Vale mesmo a pena mudar para um carro elétrico?
A opção pode ser vantajosa, sobretudo se o carregamento for feito em casa ou num condomínio, onde a energia é mais barata. Mas tudo depende da utilização. Veja as simulações.
A subida do preço dos combustíveis não é de agora, nem o crescente interesse dos portugueses por carros elétricos, mas numa altura em que a gasolina e o gasóleo nunca foram tão caros, a questão ganha ainda mais pertinência: compensa mudar para um veículo elétrico ou híbrido plug-in, apesar de o preço de aquisição ser mais elevado? Nada como fazer as contas.
As vendas de carros 100% elétricos aumentaram 69% no ano passado e o ritmo mantém-se em 2022. As menores emissões de CO2 na utilização, a autonomia crescente das baterias e a expansão da rede de postos de carregamento (mais de 5.250) somam argumentos ao custo da energia.
O ECO colocou a questão a Alexandre Marvão, especialista na área de mobilidade da DECO PROTESTE, que começa por deixar um apelo. Esta é uma oportunidade “para fazer a transição para o transporte público em vez de usar o veículo próprio, seja qual for a tecnologia. É mais saudável e sustentável”. Até porque, “o transporte coletivo e o transporte ativo [como andar de bicicleta] são as principais armas para cumprir as metas de descarbonização.”
"Perante o atual cenário dos preços dos combustíveis, em determinado tipo de utilizações já compensa. Mesmo aos níveis de preços anteriores já compensava.”
Não sendo possível prescindir do carro próprio, Alexandre Marvão defende que “este é o momento para considerar a compra de um carro elétrico. Perante o atual cenário dos preços dos combustíveis, em determinado tipo de utilizações já compensa. Mesmo aos níveis de preços anteriores já compensava”.
A opção é vantajosa, sobretudo se o carregamento for feito em casa ou num condomínio, onde a energia é mais barata do que nos postos de carregamento públicos. “Responde perfeitamente a quem tenha um carregador privado. É mais confortável e o custo da energia é mais barato que nos postos de carregamento na rua”.
Além do custo da eletricidade ser normalmente mais caro, naqueles últimos são cobradas uma série de taxas por parte do comercializador da energia e do operador do posto de carregamento. “São valores elevados e que oneram o custo do carregamento”, sentencia Alexandre Marvão. No seu simulador, a DECO PROTESTE usa como referência um preço de 0,1215 euros por Kw (vazio) e de 0,2287 euros (fora de vazio) num carregador privado e um valor médio de 0,45 euros por Kw nos postos públicos.
Segundo um comunicado divulgado esta semana pela MOBI.E, que gere a rede de postos, “se carregar em casa, o custo não ultrapassa os 30% do valor da gasolina, enquanto que na rede MOBI.E o custo será, em média, de 70%”.
A opção por um veículo elétrico também depende da utilização que é pretendida. É na cidade que a diferença no bolso mais se faz sentir. Se nos automóveis com motor a combustão o consumo mais elevado está no pára-arranca do circuito citadino, nos elétricos acontece o inverso. Isto porque a relação entre velocidade e consumo é muito linear. Quanto mais baixa, menos bateria gasta. Já em auto-estrada o consumo pode disparar.
Há outras vantagens: os carros elétricos não pagam Imposto Único de Circulação, beneficiam da isenção ou redução no pagamento de parquímetros e a manutenção é mais barata. Ao fim de cinco anos, um carro familiar elétrico pagará, em média, cerca de 900 euros, e um a combustão entre 1.500 e 2.000 euros. Desde logo, porque não há óleo ou filtros do motor para mudar, nem velas ou correias de distribuição, que encarecem a ida à oficina. Já o seguro ou o encargo com pneus são sensivelmente os mesmos, ainda que a travagem regenerativa dos elétricos possa poupar os últimos, bem como as pastilhas dos travões.
O ponto é se estes argumentos e a fatura da energia mais baixa compensam o preço de aquisição mais elevado? “Um carro elétrico custa, em média, mais 10 mil euros do que um veículo idêntico com motor a combustão”, informa o especialista em mobilidade da DECO PROTESTE. Para que a equação da poupança faça sentido, é preciso que o que se paga a mais pela aquisição do elétrico seja mais do que compensado pelos menores custos de utilização.
Uma preocupação de quem pensa em comprar um carro elétrico é a duração das baterias, que têm tipicamente uma garantia de oito anos. Mesmo passado esse tempo, Alexandre Marvão afirma que “os casos de necessidade de substituição das baterias são muito particulares e ligados a utilizações muito intensas”, como os TVDE. Sublinha ainda que o “preço de substituição das baterias tem vindo a baixar”.
"Os híbridos plug-in são uma boa solução transitória, mas apenas se forem bem utilizados. Se não for utilizada a componente elétrica, acaba por consumir mais combustível e emitir mais CO2.”
Um compromisso possível, são os híbridos plug-in, que combinam um motor a combustão com um motor elétrico e uma bateria que pode ser carregada num posto. “São uma boa solução transitória, mas apenas se forem bem utilizados. Se não for utilizada a componente elétrica, acaba por consumir mais combustível e emitir mais CO2 do que um veículo apenas com motor a combustão”, alerta Alexandre Marvão. Isto porque os dois motores e as baterias tornam o híbrido mais pesado.
Nada como comparar os custos de utilização
A DECO PROTESTE criou um simulador que considera, além do custo de aquisição, os encargos com combustível, seguros, IUC, manutenção e pneus, com o objetivo de chegar ao custo por quilómetro de utilização de cada modelo. O simulador está atualizado com os recentes aumentos do preço dos combustíveis.
Vejamos algumas comparações, assumindo uma utilização de cinco anos, com 15.000 km percorridos por ano. Os exemplos são meramente ilustrativos:
- Um Renault Zoe (Z.E. 40 R110 Zen 5p), o terceiro modelo elétrico mais vendido em 2021, com um preço de aquisição de 32.740 euros, tem um custo de utilização de 0,397 euros por km. No caso do Zoe tem ainda a opção de alugar a bateria, o que reduz consideravelmente o valor inicial da compra.
- A versão híbrida do Clio (1.6 E-Tech 140 Initiale Paris 5p), com um PVP de 30.250 euros, apresenta um valor superior: 0,413 euros por km. Ao fim de cinco anos o 100% elétrico poupa 1.153 euros.
- Já a versão do Clio a gasolina (1.0 TCe 90 Zen 5p CVT), com um PVP de 20.450 euros, sai mais em conta: 0,36 euros por km. Só se ficar com o Zoe durante dez anos é que o custo é equivalente.
Subindo para a gama dos carros familiares, o Volkswagen ID.3 compensa face à versão a gasolina com potência idêntica e caixa automática do Golf:
- O Volkswagen ID.3 (150 55KWh Style) tem um preço de compra de 39.265 e um custo de utilização de 0,473 euros por quilómetro.
- O Volkswagen Golf (1.5 eTSI 150 Life 5p DSG) a gasolina, com um PVP de 35.115 euros, tem um custo por km de 0,504 euros. Ao fim de cinco anos, o elétrico poupa cerca de 2.333 euros.
- Na versão do Golf a gasóleo (2.0 TDI 115 Life DSG 5p), com um PVP de 34.639 euros, o custo baixa para 0,451 euros. Neste caso, o ID.3 só compensa ao fim de oito anos, quando consegue uma poupança de 803 euros.
Saltando para os carros de luxo, o elétrico também apresenta vantagens:
- O Tesla Model 3 (Standard Range Plus 4p 325 cv), o elétrico mais vendido em 2021, que segundo o simulador tem um PVP de 50.900 euros, apresenta um custo de utilização de 0,563 por km.
- Comparando com o BMW Série 3 híbrido a gasolina (G20 330e 292 cv 4p Aut.), com um PVP de 55.104,84 euros, o custo por km é mais elevado, mesmo tendo menos potência: 0.574 euros. Ao fim de cinco anos o Tesla poupa 828 euros.
- A versão a gasóleo de 286 cv (G20 330d 286 Line Sport 4p Aut.) é logo à partida mais cara que o Tesla, com um PVP de 65.724 euros e um custo por km de 0,844 euros. Ao fim de cinco anos o elétrico poupa 13.732 euros.
Os preços indicados não incluem o apoio público à compra de veículos elétricos, que o Governo aumentou para 4.000 euros. Conseguindo agarrar o cheque, dificilmente o elétrico perde para os motores a combustão. Mas cada caso é um caso, nada como fazer as contas para ter a certeza se compensa aderir à moda dos elétricos.
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