É possível recuperar os 3,34 mil milhões que os contribuintes colocaram na TAP?

PS e Chega vieram exigir que a privatização da companhia aérea permita recuperar o dinheiro que os contribuintes colocaram na companhia. Será uma missão impossível?

O anúncio da privatização de 49,9% da TAP pelo primeiro-ministro foi seguido pela exigência de PS e Chega de que o dinheiro colocado pelos contribuintes portugueses seja inteiramente devolvido. É uma missão possível? Ou “não casa com a realidade”, como afirmou o ministro das Finanças?

O primeiro ponto a esclarecer é qual a soma que está em causa. Considerando apenas os montantes que entraram na TAP após a pandemia, a conta chega aos 3.344 milhões de euros. Em 2020, o Governo de António Costa começou por avançar com um empréstimo de emergência de 1.200 milhões de euros. Valor que, em conjunto com juros de 59 milhões, acabaria por ser convertido em capital da companhia aérea. No âmbito do programa de reestruturação da TAP acordado com Bruxelas, há ainda que somar os 569 milhões em compensações pagas pelo Estado à TAP devido aos danos provocados pela Covid-19 e 1.516 milhões em aumentos de capital. A esta conta poderiam ainda ser adicionados os 55 milhões que foram pagos pelo Estado ao empresário David Neeleman pelos 22,5% que tinha da companhia aérea.

Após o anúncio da privatização, o líder do Chega, André Ventura, exigiu “a devolução aos contribuintes do dinheiro que já se investiu na TAP” e criticou Luís Montenegro por não conseguir “esclarecer como é que os contribuintes vão ser ressarcidos do dinheiro que lá colocaram”.

O novo secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, defendeu que “os três mil milhões investidos pelo Estado na pandemia devem, no médio e longo prazo, ser objeto de reembolso aos contribuintes portugueses”.

Há desde logo uma contradição insanável entre esta exigência e a posição política dos dois partidos em relação à participação da TAP a alienar na privatização: quer o Chega quer o PS são contrários a uma venda maioritária, o que condicionou a ação do Governo e o levou a optar por alienar 49,9% do capital.

A maioria das aquisições anteriores por grupos de aviação foram com controlo maioritário, pelo que qualquer possibilidade de interferência do Governo irá inevitavelmente reduzir a avaliação.

Stephen Furlong

Analista sénior do banco de investimento Davy

Não só o encaixe para o Estado é menor, como uma venda minoritária, que não comporta um prémio de controlo do capital pelo comprador, reduz o montante que os interessados poderão oferecer. “A maioria das aquisições anteriores por grupos de aviação foram com controlo maioritário, pelo que qualquer possibilidade de interferência do governo irá inevitavelmente reduzir a avaliação e o interesse, mas o diabo estará nos detalhes”, afirma Stephen Furlong, analista sénior do banco de investimento irlandês Davy.

O modelo proposto pelo Governo atribuirá a gestão corrente ao futuro comprador de 44,9% das ações (as restantes 5% são para os trabalhadores), mas o Estado terá a última palavra em decisões estratégicas sobre rotas, o hub no aeroporto de Lisboa ou a localização da sede.

Será que vendendo 100% da TAP seria possível ressarcir os contribuintes?

A comparação feita pelo ministro das Finanças é elucidativa. “Devemos ser rigorosos e olhar para os factos e realidade. Se 49,9% da TAP valessem 3,2 mil milhões de euros, significaria que a TAP valeria 6,4 mil milhões de euros. A Air France-KLM, que tem seis vezes mais aviões e transporta seis vezes mais passageiros e está cotada em bolsa, vale 3 mil milhões de euros”, disse Miranda Sarmento no briefing após o Conselho de Ministros, em resposta a perguntas sobre os comentários do líder do PS.

Em números exatos e não redondos, a Air France-KLM tem um valor em bolsa de 2,89 mil milhões de euros. Um sexto seriam 482 milhões.

Se tivermos em conta que a TAP gerou em 2024 meios libertos de exploração (EBITDA) que são praticamente um quinto da companhia franco-neerlandesa (um rácio habitualmente usado), o valor total da transportadora portuguesa seria de 596 milhões de euros.

As últimas avaliações à TAP, encomendadas ao Banco Finantia e à consultora EY, não foram divulgadas. As anteriores, realizadas pelas mesmas entidades, apontavam para um valor de 1,1 mil milhões.

O analista financeiro independente Nuno Barradas Esteves avalia a TAP entre 1.720 e 1.745 milhões de euros, “recorrendo ao método dos cash-flows descontados e com base numa perspetiva prudente, ancorada nas quatro últimas transações e avaliações relevantes do setor — com destaque para a ITA Airways”.

Todos estes números ficam muito longe dos 3,34 mil milhões que os contribuintes colocaram na companhia aérea portuguesa e mostram a impossibilidade de cumprir a exigência de PS e Chega através de uma privatização parcial ou mesmo total. O montante da venda poderia ser complementado com o pagamento de dividendos ao Estado, mas chegar àquela soma demoraria décadas.

Impostos e contribuições sociais pagam injeção do Estado numa década

“Não é por aí que conseguimos que a TAP devolva à sociedade o que a sociedade nela aplicou”, afirma Miguel Frasquilho, que foi presidente do conselho de administração da empresa entre 2017 e 2021. “Sendo a TAP bem gerida, podia em dez anos devolver em triplo o que foi colocado entre 2020 e 2022”, refere, lembrando um artigo publicado no ECO em 2021, assinado em conjunto com o então CEO, Ramiro Sequeira.

Estamos a falar de empregos que são criados direta e indiretamente, do pagamento de impostos diretos e indiretos, das contribuições para a Segurança Social, das receitas fiscais do turismo, e do crescimento económico gerado. Sem a TAP estas receitas não existiriam.

Miguel Frasquilho

Antigo 'chairman' da TAP

Estamos a falar de empregos que são criados direta e indiretamente, do pagamento de impostos diretos e indiretos, das contribuições para a Segurança Social, das receitas fiscais do turismo, e do crescimento económico gerado”, aponta Miguel Frasquilho. “Sem TAP estas receitas não existiriam”.

Assumindo o dobro do IRS e Imposto do Selo pago pela companhia nos primeiros seis meses de 2024, comunicado à Assembleia da República pelo Governo, chega-se a uma soma de 189,8 milhões de euros. Fazendo o mesmo para as contribuições sociais, são mais 192,37 milhões. Todo junto perfaz 382,2 milhões. Numa década, a TAP terá entregue ao Estado 3.882 milhões de euros, mais do que foi injetado na companhia.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 14 Julho 2025

O Conselho dos Negócios Estrangeiros da UE debate as relações comerciais de Trump e o INE mostra como evoluiu o setor da construção. Os combustíveis ficam mais caros.

Com o arranque da semana há na Europa vários debates e discussões relacionados com a área do comércio, da habitação e da agricultura e pescas. Por cá, o INE mostra como evoluiu o setor da construção em maio. A semana fica também marcada pelo encarecimento dos combustíveis.

Conselho dos Negócios Estrangeiros da UE debate relações comerciais com EUA

O Conselho dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) reúne esta segunda-feira os ministros responsáveis pela área do comércio para debater o estado atual das relações comerciais entre a UE e os Estados Unidos. Realizam ainda um debate político sobre as relações comerciais entre a UE e a China e discutem as negociações comerciais em curso e o estado de vários acordos comerciais. Portugal está representado pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Inês Domingos.

Como evolui o setor da construção?

O Instituto Nacional de Estatística (INE) vai divulgar as estatísticas dos índices de produção, emprego, remunerações na construção relativos a maio. Em abril, a atividade da construção em Portugal acelerou o seu crescimento face ao mês anterior, aumentando 1,9%, numa variação superior em 0,7 pontos percentuais (p.p.) à observada em março.

União Europeia discute Agricultura

Reúnem-se hoje também os ministros dos Estados-membros da União Europeia (UE) responsáveis pela Agricultura e pelas Pescas, para trocar pontos de vista sobre a situação do mercado, em especial na sequência da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, sobre o abastecimento, a produção e a sustentabilidade das proteínas. Portugal está representado pelo ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes.

Combustíveis ficam mais caros

Esta semana o preço dos combustíveis fica mais caro após ter baixado nas duas semanas anteriores. Enquanto o preço do gasóleo, o combustível mais utilizado em Portugal, sobe três cêntimos, a gasolina fica 1,5 cêntimos mais cara. Quando for abastecer, deverá assim pagar 1,6032 euros por litro de gasóleo simples e 1,6904 euros por litro de gasolina simples 95, tendo em conta os valores médios praticados nas bombas à segunda-feira, divulgados pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG).

Debate sobre crise de habitação na União Europeia

Realiza-se também esta segunda-feira no Parlamento Europeu uma audiência pública sobre como lidar com a vacância e a reutilização de habitações vazias na União Europeia (UE). O debate foca-se em investigar como o parque habitacional vazio na Europa pode ser reutilizado para habitação acessível, incluindo medidas legais, financeiras e administrativas para incentivar o uso em vez da especulação, e conta com a participação de representantes associativos europeus do setor imobiliário e membros da sociedade civil.

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Anivec avança com ação em Bruxelas para pôr fim aos ‘minimis’ e ao Sistema de Preferências europeu

“Já tentámos tudo através da diplomacia e vamos continuar a tê-la. Mas achámos que uma ação em Bruxelas vai permitir despertar a consciência do Parlamento Europeu”, disse ao ECO César Araújo.

A Anivec vai intentar uma ação em Bruxelas para pôr fim aos minimis e ao Sistema de Preferências Generalizadas europeu (SPG) e exigir reciprocidade nas trocas comerciais. Quer também que “todos os agentes económicos que têm relação com a Europa paguem taxa aduaneira e IVA”, avançou ao ECO César Araújo.

“Pretendemos acabar com os minimis e o SPG”, e exigir “reciprocidade”. “Todos os produtos que entram na Europa têm de ter um controlo aduaneiro, têm de pagar IVA e têm de pagar a taxa aduaneira, porque estão a criar uma grande pressão na indústria”, explicou o presidente da Anivec, à margem do primeiro Conversas com Fomento, do qual o ECO foi media partner.

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Os minimis é o mecanismo criado na Europa para permitir que mercadorias abaixo de 150 euros entrem na Europa sem pagar taxas aduaneiras nem IVA, explicou o responsável. Já o SPG é o sistema que “permite que mais de 71 países exportem para a Europa sem qualquer tipo de taxa aduaneira nem controle alfandegário”, critica.

César Araújo sublinha o facto de a economia mundial atravessar “uma incerteza enorme” que, na sua opinião, “tinha de acontecer” porque “o mundo está desequilibrado” com “países que só querem vender e outros que estão a comprar muito e que estão a enfrentar grandes dificuldades”. “Tem de começar a existir a reciprocidade”, sustenta.

Já tentámos tudo através da diplomacia e vamos continuar a tê-la. Mas achámos que uma ação em Bruxelas vai permitir despertar a consciência do Parlamento Europeu”, explicou o responsável.

César Araújo rejeita as acusações de que a indústria europeia não é competitiva. “Não é verdade. Não somos competitivos porque a Europa está a permitir países terceiros que introduzem mercadorias na Europa sem qualquer rastreamento e sem qualquer pagamento de taxas aduaneiras nem IVA”, diz. “Com uma agravante”, acrescenta, “as nossas divisas estão a ser exportadas para esses países, o que quer dizer que hoje a nossa pressão da inflação, surge não só pelos aumentos dos preços, mas pela deslocalização dos nossos recursos monetários”.

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Agricultura cria linha de crédito com juros zero para projetos sem verbas

Projetos que transitam do PDR 2020 para o PEPAC, para os quais não havia verba, serão financiados com uma linha de crédito aos agricultores, disponibilizada até ao final do mês e que não terá custos.

O ministro da Agricultura garante que já tem uma solução para os projetos que transitam do PDR 2020 para o PEPAC. Até ao final do mês será disponibilizada uma linha de crédito aos agricultores, sem custos. Mas há um problema: José Manuel Fernandes só reconhece a validade de cem milhões de euros em projetos.

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A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) escreveu uma carta ao primeiro-ministro e ao ministro da Agricultura na qual fala da “flagrante incapacidade de gestão técnica, operacional e financeira” do PDR 2020 e do pedido único de 2025. No primeiro caso, porque existem 255 milhões de euros que estão comprometidos para este ano, mas que não há dinheiro para os pagar.

“O PDR 2020 termina o seu período do N+3, agora em dezembro de 2025. O regulamento comunitário obriga a executar as verbas de cada fundo dentro do período do fundo mais o número de anos adicionais, o N+2 ou N+3. E este ano é o último para fazer os pagamentos”, explicou o presidente da CAP, no ECO dos Fundos.

“O que está comprometido para o N+3 não é possível pagá-lo senão neste período. Ora, diz-nos a autoridade de gestão, informação dada pelo Ministério da Agricultura, que estão comprometidos 255 milhões e que, neste momento, não há verba para os pagar”, criticou.

Álvaro Mendonça e Moura fez questão de frisar que a informação lhes foi “dada diretamente pela Autoridade de Gestão dos Fundos. É o Ministério da Agricultura que nos dá essa informação”.

No entanto, ao ECO, José Manuel Fernandes rejeita o montante. “Esses 255 milhões, não sei onde é que os foram buscar. O montante da transição de projetos do PDR 2020 para o PEPAC, nas contas que me entregaram, é de 100 milhões”, disse o ministro da Agricultura à margem do evento Conversas com Fomento, que decorreu em Santa Maria da Feira.

“E temos uma solução para esses 100 milhões, que é uma linha de crédito que estará pronta até ao fim deste mês, onde o Banco Português de Fomento também participa, e onde os promotores terão o acesso aos montantes a que têm direito em termos de pagamentos que estão validados e não vão ter nenhuma despesa adicional, porque os juros serão suportados a 100% pelo Orçamento do Estado”, explicou José Manuel Fernandes.

Mendonça e Moura foi muito claro no recado que enviou ao ministro da agricultura: “Não se imagine que recorrer a uma linha de crédito, que implique a assunção de encargos pelos agricultores, é uma solução”, alertou.

É impensável que sejam os agricultores a suportar a incompetência da gestão. Isso não é possível. Os agricultores assumiram, de boa-fé, determinados compromissos, compromissos com o Estado. Não podem ser eles a arcar com a incompetência de quem gere e idealizou este programa. Isso é impensável”, disse nos ECO dos Fundos, o presidente da CAP.

A solução de facto passará por uma linha de crédito, mas sem encargos para os agricultores dado que os juros serão pagos pelo OE. “O ministro das Finanças foi compreensível e impecável e, portanto, é o Orçamento do Estado que vai assumir os juros e esse problema fica resolvido e ainda fica resolvida uma outra questão, que é um objetivo”, garantiu José Manuel Fernandes.

“Estamos a resolver problemas que herdámos”, queixou-se o antigo eurodeputado. “Houve um overbooking que foi exagerado em 2023, porque não tinha havido um planeamento e o Governo, com medo de perder recursos e face à má execução dos fundos, meteu ali uma série de projetos que não era necessário que estivessem no PDR 2020, e que podiam estar agora no PEPAC”, contextualizou o responsável.

“Queremos executar tudo o que temos em termos dos envelopes nacionais, dos fundos, e não queremos perder um cêntimo e ao que vai acontecer não vamos perder um cêntimo”, concluiu.

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Investimento no setor agrícola supera os 4.100 milhões na Península Ibérica

Aproximadamente um terço do investimento em agronegócio na Península Ibérica, nos últimos três anos, foi gerado em Portugal, mostra o estudo da CBRE.

Entre 2022 e 2024, o investimento institucional no setor agrícola ultrapassou os 4.100 milhões de euros, de acordo com o relatório “Agribusiness Iberian Report” divulgado esta segunda-feira pela CBRE.

Na primeira metade do ano, o volume de investimento institucional foi superior a 500 milhões de eurosmais de metade de todo o montante transacionado em 2024 no mercado ibérico (800 milhões de euros), detalha ao ECO Manuel Albuquerque, responsável pelo departamento de agribusiness na CBRE no Sul da Europa (Espanha, Portugal e Itália).

Estes números evidenciam um setor que é atrativo e que já tem uma certa escala, porque 4 mil milhões transacionados já é um mercado relevante mas, por outro lado, quando olhamos ano a ano, também evidencia que há desafios. Têm que ser abordados e, quando não são bem abordados, podemos ter uma reação menos positiva no mercado, que foi o que aconteceu em 2024″, explica Manuel Albuquerque, referindo-se às consequências das alterações climáticas, a burocracia nos processos agrícolas e as limitações comerciais.

Relatório Agribusiness Iberian Report da CBRE

O responsável na CBRE pelo departamento de agribusiness no Sul da Europa acredita que o investimento institucional nos últimos anos “tem sido impulsionado pela perspetiva de rentabilidades sólidas a longo prazo e pela oportunidade de construir portefólios diversificados”, destacando que “a previsão de concretização das operações adiadas no ano passado, aliada ao ajustamento das expectativas de preço entre compradores e vendedores, e a um setor cada vez mais especializado e profissionalizado, continuará a dinamizar o mercado, que conta cada vez com mais intervenientes envolvidos”.

Uma das grandes operações que marcou o arranque de 2025 foi a venda dos ativos do grupo espanhol Agrihold, participado pelas famílias Martinavarro e Ballester, fundadoras da Citri&CO, numa transação de 700 hectares no Alentejo (Herdade da Zambujeira).

Por regiões, o porta-voz da consultora assinala ao ECO que existe um volume de transações muito relevante na região do Alqueva, e em Espanha destaca Andaluzia e a região do Levante. Com atividades mais moderadas em território nacional, destaque para o Ribatejo, Idanha e Algarve e no país vizinho Aragão, Extremadura e Castela-Mancha.

A CBRE, que analisou o perfil dos investidores no setor do agronegócio ibérico entre 2022 e 2024, mapeando mais de 500 intervenientes e o volume transacionado nesse período, adianta que o capital institucional já representa cerca de metade do investimento realizado na região, englobando três perfis principais:

  • Fundos especializados em Agribusiness — criados especificamente para investir neste tipo de ativo e com equipas dedicadas —, que representam 25% do capital;
  • Fundos generalistas, como private equity ou imobiliários com exposição a vários setores, que somam 14%;
  • Family offices, responsáveis por gerir o património de famílias ou de investidores de elevado património líquido, com uma maior preferência por tickets pequenos e médios, que representam 10%.

De acordo com o estudo, os produtores industriais, que representam 51% do capital investido no setor ibérico nos últimos anos, não atuam numa lógica de investimento financeiro, mas sim numa perspetiva operacional. São, na sua maioria, empresas com raízes industriais — muitas vezes privadas ou de cariz familiar — que expandem a sua atividade no agronegócio como parte do seu crescimento estratégico, e não enquanto gestores de capital.

Mais de 40% das transações foram inferiores a dez milhões de euros

Este dinamismo do setor reflete-se também na diversidade das operações realizadas: mais de 40% das transações entre 2022 e 2024 foram inferiores a dez milhões de euros, cerca de 40% situaram-se na faixa entre 10 e 50 milhões de euros, enquanto os investimentos superiores a 50 milhões representaram aproximadamente 20% do total. As transações acima de 100 milhões de euros constituíram uma parcela menor, evidenciando um mercado segmentado e com oportunidades para vários perfis de investidores.

A Península Ibérica alcançou em 2024 o primeiro lugar na Europa em valor de produção agrícola, o que reforça o seu posicionamento como o mercado de investimento mais institucionalizado e atrativo a nível geoestratégico.

Manuel Albuquerque

Responsável pelo departamento de agribusiness na CBRE no Sul da Europa

“A Península Ibérica alcançou em 2024 o primeiro lugar na Europa em valor de produção agrícola, o que reforça o seu posicionamento como o mercado de investimento mais institucionalizado e atrativo a nível geoestratégico”, adianta Manuel Albuquerque, destacando que a “crescente profissionalização do setor está a abrir caminho a uma maior diversidade de investidores — desde produtores industriais com operação própria, a investidores imobiliários que compram para arrendar, até fundos financeiros como private equity ou fundos de pensões internacionais, com tickets que podem ultrapassar os 100 milhões de euros”.

Burocracia nos processos agrícolas e limitações comerciais são os maiores obstáculos

Os desafios de sucessão geracional, a necessidade de eficiência e as consequências das mudanças climáticas estão a transformar o setor, com a rotação de ativos, alteração de culturas e aumento da dimensão das explorações.

O responsável pelo departamento de agribusiness na CBRE no Sul da Europa explica ao ECO que “num setor profundamente globalizado não se pode ignorar os fatores de risco como a burocracia nos processos agrícolas ou as limitações comerciais e logísticas, impostas por medidas aduaneiras”.

Num setor profundamente globalizado não se pode ignorar os fatores de risco como a burocracia nos processos agrícolas ou as limitações comerciais e logísticas impostas por medidas aduaneiras.

Manuel Albuquerque

Responsável pelo departamento de agribusiness na CBRE no Sul da Europa

Manuel Albuquerque considera que o Governo pode ajudar a “agilizar os processos” e pede mais celeridade nas licenças imobiliárias por parte das câmaras municipais e juntas, essencialmente de zonas mais rurais.

Em relação às tarifas e obstáculos aduaneiros, o porta-voz da CBRE afirma que o agronegócio é um “mercado globalizado que tem agora uma disrupção de comércio global impulsionada por guerras comerciais e questões geopolíticas”. “A instabilidade é sempre má”, nota Manuel Albuquerque, exemplificando que a Europa exporta muito azeite e vinho para os Estados Unidos, numa altura em que o presidente americano continua a não dar tréguas.

Presença de água é fulcral para o investimento no agronegócio

Na Península Ibérica, cerca de 20% das terras aráveis são de regadio, um valor significativamente superior à média europeia (5%). O relatório destaca que a presença de água é um dos critérios chave para o investimento no agronegócio, mas outros aspetos, como o clima, a qualidade do solo e a dimensão das propriedades em Portugal e Espanha, fazem desta região uma oportunidade real e atrativa para o investimento neste segmento.

Fonte: Relatório “Agribusiness Iberian Report” da CBRE

As culturas com maior área plantada são cereais em grão (cerca de 5,9 milhões de hectares) e olival (3 milhões de hectares). Entre 2013 e 2023, a área de frutos secos cresceu quase 300 mil hectares. Em 2024, aumentou a área dedicada a azeitonas e frutos secos (pistáchios em Espanha e amêndoas em Portugal), enquanto a área de vinha diminuiu. Em Espanha, a área de citrinos reduziu, ao passo que o abacate ganhou importância em Portugal.

Quanto ao preço de venda dos produtos agrícolas (pago ao agricultor), registaram-se flutuações significativas: o azeite caiu 49% nos últimos 12 meses, enquanto as amêndoas subiram 67%. No caso do azeite, em julho de 2024 estava a custar 6,71 euros por quilo e um ano depois baixou para 3,39 euros. Por outro lado, o preço das amêndoas por quilo subiu mais de dois euros.

Já os preços das laranjas caíram 11%, enquanto o tomate (+25%), os morangos (+19%) e os mirtilos (+18%) registaram aumentos.

A nível global, a consultora regista um aumento significativo dos fundos levantados no setor agribusiness desde 2000, acumulando mais de 200 mil milhões de euros até 2024.

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Zurich reforça posição no capital do Sabadell

  • ECO Seguros
  • 14 Julho 2025

Desde março que o grupo segurador, sócio do negócio bancainsurance do Sabadell, mantinha uma posição de 4,100%. O reforço de capital surge no meio do lançamento de uma OPA do BBVA ao Sabadell.

O grupo segurador Zurich reforçou a sua participação no Banco Sabadell para 4,205%, segundo a Comisión Nacional del Mercado de Valores (CNMV), avançou a espanhola Europa Press.

Desde março que o grupo segurador, sócio do negócio bancasurance do Sabadell, mantinha uma posição de 4,100%.

Este reforço de capital surge após o Governo espanhol ter autorizado a Oferta Pública de Aquisição (OPA) hostil do BBVA sobre a Sabadell mas com a condição de ambas as entidades manterem autonomia legal e gestão diária separada por, pelo menos, três anos, prorrogáveis por mais dois anos

A decisão do executivo torna mais difícil a realização de sinergias que se estimam que andariam na ordem dos 850 milhões. Ainda assim, após conhecida a decisão o BBVA anunciou manter a OPA, que está avaliada em 11 mil milhões de euros

A OPA hostil foi lançada há mais de um ano e já teve luz verde do Banco Central Europeu (BCE) e da Autoridade da Concorrência espanhola, sendo que esta última já tinha imposto uma série de condições para autorizar a operação.

Importa referir que Sabadell acordou a venda da sua filial britânica, o banco TSB, ao Santander, operação que o BBVA alertou anteriormente que, caso avançasse, poderia abandonar a oferta lançada. O Sabadell terá de marcar uma assembleia geral para os acionistas aprovarem o negócio.

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Fórum nacional de Seguros: “ASF focou-se na transparência para os consumidores”

  • ECO Seguros
  • 14 Julho 2025

A Presidente da ASF, passou revista aos principais dossiers tratados durante os seus seis anos de mandato na inauguração do 4º Fórum Nacional de Seguros que se realizou na Alfândega do Porto.

A sessão de abertura contou com a presença de Maria Margarida Corrêa de Aguiar, Presidente da ASF – Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, numa entrevista conduzida por Francisco Botelho, diretor do ECOSeguros.⁠Pedro Granadeiro

A presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), Margarida Corrêa de Aguiar, insistiu na importância da criação do fundo para risco sísmico durante o primeiro momento do 4º Fórum Nacional de Seguros que na semana passada se realizou na Alfândega do Porto.

“Não há vida em sociedade se não tivermos a capacidade de observar os riscos atuais”, apontou Margarida Corrêa de Aguiar, naquela que será uma das suas últimas presenças públicas enquanto titular do cargo – cujo mandato de seis anos terminou e não é renovável.

O mandato foi revisto ao detalhe ficando claras as diferenças do que eram os supervisores e supervisados em 2019 e 2025.

Mais, adiantou todos as preocupações que ainda se mantêm e novas que surgiram alertando para os riscos para os negócios futuros das empresas de seguros, das seguradoras à mediação.

Veja aqui na íntegra a entrevista com Margarida Corrêa de Aguiar que inaugurou o Fórum Nacional de Seguros no passado dia 8 de julho.

 

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“Partido da América” de Musk: mais um terceiro partido sem sucesso ou uma ameaça real ao bipartidarismo nos EUA?

  • Joana Abrantes Gomes
  • 13 Julho 2025

Não se sabe se o multimilionário vai mesmo avançar com a formalização do partido. Analistas questionam que consiga penetrar no sistema norte-americano, mas reconhecem recursos sem precedentes de Musk.

Semanas após a desavença pública com Donald Trump, motivada por um desacordo com a “One Big Beautiful Bill”, Elon Musk disse que vai criar um novo partido político com o objetivo de reduzir a dívida pública dos EUA, atualmente nos 37 biliões de dólares. O multimilionário dono da Tesla e da SpaceX apresentou o Partido da América (America Party, em inglês) como um desafio ao sistema bipartidário norte-americano.

O anúncio foi feito através do X (antigo Twitter, que Musk comprou em 2022), depois de o líder da Casa Branca ter assinado um pacote legislativo que, segundo as estimativas, vai agravar a já elevada dívida pública do país em mais de 3 biliões de dólares ao longo da próxima década.

No próprio dia em que a polémica lei foi promulgada, 4 de julho, feriado do Dia da Independência nos EUA, o empresário realizou uma sondagem na rede social em que perguntava aos seus seguidores se apoiavam a criação de um novo partido. Dos mais de 1,2 milhões de votantes, 65,4% responderam que sim.

No dia seguinte, fez uma nova publicação em que declarava que o partido estava formado: “Quando se trata de levar o nosso país à falência com desperdício e corrupção, vivemos num sistema de partido único, não numa democracia. Hoje, o Partido da América está formado para vos devolver a vossa liberdade.”

Ainda noutra publicação no X, propôs a realização de um Congresso do Partido da América em agosto, em Austin, no Texas, sugerindo que o partido entrará na corrida das eleições intercalares de 2026 e que estará focado “em apenas dois ou três assentos no Senado e 8 a 10 distritos da Câmara dos Representantes”, de modo a negar uma maioria no Congresso quer aos republicanos, quer aos democratas e, assim, servir como voto decisivo em leis contenciosas.

Sem oferecer grandes detalhes sobre a ideologia do partido, disse apenas que quer que seja pró-energia e centrista, fiscalmente conservador e que controle os gastos, devendo incluir a promoção do desenvolvimento de tecnologia baseada em inteligência artificial e uma desregulamentação abrangente. Em matérias sociais, o bilionário tem ideias próximas às do Presidente dos EUA. Além disso, também não revelou quem vai liderar o partido — como Musk nasceu fora dos Estados Unidos, não pode candidatar-se à Casa Branca.

Mas, para já, não é claro se Musk tomou medidas no sentido de registar formalmente o partido junto da Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês), que não publicou quaisquer documentos que comprovassem que isso tenha acontecido. De acordo com os regulamentos da FEC, os novos partidos políticos não precisam de se registar formalmente, a não ser que a sua angariação de fundos ou as suas despesas excedam um limite específico. Tendo em conta que Musk é o homem mais rico do mundo, o financiamento não deverá ser um fator limitativo para a criação do Partido da América.

O empresário já tinha levantado a hipótese de formar um partido durante a sua contenda pública com o Presidente norte-americano, que o levou a deixar a liderança do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) em maio e a envolver-se numa discussão acesa nas redes sociais com o seu outrora aliado, de cuja campanha para as eleições presidenciais de novembro passado foi o maior doador individual, contribuindo com mais de 290 milhões de dólares.

As críticas de Musk à agenda política de Trump, que apelidou de “escravatura da dívida”, foram o catalisador da desavença entre ambos no mês passado. Embora tenha, aparentemente, arrefecido, depois de o multimilionário ter-se dito arrependido de algumas das publicações que fez, a discussão reacendeu-se nos últimos dias à medida que o projeto de lei se aproximava de receber a ‘luz verde’ do Congresso.

Criar um terceiro partido é “ridículo”

Trump não tardou a reagir ao anúncio de Musk. “Penso que é ridículo criar um terceiro partido. Temos um enorme sucesso com o Partido Republicano. Os democratas perderam o rumo, mas sempre foi um sistema bipartidário, e acho que começar um terceiro partido só aumenta a confusão“, afirmou o líder da Casa Branca, antes de embarcar no Air Force One em Nova Jersey no passado domingo. “Os terceiros partidos nunca funcionaram, por isso ele pode divertir-se com isso — mas eu acho que é ridículo“, reforçou.

Mais tarde, na sua rede social Truth Social, o Presidente dos EUA voltou a atacar o seu antigo “braço direito”, descrevendo-o como “fora dos trilhos”.

Já no início desta semana, Trump ameaçou cortar os milhares de milhões de dólares em subsídios que as empresas de Musk recebem do Governo federal e descreveu o DOGE, que o bilionário anteriormente dirigia, como um monstro que pode “voltar e comer Elon”.

“Elon pode receber mais subsídios do que qualquer ser humano na história, de longe. Sem subsídios, teria provavelmente de ‘fechar a loja’ e regressar a casa na África do Sul”, escreveu Trump na Truth Social.

Os efeitos do anúncio de Elon Musk e da sua disputa com Donald Trump, muitas vezes descrita como sendo entre o homem mais rico do mundo e o homem mais poderoso do mundo, fizeram-se sentir junto dos investidores.

Só o preço das ações da Tesla, que começou a disparar após a vitória de Trump em novembro, até atingir um máximo de mais de 488 dólares em dezembro, perderam mais de metade do seu valor em abril, para os 221 dólares. Nesta sexta-feira, negociavam nos 311,51 dólares.

Além disso, na segunda-feira, a empresa de investimentos Azoria Partners disse que iria adiar a admissão à cotação de um fundo Tesla negociado em bolsa, com o diretor executivo, James Fishback, a pedir ao conselho de administração da fabricante de veículos elétricos que esclareça as ambições políticas de Musk. Para Fishback, o novo partido mina a confiança dos acionistas de que o bilionário se iria concentrar mais nas suas empresas depois de deixar o DOGE.

Pouco sucesso dos terceiros partidos nos EUA

Apesar dos bolsos fundos de Elon Musk, quebrar o duopólio republicano-democrático é uma tarefa difícil, uma vez que este tem dominado a política norte-americana durante mais de 160 anos. E, embora o sistema bipartidário seja há muito tempo criticado tanto por democratas como por republicanos, os esforços para formar um terceiro partido têm tido pouco sucesso.

Foi no dia 5 de julho que Elon Musk disse que ia formar o “Partido da América”

Na verdade, a única vez que esses esforços terão sido bem-sucedidos foi com a formação do próprio Partido Republicano, que teve origem como um terceiro partido na década de 1850. Foi a eleição de Abraham Lincoln em 1860, que continua a ser o único candidato de um então terceiro partido a ganhar umas presidenciais, que solidificou a posição do Grand Old Party.

Outros tentaram e falharam desde então, incluindo o antigo Presidente Theodore Roosevelt, cujo Partido Progressista (mais conhecido pela sua alcunha, o “Partido do Alce Touro”) teve um sucesso de curta duração nas eleições de 1912, mas caiu dois anos depois.

Mais recentemente, o bilionário Ross Perot, também crítico do défice orçamental federal, como Musk, candidatou-se à Casa Branca por duas vezes: a primeira, como independente, em 1992, tendo obtido quase um quinto do voto popular, mas não conseguiu eleger nenhum Estado; e a segunda em 1996, como candidato de um terceiro partido, o seu Partido da Reforma, em que teve apenas 8% dos votos.

O próprio Donald Trump chegou a equacionar entrar na corrida às eleições de 2000 como candidato de um terceiro partido, no âmbito do Partido da Reforma criado por Perot. Mas, apesar de ter aderido ao partido e de ter ganhado as primárias na Califórnia, acabou por desistir após concluir que o partido não lhe dava o apoio de que necessitaria para vencer as eleições gerais.

Ainda em novembro passado, candidatos de partidos como o Partido Libertário, o Partido Verde e o Partido Popular tentaram em vão impedir a vitória de Trump ou da sua rival democrata, Kamala Harris.

Isto demonstra como é difícil ganhar popularidade nacional suficientemente forte para representar uma ameaça real aos partidos já cimentados na cena política norte-americana, além de que é financeira e legalmente difícil criar um novo partido, e os próprios eleitores e possíveis candidatos hesitam em aderir.

“Existem barreiras muito, muito significativas para a criação de um terceiro partido viável”, tais como a construção de infraestruturas partidárias, a organização de voluntários e a qualificação para o voto, disse David A. Hopkins, professor de Ciências Políticas do Boston College, citado pela Reuters.

Os candidatos presidenciais têm de se apresentar às urnas em cada Estado individualmente, sendo que muitos Estados exigem dezenas de milhares de assinaturas de eleitores elegíveis durante o período de campanha — já para não falar dos recursos necessários para montar uma campanha a nível nacional.

Os partidos existentes têm muita força. Têm muita experiência, dinheiro e já estão lá. Por isso, é muito difícil penetrar neles“, notou Julian Zelizer, professor de História e Assuntos Públicos na Universidade de Princeton, citado pela revista Foreign Policy. Os democratas e os republicanos também tendem a ajustar as suas plataformas partidárias para absorver as melhores ideias de potenciais adversários. “É muito difícil para um terceiro partido ultrapassar isso — se o gigante na sala fizer o que está a prometer fazer, as pessoas vão muitas vezes escolher essa opção”, acrescentou.

Zelizer dá conta também de um comportamento enraizado dos eleitores: “Mesmo que se queixem dos partidos, mesmo que falem de outro partido, acabam por se sentir confortáveis no dia das eleições, votando num dos dois que existem. A frustração que as pessoas demonstram é muitas vezes retórica e não na forma como votam.”

Existem barreiras muito, muito significativas para a criação de um terceiro partido viável.

David A. Hopkins

Professor de Ciências Políticas do Boston College

Polarização e recursos de Musk como fatores diferenciais

Apesar destes desafios, nenhum candidato independente ou terceiro partido teve os recursos que Elon Musk, o homem mais rico do mundo, tem à sua disposição. Além disso, ele já mostrou que pode conseguir alcançar os seus objetivos na política contribuindo apenas com grandes quantidades de dinheiro.

Se começar por disputar eleições mais a nível local, focando-se em alguns lugares das duas câmaras do Congresso, tal como deu a entender, tem mais possibilidades de ter sucesso, segundo os analistas.

Ao mesmo tempo, a polarização política atual nos EUA pode ajudar a que um novo partido penetre o sistema bipartidário. “Estamos num período em que os partidos parecem estar mais quebrados do que pensamos. Como vemos com o sucesso de Trump, as coisas estão diferentes — não sabemos exatamente porquê, mas talvez haja vulnerabilidades que ainda não vimos e, quando encontram alguém com tantos recursos, podem ser desafiados“, afirmou Zelizer.

Embora o professor da Universidade de Princeton continue cético quanto à possibilidade de Musk ultrapassar os constrangimentos históricos e sistémicos que frustraram as tentativas de terceiros partidos no passado, reconhece que as capacidades do empresário são sem precedentes e imprevisíveis: “Nunca tivemos um único indivíduo com tanto dinheiro e que parecesse disposto a gastar muito dinheiro”.

Adicionalmente, o facto de Musk ser proprietário da rede social X e ter uma base de 222 milhões de seguidores também lhe dá o tipo de megafone global que nenhum candidato conseguiu ter.

O que pode complicar os planos do multimilionário é o facto de muitos eleitores não gostarem dele. De acordo com uma sondagem de junho da Reuters/Ipsos, Musk é visto de forma menos favorável do que Trump pela generalidade do público norte-americano, contando apenas com a opinião favorável de 36% dos inquiridos, o que compara com 42% que veem o Presidente dos EUA de forma favorável, enquanto 59% têm uma opinião desfavorável sobre Musk e 55% veem Trump de forma desfavorável.

Nunca tivemos um único indivíduo com tanto dinheiro e que parecesse disposto a gastar muito dinheiro.

Julian Zelizer

Professor de História e Assuntos Públicos na Universidade de Princeton

A maior desvantagem, ainda assim, pode ser o facto de a sua base de apoio ser constituída por próprios eleitores do republicano. Aliás, na sondagem da Reuters, Musk teve o seu nível de apoio mais forte (78%) junto das pessoas que votaram em Trump em novembro.

“O próprio Musk não é muito popular, e o seu apelo tem uma enorme sobreposição com a coligação republicana existente. Não há realmente um movimento não representado pelo qual ele esteja a falar… É improvável que ele eleja muitos candidatos do Partido da América”, disse Hans Noel, um cientista político da Universidade de Georgetown.

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Indemnizações das seguradoras caíram 18% no primeiro trimestre

  • Lusa e ECO Seguros
  • 13 Julho 2025

Os montantes pagos do ramo 'vida' diminuíram 29,6% para 1.283 milhões de euros, enquanto os referentes ramos 'não vida' cresceram 3% para 1.061 milhões de euros, indica o regulador dos seguros.

Os montantes pagos pelas seguradoras aos clientes caíram 17,8% para 2.344 milhões de euros nos primeiros três meses de 2025, indicou o regulador dos seguros.

Segundo a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), os montantes pagos do ramo ‘vida’ diminuíram 29,6% para 1.283 milhões de euros, enquanto os referentes ramos ‘não vida’ cresceram 3% para 1.061 milhões de euros.

Já a produção de seguro direto foi de 4.200 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 18,4% do que no mesmo período de 2024.

Entre janeiro e março, os seguros do ramo ‘vida’ cresceram 30,2% para 2.000 milhões de euros, sendo de destacar o aumento de 25% na produção de Planos Poupança Reforma (PPR).

Nos ramos ‘não vida’ o crescimento foi de 9,4% para 2.200 milhões de euros, destacando-se os crescimentos de 12,8% em seguros do ramo ‘doença’ e 9,2% do ramo ‘automóvel’.

O valor das carteiras de investimento das empresas de seguros, no primeiro trimestre de 2025, totalizou 52,7 mil milhões de euros, um valor que ficou praticamente inalterado (0,2%) em termos homólogos. Na mesma data, o volume de provisões técnicas foi de 44,1 mil milhões de euros.

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WTW e Swaifor com novo seguro de Acidentes de Trabalho

  • ECO Seguros
  • 13 Julho 2025

A nova solução da WTW combina análise de dados, desenho de programas de seguros, avaliação de maturidade em gestão de acidentes e benchmarks de mercado com programas práticos de prevenção.

A corretora WTW apresentou um novo seguro de acidentes de trabalho – desenvolvido em parceria com a Swaifor – que coloca a prevenção no centro da oferta.

José Barqueiro, responsável pela área de acidentes de trabalho da WTW: “Com esta nova solução, ajudamos as empresas a antecipar riscos, proteger os seus colaboradores e transformar os desafios em valor sustentável.”

Segundo avançou a corretora, a nova solução da WTW combina análise de dados, desenho de programas de seguros, avaliação de maturidade em gestão de acidentes e benchmarks de mercado com programas práticos de prevenção.

A análise de dados serve para melhor entender tendências que imputam a sinistralidade, “fornecendo informações detalhadas para identificar padrões e áreas de risco. São disponibilizados indicadores de sinistralidade regularmente, ajudando a empresa a compreender tendências e apoiar decisões sobre medidas de mitigação adequadas”, indica.

Devido à colaboração com a Swaifor, integra ainda diagnósticos de cultura de segurança, programas anti-burnout, formações sobre riscos psicossociais e capacitação de líderes enquanto promotores da segurança e do bem-estar das suas equipas.

Deste modo, o produto adota uma abordagem preventiva de acidentes de trabalho, adotando ainda análise de riscos, fornecimento de recomendações específicas e apoia elaboração de planos de mitigação, propondo melhorias e monitorizando os resultados.

“Os acidentes de trabalho não são apenas um tema de seguros — são um reflexo direto da liderança, da cultura e das condições em que as pessoas trabalham”, afirma José Barqueiro, responsável pela área de acidentes de trabalho da WTW. “Com esta nova solução, ajudamos as empresas a antecipar riscos, proteger os seus colaboradores e transformar os desafios em valor sustentável.”

Segundo Daniela Lima, founder managing partner da SWAIFOR, “Esta parceria com a WTW é um passo estratégico que vem reforçar a nossa missão: Apoiar as organizações na construção de culturas onde a segurança no trabalho e o bem-estar caminham lado alados”

A solução inclui ainda campanhas internas como a “Acidente Zero”, planos de ação personalizados e formações contínuas adaptadas à realidade de cada empresa — promovendo comportamentos seguros, hábitos saudáveis e uma cultura de prevenção sustentável.

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Homenagem sentida a Diogo Jota antes e durante o primeiro jogo do Liverpool

  • Lusa
  • 13 Julho 2025

Diogo Jota e o seu irmão André Silva foram hoje recordados com emoção no primeiro encontro do Liverpool após a morte do seu futebolista, em 03 de julho, num acidente de viação.

Diogo Jota e o seu irmão André Silva foram recordados este domingo com emoção no primeiro encontro do Liverpool após a morte do seu futebolista, em 03 de julho, num acidente de viação. A preparar o arranque da nova época, o Liverpool deslocou-se a casa do Preston North End, com o encontro de apresentação da equipa do segundo escalão a tornar-se num momento de homenagem aos dois portugueses e, em especial, a Diogo Jota, que se tornou o eterno camisola 20 dos ‘reds’.

Antes de as equipas entrarem em campo, nas bancadas, eram inúmeras as camisolas e os cachecóis com o número e o nome de Diogo Jota, tarjas a celebrarem a carreira do português, algumas com a música que os adeptos dedicavam ao português, assim como várias bandeiras de Portugal.

A cantora Claudia Rose Maguire lançou os momentos de homenagem, primeiro interpretando o Can’t Help Falling In Love, música usada pelos adeptos da equipa da casa, e depois o icónico You’ll Never Walk Alone, acompanhado por todos os adeptos no Deepdale.

Ao som do mais conhecido hino do Liverpool, o capitão do Preston North End, Ben Whiteman, colocou um ramo de flores junto à tribuna onde estavam colocados os adeptos dos campeões ingleses, que tem o nome de um histórico treinador dos ‘reds’, Bill Shankly.

Os painéis publicitários ao redor do relvado passaram a ter a inscrição “Diogo Jota e André Silva You’ll Never Walk Alone [nunca vão caminhar sozinhos]”, antes de um minuto de silêncio, cumprido de forma unânime por todos os mais de 20.000 espetadores e pelos jogadores, todos com um fumo negro no braço.

Ainda com 0-0 no marcador, ao minuto 20 do encontro, os adeptos do Liverpool entoaram em uníssono o cântico que dedicavam ao português, com todo o estádio a levantar-se a aplaudir.

Diogo Jota, de 28 anos, e o irmão André Silva, de 25, morreram na madrugada de 03 de julho, num acidente de viação na A52, em Cernadilla, em Espanha.

O internacional português jogava há cinco épocas no Liverpool, pelo qual conquistou uma Liga inglesa, uma Taça de Inglaterra e duas Taças da Liga, sagrando-se ainda campeão do segundo escalão inglês com o Wolverhampton, numa carreira pontuada também pela conquista da Liga das Nações ao serviço da seleção das ‘quinas’ em 2019 e 2025.

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ECO Quiz. Privatização da TAP, Trump e Von der Leyen

  • Tiago Lopes
  • 13 Julho 2025

Agora que termina mais uma semana, chegou a altura de testar o seu conhecimento. Está a par de tudo o que se passou?

O primeiro-ministro informou que o Executivo aprovou um decreto-lei para aprovar a reprivatização de 49,9% do capital social da TAP. Trata-se do “primeiro passo de saída no processo de reprivatização” da companhia aérea.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou cartas a mais oito países a impor novas tarifas que entram em vigor a partir de 1 de agosto. Argélia, Filipinas, Iraque, Brunei, Moldova e Líbia foram os destinatários desta vez dos correios da Casa Branca, com tarifas entre os 25% e 50%. Uma hora após lançar estas cartas, o Sri Lanka também foi incluído, com tarifas de 30%.

O ECO publica todas as semanas um quiz, que desafia a sua atenção. Tem a certeza que está a par de tudo o que se passou durante a semana? Teste o seu conhecimento.

 

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