EDP só admite intervenção no Mibel de curto prazo e centrada no gás natural
“O modelo atual funciona bem e qualquer intervenção deve ser limitada no tempo, e deve ser mínima", disse Miguel Stilwell d'Andrade em entrevista à Bloomberg, em Londres.
Foi preciso ir a Londres reunir com analistas, para o CEO da EDP, Miguel Stilwell d’Andrade, se pronunciar sobre os planos de Portugal e Espanha para travar os aumentos estratosféricos dos preços da eletricidade nos mercados grossistas. Na sua visão, qualquer intervenção dos governos dos dois países deve ser a curto prazo e ter como alvo os preços do gás natural.
“O modelo atual funciona bem e qualquer intervenção deve ser limitada no tempo, e deve ser mínima“, disse o CEO em entrevista à Bloomberg. Além disso, qualquer limite imposto deverá ser “muito focado” nos combustíveis fósseis, sobretudo no gás natural, pela sua influência nos preços da energia elétrica.
Stilwell d’Andrade fala de “duas intervenções”, ajudando os consumidores mais afetados pela subida dos custos da energia sem distorcer os preços, já que isto levaria a “subsídios indiretos” para diferentes partes do mercado.
A EDP tem duas centrais de ciclo combinado a gás natural em Portugal e uma em Espanha.
Já a Endesa, por seu lado, diz que qualquer solução para travar os preços da eletricidade no mercado grossista “deve envolver um limite aplicável a todas as utilizações de gás, e não apenas às instalações de ciclo combinado”.
A elétrica espanhola rejeita, assim, como medida nociva qualquer intervenção estatal nos preços do gás, e muito menos a imposição de limites ao valor pelo qual podem vender em mercado a sua energia.
Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa em Portugal, diz que “será complicado porque haverá sempre uma intervenção nas regras de mercado”. Questionado sobre se os produtores de energia elétrica em centrais a gás vão ficar prejudicados, Ribeiro da Silva diz que “depende”.
“Há muitos aspetos que ainda não estão estudados e testados. Vamos ver como é que acaba por ficar. Há muitos cenários. E ainda falta a fase implementação”. A Endesa tem 5 centrais em Espanha (2.400 MW) e outra participada em 50% (Elecgas) em Portugal (800 MW).
Portugal e Espanha querem limitar preço do gás a 30€/MWh para travar preços da eletricidade
Entretanto, os governos de Portugal e Espanha já avançaram para a entrega em Bruxelas de uma primeira proposta para travar os aumentos dos preços da eletricidade nos mercados grossistas, noticiou esta quinta-feira o Público (acesso pago).
De acordo com documentos a que o jornal tece acesso, a medida deverá vigorar até 31 de dezembro de 2022 e fixa um custo máximo para o combustível que as centrais fósseis podem incorporar nas suas ofertas no mercado ibérico grossista de 30 euros por megawatt hora para as centrais a gás, carvão e cogerações.
A proposta considera “um preço ‘normal’ para os tempos pré-crise”, que deverá ser “internalizado pelas tecnologias marginalistas [as mais caras]”. A única questão é que os 30 euros por MWh estão muito abaixo dos preços a que o gás está a ser transacionado nos mercados europeus — cerca de 120 euros — ou seja, quatro vezes mais.
A proposta anterior, que foi rejeitada por Espanha e já descartada, falava de um teto máximo de 180 euros por MWh mas aplicado ao preço final da energia elétrica no mercado grossista ibérico, sem determinar qualquer valor para o gás usado nas centrais, como acontece agora.
A nova proposta ibérica será então o ponto de partida para as conversações com a Comissão Europeia sobre o mecanismo extraordinário destinado a “evitar o efeito de contágio da escalada de preços do gás ao mercado elétrico”, indica o Público.
Ainda de acordo com a proposta ibérica, o valor do mecanismo de ajustamento de custo será calculado todos os dias antes do leilão e “publicado para que todos os agentes de mercado saibam qual é”.
A sua criação representa assim uma obrigação de pagamento (compensação face aos preços reais do gás), que será distribuída pelo operador de mercado [o OMIE] entre “todos os compradores que participem no mercado elétrico” em proporção da energia contratada.
Apesar do custo extra adicionado do lado da procura elétrica, revela o Público, “o preço final será mais baixo do que os preços marginais anteriores ao mecanismo de ajustamento”, garantem Portugal e Espanha.
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