nunca mais na vida vai abandonar as máscaras em determinados ambientes — não em permanência, mas em hospitais, supermercados e outros espaços fechados”.
Além de continuar a lançar novos modelos de máscaras, a empresa portuguesa vai transformar a Happö igualmente numa marca de roupa. A primeira coleção está pronta e vai chegar às lojas no verão de 2022. “É uma marca da Crivedi e vamos aproveitar. Temos uma base de dados de 40 mil clientes de máscaras [online] e achamos que são compradores potenciais [de vestuário]. Vamos oferecer também isso internacionalmente para as cadeias de lojas multimarca”, acrescenta.
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