Um mês de montanha-russa no preço da energia e combustíveis
A invasão da Ucrânia levou o preço das matérias-primas energéticas para recorde. Entretanto baixou, mas continua muita acima do que era antes do conflito.
Um mês depois da entrada das tropas russas em território ucraniano, o mundo, e a Europa em particular, vive um novo paradigma energético. O receio da interrupção no fornecimento de matérias-primas como o gás ou o petróleo por um dos maiores produtores, trouxe uma nova realidade marcada por preços muito elevados. Que, por enquanto, parece ter vindo para ficar.
O impacto da guerra nos preços é visível na variação acentuada no preço do gás natural na Europa, que está agora 40,4% mais caro do que antes da invasão na Ucrânia. A cotação passou de 88,33 dólares por megawatt-hora (MWh) para os 124 dólares registados hoje.
O que por sua vez se traduziu num agravamento do custo da eletricidade no mercado grossista ibérico de idêntica dimensão (40,9%), com o preço médio do MWh a saltar dos 163,17 para os 230 euros.
A alta nos preços da energia estende-se ao petróleo e seus derivados. O Brent, que serve de referência para a Europa, está 25,4% mais caro do que no dia anterior à invasão, quando cotava nos 96,84 dólares por barril. Agora está nos 121,45 dólares.
A subida teve reflexo no custo dos combustíveis nos postos de abastecimento um pouco por todo o Ocidente. No caso da Zona Euro, foi ainda ampliada pela desvalorização da moeda única contra o dólar, com os investidores a procurarem a segurança da divisa dos EUA.
Em Portugal, o preço médio do gasóleo simples passou dos 1,66 euros por litro para 1,839 euros (+10,8%) e o da gasolina simples dos 1,816 para 1,919 euros (+5,7%), segundo dados da Direção de Geologia e Energia. Como o diesel subiu mais nos mercados, o gasóleo chegou, pela primeira vez, a ser mais caro do que a gasolina em muitos postos.
Recuo face aos máximos
Apesar da escalada, o preço da generalidade das matérias-primas energéticas afastou-se dos máximos e recordes atingidos nas últimas semanas. É o caso do gás natural, que chegou aos 345 dólares por MWh no dia 7 de março e entretanto recuou 64%. O mercado grossista de eletricidade regista um desempenho idêntico, depois de ter fixado um recorde de 651 euros por MWh a 8 de março.
O petróleo, que no dia 7 de março se abeirou dos 140 dólares por barril, está agora 12,7% mais barato. Nos postos de combustível, o preço médio por litro do gasóleo chegou aos 1,992 euros e o da gasolina aos 2,037 euros em meados de março. Entretanto baixou 7,7% e 5,8%, respetivamente.
Em qualquer caso, os valores estão muito acima do que estavam antes do conflito, contribuindo para acelerar a inflação para os 7,9% nos EUA e 5,8% na Zona Euro. E a expectativa é que assim se mantenham nos próximos meses, perante a possibilidade de sanções europeias que ponham um fim às importações russas de bens energéticos. Uma medida já tomada pelos EUA, e acompanhado pelo Reino Unido e Austrália, no caso do petróleo.
A União Europeia tem resistido a dar esse passo, devido à dependência das matérias-primas do país de Vladimir Putin. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a União Europeia comprou 155 mil milhões de metros cúbicos de gás à Rússia em 2021, o equivalente a 45% das importações e perto de 40% do consumo. O país fornece ainda cerca de 27% do petróleo, 14% do gasóleo e perto de metade do carvão.
A opção política na UE tem sido procurar alternativas que permitam reduzir a dependência de Moscovo antes de cortar as importações. A Alemanha, por exemplo, fechou este fim de semana um acordo com o Qatar para o fornecimento de gás natural. O bloco pode, no entanto, ser levado a tomar medidas mais drásticas, caso a crueldade da ofensiva militar escale ainda mais, por exemplo com o uso de armas químicas contra civis.
Nos meios financeiros continuam a surgir previsões para preços mais altos, nomeadamente no petróleo. Doug King, um veterano do mercado de matérias-primas e gestor do Merchant Commodity Fund, afirmou à Bloomberg que o petróleo ainda chegará aos 150 dólares este ano. O mundo tem poucas alternativas para reforçar a produção e o consumo não dá sinais de recuar.
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