Endesa rejeita imposição de limites de preço apenas nas centrais a gás

A Endesa admitiu ao ECO que a solução ibérica a apresentar à UE "deve envolver um limite aplicável a todas as utilizações de gás, e não apenas às instalações de ciclo combinado".

As grandes empresas que em Portugal e Espanha produzem eletricidade em centrais de ciclo a gás natural rejeitam qualquer intervenção estatal nos preços do gás, e muito menos a imposição de limites ao valor pelo qual podem vender em mercado a sua energia, apurou o ECO.

A Endesa é uma delas, que admite frontalmente que se trata de uma medida nociva.

“Não acreditamos que seja uma medida que resolva os problemas atuais. A solução deve envolver um limite sobre os preços do gás, aplicável a todas as utilizações de gás, e não apenas às instalações de ciclo combinado”, disse fonte oficial da Endesa em declarações ao ECO.

Sendo parte interessada no assunto, referem que há ainda muita incerteza quanto ao que será proposto à UE e defendem a manutenção de um mercado grossista livre, como tem acontecido até agora.

A Endesa tem 5 centrais em Espanha (2.400 MW) e outra participada em 50% (Elecgas) em Portugal (800 MW). Já a EDP, que não se quis pronunciar sobre o assunto, tem duas centrais a gás em Portugal e uma em Espanha.

Apesar dos diferendos anunciados, Portugal e Espanha continuam sentados à mesa das negociações e estão a trabalhar numa nova solução, desta vez através de uma medida que prevê um limite específico e aplicável apenas às centrais de ciclo combinado a gás natural, apurou o Expresso.

O jornal diz que o mecanismo é temporário e passa por “limitar o preço de venda das centrais de ciclo combinado a gás natural”. Isto sem mexer na estrutura (marginalista) do mercado grossista, nem impedir a “livre atuação dos produtores de eletricidade na colocação de ofertas no mercado diário”. Desta forma, os restastes produtores de energia ficarão inibidos de praticar preços mais altos, diz o Expresso.

O jornal revela ainda que, tal como na proposta inicial que estava em cima da mesa, as centrais a gás terão uma garantia de compensação caso o limite de preço que lhes for imposto fique aquém do preço “normal” de venda da energia.

O assunto será certamente abordado esta tarde pelo primeiro-ministro António Costa, no Parlamento, na reunião da Comissão Permanente, durante o debate preparatório do Conselho Europeu, a realizar nos dias 24 e 25 de março.

Esta segunda-feira, depois do Governo espanhol ter recuado no plano conjunto ibérico que vinha a ser negociado para apresentar no Conselho Europeu no final desta semana, para impor um limite de 180 euros por MWh nos mercados grossistas europeus, e assim travar o preço do gás usado para produzir eletricidade, Portugal optou por manter-se em silêncio.

De Espanha chegavam notícias que o Ministério para a Transição Ecológica estaria já a trabalhar “noutras opções, que permitam obter maior unanimidade no seio da UE”. Ou seja, que travem o impacto do preço do gás no preço da eletricidade, mas de outra forma: sendo o próprio sistema elétrico a pagar a diferença entre as centrais a gás e as centrais elétricas sem emissões, obtendo um preço médio horário mais justo.

O ECO questionou o Ministério do Ambiente e da Ação Climática sobre a mudança repentina de ideias, que respondeu não ter “nada a acrescentar sobre esse tema”.

Já em Espanha, o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, e a ministra para a Transição Ecológica, Teresa Ribera, têm encontro marcado no Palácio de la Moncloa, esta terça-feira à tarde, com os responsáveis das maiores elétricas espanholas, para lhes apresentar as linhas gerais do que será apresentado em Bruxelas, nomeadamente no que diz respeito ao travão nos preços do gás para tentar conter os preços da eletricidade.

Na segunda-feira, Sánchez esteve reunido em Bruxelas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sendo que ambos concordaram que são necessárias medidas fortes e conjuntas para toda a UE, para assegurar o fornecimento de energia e preços razoáveis para os consumidores.

“Neste momento, o mercado energético europeu não reflete a realidade, por isso temos de tomar medidas à escala europeia, tanto do lado da oferta como do lado da formação de preços, para proteger os cidadãos e a indústria”, disse Sánchez.

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