PS critica “manobras de distração” na nomeação do governador do Banco de Portugal
Mendonça Mendes recorda que "Carlos Costa, secundado pelos partidos da AD", dizia que uma auditoria da IGF "era uma forma de o governo querer controlar o Banco de Portugal".
O PS defendeu esta quarta-feira que o Governo deve tomar a decisão política de escolha do governador do Banco de Portugal sem “manobras de distração” como a auditoria da Inspeção Geral de Finanças (IGF), um pedido que considerou “muito irónico”.
Em declarações à agência Lusa, o vice-presidente do grupo parlamentar do PS António Mendonça Mendes adiantou que os socialistas vão pedir a audição do ministro das Finanças para que esclareça “se tinha ou não conhecimento de toda esta operação de compra da sede do Banco de Portugal e se a mesma só lhe levantou dúvidas agora”, referindo-se à auditoria que o Governo vai pedir à IGF sobre este novo edifício.
O Expresso adiantou, entretanto, que o Banco de Portugal partilhou toda a documentação com o Ministério das Finanças sobre a compra do edifício em Entrecampos. O memorando de entendimento, tal como as due diligence técnica e jurídica, foi enviado para o Terreiro do Paço a 27 de fevereiro. E a 30 de abril chegou ao ministério liderado por Miranda Sarmento a minuta do contrato-promessa de compra e venda.
O ministério das Finanças, a 22 de julho, indicou que “o Ministério das Finanças nunca teve um conhecimento completo da situação”.
“Da parte do PS estaremos sempre do lado de toda a transparência, de todos os esclarecimentos, mas nunca iremos pactuar com falhas de memória seletiva e muito menos com manobras de distração que querem apenas criar um contexto justificativo de tomadas de decisões que o Governo já deveria ter tomado em relação ao Banco de Portugal”, criticou.
Considerando que o executivo de Luís Montenegro tem toda a legitimidade política para tomar as decisões que entenda”, Mendonça Mendes apontou que este “poderá ser o primeiro Governo a não reconduzir para um segundo mandato um governador do Banco de Portugal”.
Na perspetiva do deputado do PS e antigo secretário de Estado, “é muito irónico que seja o atual ministro das Finanças a chamar a IGF para auditar uma operação do Banco de Portugal”.
“Acho irónico. Nós podemos recordar agora aquilo que o então governador Carlos Costa dizia sobre a introdução que o Governo PS queria fazer na lei, e que não foi feita, que a IGF tinha poderes de auditoria relativamente ao Banco de Portugal”, referiu.
De acordo com Mendonça Mendes, “Carlos Costa, secundado pelos partidos da AD, dizia que isso era uma forma de o governo querer controlar o Banco de Portugal”.
“O Governo tem uma decisão política que já deveria ter tomado e tem que a tomar e é essa decisão política que o país aguarda. Acho que o Governo tem uma responsabilidade de ser o primeiro garante daquilo que é a estabilidade e a defesa das instituições democráticas, sejam elas quais forem”, apontou.
Esta polémica com o novo edifício surgiu a dias de se saber quem será o governador do banco central nos próximos cinco anos. O mandato de Mário Centeno enquanto governador do BdP terminou no domingo sem que o Governo tivesse indicado sucessor. A decisão será conhecida na quinta-feira, dia da reunião do Conselho de Ministros, segundo fez saber o primeiro-ministro.
O jornal online Observador noticiou na segunda-feira, 21 de julho, que o valor das futuras instalações será superior a 192 milhões de euros, pois o valor refere-se apenas às obras estruturais, estimando o jornal que o custo total possa subir para 235 milhões de euros.
O jornal noticiou ainda haver alertas de consultores do Banco de Portugal, designadamente sobre os licenciamentos e a eventual necessidade de avaliação de impacte ambiental na construção do parque de estacionamento.
A IGF, a quem Joaquim Miranda Sarmento vai solicitar a auditoria, é um serviço do Ministério das Finanças responsável pela inspeção de entidades do setor público administrativo, que funciona na direta dependência do ministro das Finanças, mas com autonomia administrativa. A informação levou a instituição a reagir em resposta a questões da Lusa, dizendo que cumpre todas as normas no processo de compra do edifício.
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