Portugal financia-se em 1.750 milhões a curto prazo com juros menos negativos
Portugal foi aos mercados financeiros financiar-se a curto prazo pela primeira vez desde que o BCE decidiu acelerar a redução dos estímulos monetários por causa da aceleração da taxa de inflação.
Na primeira emissão de dívida de curto prazo após o início da invasão russa na Ucrânia e da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de acelerar a retirada de estímulos monetários, perante a escalada da taxa de inflação, Portugal emitiu esta quarta-feira 1.750 milhões de euros a taxas menos negativas, refletindo a subida dos juros no mercado secundário.
De acordo com os dados da Reuters, nos títulos com maturidade a 12 meses, o IGCP financiou-se em 1.250 milhões de euros, com uma taxa de -0,467%, em comparação com -0,574% no leilão anterior. A oferta superou em 1,53 vezes a procura, face a 1,67 vezes no leilão anterior.
Nos títulos com maturidade a seis meses, o IGCP financiou-se em 500 milhões de euros, com uma taxa de -0,571%, face a -0,596% no leilão anterior. A oferta superou em 2,6 vezes a procura, menos do que o rácio de 2,76 do leilão anterior.
A última emissão comparável foi feita a 19 de janeiro, antes da guerra e das decisões do BCE. Na altura, Portugal colocou 1.500 milhões de euros em BT, montante máximo indicativo, a seis e a 12 meses, com as taxas de juro a caírem no prazo mais curto para -0,596% — um novo mínimo histórico — e a subirem no prazo mais longo para -0,574%, ligeiramente acima dos -0,594% da emissão anterior comparável.
O IGCP, a agência que gere a dívida pública, conseguiu assim colocar o máximo do intervalo a que se tinha proposto, entre 1.500 e 1.750 milhões de euros. A entidade liderada por Cristina Casalinho anunciou na semana passada que esta quarta-feira iria emitir dívida a seis meses (setembro de 2022) e a 12 meses (março de 2023).
Em reação ao resultado da emissão, Filipe Silva, analista do Banco Carregosa, considera que “o mercado de dívida ajustou-se” às decisões do BCE, “sendo que o movimento acabou por ser mais sentido na dívida de longo prazo”. “No entanto, as taxas de curto prazo também acabam por ter um movimento semelhante, mas com dimensões diferentes“, nota, argumentando que “ainda é positivo para o rollover da dívida nacional conseguirmos emitir com taxas negativas”. Mas “este período de bonança parece começar a ter os seus dias contados“, avisa.
Na semana passada, o IGCP conseguiu emitir a taxas mais baixas a cinco anos, mas os juros subiram na emissão a 12 anos, refletindo o aumento dos juros da dívida portuguesa de longo prazo no mercado secundário. Neste momento, os mercados continuam a incorporar subidas de juros por parte do BCE no médio e longo prazo, mas ainda sem tanto impacto no curto prazo.
Na reunião de política monetária da semana passada, o conselho de governadores do BCE decidiu acelerar a retirada do programa de compra de ativos, o APP, apontando para o terceiro trimestre para o seu fim, caso os dados confirmem as suspeitas do BCE de que a inflação já está ancorada nos 2% no médio prazo. Porém, na mesma reunião, o banco central fez uma mudança cirúrgica ao comunicado para deixar de indicar que aumentará os juros logo depois do fim das compras de ativos, podendo demorar mais tempo até fazê-lo.
(Notícia atualizada às 11h10 com comentário do Banco Carregosa)
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