Têxtil de Felgueiras está a “ajudar” portugueses a sair da Ucrânia

Fábrica de batas cirúrgicas da Fapomed, a 214 km da fronteira com a Polónia, é “ponto de concentração” para os portugueses. Empresa da família Lopes da Cunha emprega 500 pessoas e fatura 22 milhões.

A Embaixada de Portugal na Ucrânia aconselhou os cidadãos portugueses a saírem do país através das fronteiras terrestres com a União Europeia, “preferencialmente na direção da Polónia e da Roménia”, e deixou as coordenadas para “dois pontos de concentração organizados pela Embaixada que poderão ser utilizados”. Um deles é o Hotel Tamerlan, na cidade de Khmelnytskyi (região de Podólia), e o outro é a fábrica da Fapomed em Hoshcha, na região de Rivne.

Que empresa portuguesa é esta que está a colaborar com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e cuja unidade produtiva com perto de 5.000 metros quadrados de área coberta e situada a 214 quilómetros da fronteira polaca – foi inaugurada a 10 de janeiro de 2009 na sequência de um investimento de sete milhões de euros – serve de local de referência para facilitar a retirada de portugueses da Ucrânia?

Sediada em Felgueiras, a Fapomed surgiu em 1986 pela mão de Orlando Lopes da Cunha, que transformou uma indústria de confeção clássica, que fazia calças e camisas, numa fábrica de dispositivos médicos de uso único. Especializada na produção de batas cirúrgicas, campos operatórios, pacotes cirúrgicos personalizados (CPT) e equipamentos de proteção individual (EPI), como fatos e acessórios de proteção, está hoje presente em mais de 30 países em quatro continentes, através de marcas próprias e distribuidoras ou em formato de private label.

Especializada na produção de dispositivos médicos de uso único, como batas cirúrgicas, a Fapomed tem fábricas em Felgueiras, em Baião e na Ucrânia

Além daquela que foi a unidade fundadora do universo Fapomed em Felgueiras, tem outra fábrica em Baião (com função de armazém agregada à de produção), produzindo em Portugal os campos operatórios, os CPT e os EPI. Já a unidade industrial na Ucrânia, que “proporciona uma maior cobertura geográfica na Europa, permitindo assim uma otimização da cadeia logística”, está dedicada em exclusivo à produção de batas cirúrgicas.

No verão passado, a embaixada ucraniana em Lisboa adiantou que a administração da Fapomed tinha iniciado “negociações com a administração estatal regional de Odessa para desenvolver uma produção análoga nessa região no sul da Ucrânia”. No total, a empresa nortenha soma uma área de produção de 16 mil metros quadrados, sendo 4.000 de atmosfera controlada e 800 de “sala limpa”.

Liderada atualmente por Miguel Lopes da Cunha, filho do fundador, que não quis prestar esclarecimentos ao ECO, a Fapomed emprega perto de 200 pessoas em Portugal e 300 na Ucrânia, faturando cerca de 22 milhões de euros por ano. Segundo dados disponibilizados pela AICEP, esta produtora de dispositivos médicos é uma das quatro empresas portuguesas com investimento direto no mercado ucraniano, a par da Parfois, da Martifer e da Voltalia Portugal, ligada à multinacional das energias renováveis que tem um centro de competências solar no Porto.

“Meia dúzia” produz desde malhas a vestuário exterior

Na sequência da escalada de conflito com a Rússia, o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC) já “está a trabalhar com os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Economia para apoiar as empresas portuguesas do setor que tenham atividade produtiva na Ucrânia ou que sejam fortemente exportadoras para aquele mercado” do leste europeu.

Em declarações ao ECO, César Araújo disse já ter identificado “meia dúzia” de empresas que têm pequenas operações industriais naquele país, com o objetivo de abastecer o mercado ucraniano e outras geografias próximas. Sem avançar detalhes, a pedido das próprias empresas visadas, o também presidente da Calvelex indicou apenas que são “produtoras de vários tipos de artigos, desde malhas até vestuário exterior”.

Estamos a trabalhar com os Negócios Estrangeiros e a Economia para apoiar as empresas portuguesas de vestuário que tenham atividade produtiva na Ucrânia ou que sejam fortemente exportadoras para aquele mercado.

César Araújo

Presidente da ANIVEC

Em 2021, as exportações de mercadorias portuguesas para a Ucrânia ascenderam a 35,9 milhões de euros, acima dos 30,7 milhões vendidos para aquele destino no primeiro ano da pandemia. O saldo da balança comercial é altamente deficitário, com a taxa de cobertura das exportações pelas importações a fixar-se em 12,1% no ano passado, período em que, de acordo com os dados cedidos pelo INE, 369 empresas portuguesas exportaram para a Ucrânia.


Cortiça, bebidas e maquinaria estão no pódio dos artigos mais exportados pelas empresas nacionais para o mercado ucraniano no ano passado. Os dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), liderada por Luís Castro Henriques, mostram que a Ucrânia é apenas o 58º destino para as mercadorias nacionais (valeu 0,06% do total de 2021) e ocupa a posição 30 na lista de fornecedores de Portugal.

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