Líder do Pingo Doce pede “bom senso” à produção na subida dos preços

Pedro Soares dos Santos admite que as próximas semanas vão ser “uma loucura” na negociação dos preços devido ao aumento dos custos e pede um “alívio fiscal forte” a António Costa com maioria absoluta.

Num cenário de aumento generalizado dos custos, Pedro Soares dos Santos diz que a Jerónimo Martins (JM) está “preparada para mitigar e poder equilibrar o que pode passar ao consumidor e o que vai ter de absorver, mesmo que isso implique alguma revisão de lucratividade”.

“Não podemos ficar com tudo [impacto]. Vai haver uma loucura em termos de tentativa de subida de preços e vamos ter uma grande luta para travar”, admitiu o presidente e administrador-delegado do grupo retalhista, que insistiu que “nem tudo pode passar para o consumidor” e que “não vão ser negociações fáceis, mas [vão] ter de saber lidar com isso”.

Em conferência de imprensa, o líder do grupo que detém o Pingo Doce e o Recheio relatou que hoje mesmo teve de aumentar, mais uma vez, o preço do leite à produção, notando que “se não houver produtores, [não tem a quem] comprar o leite”. No entanto, advertiu que “vai tudo ter de ser feito com bom senso” porque “o radicalismo não funciona” e o esforço vai ter de ser balanceado entre a distribuição, os produtores e os consumidores.

Poucas horas após comunicar uma subida de 48% nos lucros em 2021, para 463 milhões de euros, e a proposta para distribuir a totalidade do valor aos acionistas (78,5 cêntimos por ação), Soares dos Santos reconheceu que há “uma grande incerteza sobre o futuro das operações”, com o grupo a ter de “gerir esta inflação, o aumento de custos e a incerteza sobre tudo o que possa vir a acontecer e sobre as políticas que possam vier a ser decididas na Europa e a Leste” na sequência da guerra na Ucrânia.

Na Polónia, que faz fronteira com o território ucraniano e onde já entraram 1,3 milhões de refugiados, a JM é líder de mercado com a Biedronka (quota de 27,3%). A insígnia já retirou das prateleiras todos os produtos de origem russa ou bielorrussa e baixou os preços de 50 artigos de primeira necessidade nas lojas próximas da fronteira. Até ao momento ainda não sentiu “disrupções” ao nível da cadeia de abastecimento, mas Luís Araújo admite que isso possa acontecer nas próximas semanas e que o travão das exportações polacas para a Europa ocidental “criará turbulência na procura e terá impactos previsíveis ao nível da inflação”.

“No momento, mantemos o plano de desenvolvimento intacto, continuamos a trabalhar na expansão e confiantes que ultrapassaremos as dificuldades”, notou o CEO da Biedronka. Já sobre se colocam de parte fazer uma nova aquisição em 2022, os responsáveis do grupo, que continuam a dizer que a prioridade seria fazê-lo na vizinhança da Polónia, admitem que “com a situação de guerra parece claramente difícil que este ano se materialize” essa operação. “Este ano é mais importante o apoio humanitário do que propriamente uma aquisição”, resumiu Soares dos Santos.

“Alívio fiscal forte” em Portugal

Em Portugal, as vendas do Pingo Doce em 2021 superaram o “marco histórico” de 4 mil milhões de euros num ano e ficaram 4,6% acima de 2020 – a marca própria pesou 35% nas vendas totais, excluindo perecíveis – e a cadeia grossista Recheio continuou a sofrer com a reduzida atividade turística e com as restrições da pandemia, fechando o ano a crescer 7%, para 906 milhões de euros. No cenário para 2022 traçado na nota à CMVM, o grupo falava já de “problemas estruturais” no mercado interno, como “uma economia frágil e pressionada pela elevada carga fiscal, a escassez de investimento produtivo e a falta de oportunidades para os jovens”.

Questionado pelos jornalistas sobre o que deveria fazer o novo Governo eleito em janeiro, que continua à espera da repetição da votação dos emigrantes para tomar posse, Pedro Soares dos Santos respondeu que “a maior reforma era um alívio fiscal forte para apoiar as famílias portuguesas neste [momento] de incerteza de aumento de custos e de inflação”. Em concreto, referiu a redução do IRS para todas as famílias, do IVA no consumo ou dos impostos sobre a energia. “Se é ou não possível, só quem está no Governo poderá saber porque teria de fazer reformas a nível de custos, que têm o seu peso”, acrescentou.

“Outra pressão que me preocupa é a dívida — e a tendência é para os juros subirem. O impacto que vai ter nas nossas famílias vai ser muito grande. Há um novo Governo, uma maioria vai ajudar muito na governação, mas vamos enfrentar problemas muito deliciados quanto ao custo da energia, a inflação, as taxas de juro e, acima de tudo, a perda de rendimento. Essa recuperação tem de ser feita com alívio fiscal e para isso é preciso coragem para fazer essas reformas, agora que têm a maioria [absoluta]”, resumiu o líder da JM.

Investe 850 milhões e aguarda queixa a Bruxelas

O grupo prevê investir 850 milhões de euros em 2022, dos quais à volta de 175 milhões em Portugal, entre a área da distribuição (150 milhões) e o agroalimentar, que o presidente e administrador-delegado diz que é “um negócio que veio para ficar (…) e cobrir áreas estratégicas”. Ainda assim, ressalvou que “se vai ou não acontecer totalmente [o investimento global previsto], vai depender de como o mundo vai evoluir nas próximas semanas”.

Um dos dossiês que continuem em aberto em Portugal é relativo à Taxa de Segurança Alimentar Mais, que a JM se recusa a pagar desde 2012 – o montante reclamado pelo Estado já supera os 26 milhões de euros. O Tribunal Constitucional já se pronunciou pela sua constitucionalidade, mas o grupo ainda está “à espera da decisão final” da Comissão Europeia relacionada com uma queixa que dirigiu em 2019. “Se for condenado, paga. Se não for condenado, não paga. Mas tem prestado as garantias e tudo aquilo a que a lei obriga. Continuamos a considerar que é injusto e esperamos que venha a resolução final”, respondeu Pedro Soares dos Santos.

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