Euribor cai a três meses para novo mínimo desde dezembro de 2022

  • Lusa
  • 30 Maio 2025

Esta sexta-feira, as taxas Euribor subiram a seis e a 12 meses para 2,069% e 2,090%, respetivamente. No prazo mais curto (três meses), voltou a recuar, agora para os 1,995%.

A Euribor desceu esta sexta-feira a três e subiu a seis e a 12 meses em relação a quinta-feira, no prazo mais curto para mínimos desde 8 de dezembro de 2022. Com estas alterações, a taxa a três meses, que baixou para 1,995%, ficou abaixo das taxas a seis e a 12 meses, que se fixaram nos 2,069% e 2,090%, respetivamente.

  • A taxa Euribor a seis meses, que passou em janeiro de 2024 a ser a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável, aumentou 0,013 pontos, para 2,069%, subindo pela segunda sessão consecutiva após um ciclo de quatro descidas que a levou, na quarta-feira, a um novo mínimo (2,042%) desde 28 de outubro de 2022.
  • No prazo de 12 meses, a taxa Euribor aumentou para 2,090%, mais 0,020 pontos do que na quinta-feira.
  • Já a Euribor a três meses, após ter baixado na quinta-feira a barreira dos 2%, para 1,996%, voltou a recuar, para 1,995%, um novo mínimo desde 8 de dezembro de 2022, em que se situou nos 1,990%.

Dados do Banco de Portugal (BdP) referentes a março indicam que a Euribor a seis meses representava 37,65% do stock de empréstimos para a habitação própria permanente com taxa variável. Os mesmos dados indicam que as Euribor a 12 e a três meses representavam 32,39% e 25,67%, respetivamente.

Em abril, as médias mensais da Euribor caíram fortemente nos três prazos, mais intensamente do que nos meses anteriores e no prazo mais longo (12 meses): desceu 0,193 pontos para 2,249% a três meses, 0,183 pontos para 2,202% a seis meses e 0,255 pontos para 2,143% a 12 meses.

Em 17 de abril, na última reunião de política monetária, o Banco Central Europeu (BCE) desceu a taxa diretora em um quarto de ponto para 2,25%. A descida, antecipada pelos mercados, foi a sétima desde que o BCE iniciou este ciclo de cortes em junho de 2024. A próxima reunião de política monetária da instituição liderada por Christine Lagarde realiza-se em 5 e 6 de junho em Frankfurt.

As Euribor são fixadas pela média das taxas às quais um conjunto de 19 bancos da Zona Euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário.

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Depósitos bancários são seguros? “É seguro que se perde dinheiro”, avisa Maria Luís Albuquerque

A comissária europeia Maria Luís Albuquerque regressou a Lisboa para defender a nova União das Poupanças e dos Investimentos. Mas garantiu que cada um continuará a poder investir como quiser.

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Maria Luís Albuquerque é comissária europeia para os Serviços Financeiros e a União das Poupanças e InvestimentosHugo Amaral/ECO

Os europeus, e em particular os portugueses, habituaram-se “a pensar que os depósitos bancários são seguros e não têm risco”. Contudo, “neste momento, é seguro que se perde dinheiro” com eles, avisou esta sexta-feira a comissária europeia Maria Luís Albuquerque, que tem a seu cargo a União da Poupança e dos Investimentos, um ambicioso plano da Comissão Europeia para incentivar os cidadãos a investirem mais nos mercados de capitais, ao invés de deixarem as poupanças paradas nos bancos.

Durante uma intervenção na conferência anual da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que decorre em Lisboa — e onde também anunciou o relançamento do PPR europeu — Maria Luís Albuquerque explicou que “a rentabilidade real” dos depósitos a prazo “é negativa”, por, em geral, pagarem juros inferiores à erosão causada pela inflação. “No mercado de capitais temos risco de perda. Nos depósitos temos uma certeza de perda nos últimos anos”, sublinhou, acrescentando: “A perceção do que é o risco também é algo que tem de ser trabalhado.”

No mercado de capitais temos risco de perda. Nos depósitos temos uma certeza de perda nos últimos anos.

Maria Luís Albuquerque

Comissária europeia

Com a União das Poupanças e dos Investimentos (SIU, na sigla em inglês), a Comissão Europeia pretende, numa primeira ordem, que os europeus tenham incentivos para canalizarem para os mercados de capitais parte dos 11 biliões de euros que estão parados em depósitos — nesta mesma sexta-feira, o Banco de Portugal revelou que havia um recorde de 193 mil milhões de euros parados em depósitos no final de abril.

Só deste modo, argumentou Maria Luís Albuquerque, será possível dar resposta aos desafios que o bloco enfrenta neste momento, desde as alterações climáticas à transição digital, passando pelas novas dinâmicas geopolíticas.

Ademais, “a crescente tensão geoestratégica, com impactos visíveis no comportamento dos mercados, acentuou a urgência em encontrar alternativas, no mercado interno europeu, a parceiros comerciais que se tornaram menos confiáveis”, rematou a comissária. Declaração que deve ser vista à luz da nova política comercial dos EUA e das tarifas que têm vindo a ser aplicadas pela Administração de Donald Trump.

“Cada um investirá o seu dinheiro onde quiser e como quiser”

No discurso, a comissária tranquilizou quem possa pensar que a União Europeia pretende passar a decidir como é que os europeus investem as suas poupanças: “O objetivo da estratégia é fazer com que seja mais fácil que os recursos fluam para onde há boas oportunidades de negócio. Somos completamente agnósticos. Cada um investirá o seu dinheiro onde quiser e como quiser. O nosso objetivo é apenas dar oportunidades, nada mais do que isso”, assegurou a também ex-ministra das Finanças de Pedro Passos Coelho.

O pacote que está a ser preparado em Bruxelas tem múltiplas vertentes, como incentivos para os Estados-membros aplicarem incentivos fiscais aos seus cidadãos, a criação de uma “conta de poupança e investimentos”, e uma revisão da legislação “para possibilitar mais investimento em classes alternativas de ativos”, tais como capital de risco e “equity em geral”.

Outra das metas é repensar a supervisão, tornando-a mais eficaz e centralizada em alguns dos componentes — mas também mais harmonizada: “A mesma pergunta deve ter a mesma resposta onde quer que se pergunte nos 27 [Estados-membros], quem quer que pergunte, e não temos isso ainda”, reconheceu a comissária portuguesa.

Antecipando eventuais críticas, perante outros planos apresentados no passado, Maria Luís Albuquerque garantiu que “desta é diferente”. Até porque o momento é outro: “É especialmente clara a constatação de que o financiamento das nossas prioridades não pode depender exclusivamente dos orçamentos públicos. É indispensável a participação privada”, disse. Ademais, agora há “determinação política” para se avançar.

São exatamente os mercados mais pequenos e periféricos [como Portugal] que mais têm a ganhar com esta abordagem.

Maria Luís Albuquerque

Comissária europeia

Evitar legislar “na medida do possível”

Além de tudo isto, a Comissão Europeia está também preocupada com “barreiras alheias à regulação dos mercados de capitais”, tais como as que “resultam de legislação fiscal ou societária”, disse, lembrando que está em curso uma consulta ao mercado, até ao dia 10 de junho, para ajudar a identificá-las. São, para Maria Luís, “barreiras que temos tolerado porque representam zonas de conforto para alguns atores do mercado financeiro ou para alguns Estados-membros. Mas construir um mercado eficiente depende da remoção” das mesmas, indicou.

“Somos agnósticos quanto aos instrumentos a utilizar. Legislação, recomendações, reforço na implementação e enforcement, usaremos os instrumentos mais eficazes para cada objetivo, tentando, na medida do possível, evitar legislar quando outras opções estejam disponíveis”, prometeu, ao mesmo tempo que reconheceu que muitas das iniciativas terão de ser aplicadas pelos próprios governos nacionais.

Dito isso, Maria Luís Albuquerque asseverou que Portugal é dos países que mais têm a ganhar com uma boa implantação da União das Poupanças e dos Investimentos: “São exatamente os mercados mais pequenos e periféricos que mais têm a ganhar com esta abordagem, beneficiando de uma maior interligação e acesso a mercados maiores. Os investidores terão acesso a produtos mais líquidos e diversificados, e as empresas a fontes de financiamento mais alargadas”, além do financiamento bancário já existente e amplamente disponível.

“Nós precisamos de avançar, estamos de acordo em que áreas, e temos de ter um atitude em que temos de avançar em muitos aspetos ao mesmo tempo. A abordagem incremental, uma coisa de cada vez, não funcionou e não vai funcionar. Temos de fazer tudo, tentar promover todas as iniciativas em simultânea, o que será obviamente muito desafiante”, defendeu Maria Luís Albuquerque. “As propostas são ambiciosas e o meu empenho em prossegui-las é total”, concluiu.

(Notícia atualizada pela última vez às 11h36)

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Guerra judicial nos EUA. Tribunal de recurso suspende bloqueio às tarifas de Trump

  • ECO e Lusa
  • 30 Maio 2025

Em menos de 24 horas, a decisão do Tribunal de Apelações do Circuito Federal congelou o bloqueio às tarifas da administração Trump que o Tribunal do Comércio Internacional tinha anunciado na véspera.

O Tribunal de Apelações do Circuito Federal suspendeu temporariamente a ordem de outro tribunal que bloqueava a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O facto de este tribunal norte-americano pôr em ‘banho-maria’ as tarifas da administração Trump permite ao presidente da maior economia do mundo continuar a negociar acordos comerciais com outros países.

Em menos de 24 horas, a decisão judicial do Tribunal de Apelações do Circuito Federal congelou o bloqueio às tarifas da administração Trump que o Tribunal do Comércio Internacional (TCI) tinha anunciado no dia anterior.

O tribunal de recursos repôs, assim, a capacidade dos EUA cobrarem as tarifas anunciadas por Trump ao abrigo de poderes de emergência. O TCI tinha decidido, na noite anterior, que Trump não tinha autoridade para impor tarifas tão extensas.

O tribunal federal de Washington – ao restabelecer temporariamente as tarifas mais duras (as do chamado “Dia da Libertação”) – informou que estava a suspender a decisão da instância inferior para apreciar o recurso do governo, ordenando ainda que os autores dos casos respondessem até ao próximo dia 5 de junho e a Casa Branca até 9 de junho. Ou seja, ambas as partes têm de apresentar argumentos escritos para serem avaliados pelo tribunal de recursos até ao início do próximo mês.

A decisão judicial foi considerada surpreendente pelos jornais internacionais e ameaça anular, ou pelo menos atrasar, a imposição das taxas aduaneiras impostas aos parceiros comerciais dos Estados Unidos, bem como as tarifas adicionais sobre produtos do Canadá, México e China.

A nova pausa na política tarifária lança mais incerteza sobre um processo que está a ter consequências globais. Desde que regressou à presidência dos EUA, no final de janeiro, Donald Trump anunciou medidas tarifárias contra a grande maioria dos parceiros comerciais dos Estados Unidos, algumas das quais foram suspensas temporariamente até 09 de julho, devido à reação negativa dos mercados.

As medidas em vigor incluem tarifas de 25% sobre o aço, o alumínio e os seus derivados, 25% sobre os automóveis importados e certas peças automóveis, juntamente com uma tarifa de base de 10% aplicável a todos os seus parceiros comerciais.

Na sequência da imposição dos direitos aduaneiros, os Estados Unidos já celebraram acordos comerciais com o Reino Unido e a China para reduzir as taxas e aumentar o acesso a esses mercados. Para a União Europeia, esta tarifa de 10% poderá aumentar para 20% após o termo da atual pausa dos Estados Unidos em julho.

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Prazo de candidatura aos 149 milhões das Mini-Agendas do PT2030 termina esta sexta-feira

  • Lusa
  • 30 Maio 2025

Em causa estão apoios não reembolsáveis (subvenções) direcionados para projetos integrados de investigação e desenvolvimento, e inovação produtiva.

As empresas têm até esta sexta-feira para apresentar a sua candidatura às Mini Agendas, uma medida de apoio ao investimento em inovação que conta com uma dotação inicial de 149 milhões de euros.

O concurso — lançado pelo Compete 2030, em conjunto com os Programas Regionais Lisboa 2030 e Algarve 2030, e cujas candidaturas abriram a 31 de janeiro — permite às empresas candidatarem-se a apoios não reembolsáveis (subvenções) direcionados para projetos integrados de investigação e desenvolvimento, e inovação produtiva.

De acordo com um comunicado então divulgado pelo Ministério da Economia, “estes projetos devem focar-se na conclusão do ciclo de inovação de soluções já com algum grau de maturidade, garantindo a sua chegada ao mercado”.

São elegíveis as pequenas e médias empresas (PME) e as small mid-caps, mas também as grandes empresas, desde que em consórcio com PME. Segundo a tutela, também as entidades do sistema de investigação e inovação (ENESII) podem associar-se a estes consórcios.

A área geográfica abrangida pelo concurso são as regiões NUTS II do Continente (Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve).

Enquadradas no âmbito do PT 2030, as Mini Agendas são descritas pelo Ministério da Economia como “uma versão mais simples, manobrável e executável das agendas tradicionais do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]”.

O objetivo é contribuir para a reindustrialização da economia portuguesa, reforçando a sua capacidade industrial e especialização na produção de bens e serviços inovadores, de alto valor acrescentado e capazes de competir a nível internacional.

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Empresa do cartel dos fogos tinha “toupeira” na ANAC

  • ECO
  • 30 Maio 2025

A Helibravo e a sua empresa-mãe recorreriam a um tenente-coronel avençado da ANAC desde 2011 para facilitar a certificação de aeronaves que subcontratavam.

A principal empresa visada na “Operação Torre de Controlo” teria uma “toupeira” na Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), revela o Diário de Notícias (acesso pago). Segundo fontes judiciais, trata-se de um tenente-coronel piloto-aviador, na reforma desde 2000 e que é avençado da ANAC desde 2011 até ao momento.

Seria a este tenente-coronel que os gestores da Helibravo e da sua empresa-mãe, a Sodarca Group – duas das cinco empresas visadas na investigação –, recorreriam para facilitar a certificação de aeronaves que subcontratavam, fornecendo informações internas sobre o estado dos processos.

Outra das pessoas que estará envolvida no caso e que também foi alvo de buscas judiciais na quinta-feira é o major-general Henrique Macedo, ex-presidente do Conselho de Administração da IdD – Portugal Defence, a holding pública de Defesa, que foi nomeado pelo ex-ministro da tutela, Azeredo Lopes. Terá sido recrutado pela Sodarca, juntamente com o major-general Pedro Salvada, engenheiro aeronáutico da Força Aérea, que passou à reserva em 2021, para fornecer informações privilegiadas sobre os cadernos de encargos dos concursos públicos para a aquisição, manutenção e gestão dos meios aéreos do Estado integrados Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR).

Já o Correio da Manhã avança que Ricardo Machado, proprietário da Gesticopter Operation Unipessoal — empresa também visada no processo — e cunhado do ministro da Presidência, António Leitão Amaro, terá ganho, através da empresa, cerca de 16 milhões de euros em contratos públicos relativos à contratação de meios aéreos para combate a incêndios.

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Miranda Sarmento defende “marca europeia” para produtos de investimento com benefícios fiscais

Ministro das Finanças quer menos dependência dos depósitos e mais aposta em mercados de capitais, propondo um produto europeu de investimento com vantagens fiscais.

O ministro das Finanças voltou a defender esta sexta-feira a criação de uma conta ou produto de investimento com “marca europeia” que beneficie de regime fiscal favorável.

Esta ideia vem ao encontro da proposta de criação de contas-poupança isenta de impostos, à imagem do que já sucede com as “ISA Accounts” no Reino Unido ou nas contas 401k nos EUA, apresentada tanto no programa eleitoral de 2024 como no programa de 2025 da AD.

Na Conferência anual da CMVM, que decorre esta sexta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, Joaquim Miranda Sarmento alertou para a excessiva dependência dos portugueses nos depósitos bancários e apelou ao reforço dos mercados de capitais nacionais no quadro da nova agenda europeia.

“Os depósitos a prazo são claramente dominantes e menos competitivos na perspetiva de retorno de médio e longo prazo”, referiu o ministro, destacando que isso sucede por “haver uma natural aversão ao risco dos pequenos investidores.”

Na sua intervenção, o ministro elogiou a estratégia da comissária europeia Maria Luís Albuquerque, presente na conferência, afirmando que “o aprofundamento da ‘União da Poupança e do Investimento’ (SIU – ‘Savings and Investment Union’) é fundamental para revitalizar os mercados de capitais a nível europeu, incluindo em Portugal”.

Sarmento destacou que “a competitividade europeia irá beneficiar, e muito, se a Comissão Europeia for bem-sucedida nesta estratégia”, sublinhando que “a melhor forma de reforçar a competitividade europeia nos mercados financeiros é apostar no aprofundamento do mercado interno”.

O governante defendeu que esta união deve permitir “alargar a base de investidores e tornar os investimentos de retalho mais atrativos”, “reduzir o nível de poupanças dos cidadãos europeus que estão a ser canalizados para os EUA, promovendo o investimento nas empresas europeias”, e “reduzir a carga regulamentar e burocrática que pende sobre as empresas europeias”.

O ministro das Finanças revelou que “Portugal também vê com bons olhos iniciativas, que já estão aliás previstas na comunicação sobre a União da Poupança e do Investimento, que permitam criar condições para a introdução de uma conta ou produto de investimento com ‘marca europeia’, sendo que essa conta ou produto poderia beneficiar de um regime fiscal favorável, a ser definido a nível nacional”.

O ministro sublinhou também a elevada concentração das poupanças dos portugueses em depósitos bancários que “são hoje claramente dominantes, (representando mais de 50% dos investimentos de retalho)”, enquanto “a contribuição do retalho para os fundos de investimento que investem em valores mobiliários também é baixa (cerca de 8%)”.

Esta realidade, segundo Sarmento, “limita a capacidade de os portugueses retirarem o melhor rendimento das suas poupanças e coloca excessivo peso no setor bancário para o financiamento da economia”.

Apesar dos desafios, o ministro identificou desenvolvimentos encorajadores, nomeadamente no setor do capital de risco: “os fundos de capital de risco em Portugal estão a registar um crescimento substancial, criando-se assim oportunidades de expansão. Os ativos sob gestão em fundos de capital de risco atingiram 9,25 mil milhões de euros em 2023, um aumento de 29% face ao ano anterior”.

O ministro reconheceu também os desafios regulamentares atuais, afirmando que “temos um quadro regulamentar cada vez mais complexo, com fortes interligações entre as dimensões nacional e europeia, e com um conjunto cada vez mais amplo de matérias”, destacando como exemplo “a regulação e a supervisão dos criptoativos que exige a todos, reguladores e supervisores, uma ação reforçada, mas ainda assim adequada e proporcional”.

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Do Mar à Mesa: quais os desafios que o setor da pesca enfrenta?

  • ECO
  • 30 Maio 2025

A conferência "Do Mar à Mesa", organizada pelo ECO em parceria com a Docapesca, reuniu vários especialistas do setor para falarem sobre a economia da pesca e os seus desafios.

Num contexto marcado por crescentes preocupações ambientais, desafios económicos e a necessidade de garantir a sustentabilidade dos recursos marinhos, a economia da pesca tem vindo a assumir um papel central no debate sobre o futuro do setor.

Foi precisamente com o intuito de refletir sobre os desafios da atividade piscatória que o ECO, em parceria com a Docapesca, realizou conferência “Do Mar à Mesa”, que reuniu diversos especialistas e profissionais ligados ao setor para analisarem as tendências e discutirem sobre os principais obstáculos e oportunidades que marcam a pesca nos dias de hoje.

“Creio que é uma responsabilidade nossa trazer estes temas a debate e talvez ele não esteja a ter a relevância mediática devida”, começou por dizer António Costa, Diretor do ECO, na abertura da sessão, ao mesmo tempo que lançou as seguintes questões para debate: “Que prioridades estão a ser tomadas? Qual o papel das associações neste processo e de que forma podem ser um incentivo à transformação do setor?”.

António Costa, Diretor do ECOHugo Amaral/ECO

No que diz respeito à Docapesca, o seu papel passa, de acordo com Sérgio Faias, presidente da associação, por “valorizar esta atividade” e mostrar que “é uma atividade viva, com futuro, com uma grande história, que precisa de marcar a sua posição”. Para isso, a Docapesca apoia “cerca de 70 atividades piscatórias para garantir que os profissionais possam desempenhar da melhor forma as suas funções”.

Sérgio Faias, Presidente da DocapescaHugo Amaral/ECO

Quais os desafios na valorização do pescador?

No entanto, e apesar desse apoio, os pescadores continuam a enfrentar vários desafios, a começar pela falta de um salário base, que lhes traria mais estabilidade e, consequentemente, contribuiria para resolver o problema de falta de mão-de-obra no setor. “Como é que não há salário mínimo na pesca? Custa-nos compreender. Assim fica difícil chamar os pescadores”, disse Luís Barbosa Vicente, Secretário-Geral da Associação dos Armadores da Pesca Industrial.

A mesma opinião foi partilhada por Francisco Portela Rosa, Diretor na NAVALETHES/VIANAPESCA, que acrescentou: “Nos finais dos anos 80, como não havia um regime jurídico para a pesca, nós fizemos um e entregamos a todos os grupos parlamentares. A maioria dos artigos que lá estavam foram aproveitados, mas fiquei estupefacto com o facto de o artigo que garantia o salário mínimo aos pescadores não constar. Eu não posso criar atratividade para o setor sem isso“.

Essa atratividade depende também do consumo, mas quanto a isso Carlos Macedo, Administrador-Delegado da ArtesanalPesca, assegurou que este está aumentar. No entanto, considera que isso não é suficiente. “Se queremos um setor dinâmico e atrativo alguma coisa tem de ser feita e acho que existe margem porque o consumo está a aumentar. Tem de haver uma definição e visão estratégica do que se quer para o setor. E as estruturas políticas e o próprio setor devem juntar-se para isso“, disse.

O peso da mulher no setor da pesca

“A pesca não é um mundo só de homens. Há muitas mulheres que vão ao mar”, começou por dizer Dina Baião, Diretora da Associação de Armadores de Pesca Artesanal e do Cerco do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, afirmando até que mesmo “mulheres grávidas vão para o mar”. A diretora acrescentou ainda que, apesar de este setor ser tendencialmente masculino, as mulheres não são discriminadas e não devem sentir vergonha de seguir esta profissão.

Contudo, além do trabalho no mar, há também muitas outras áreas que envolvem a pesca, nomeadamente gestão, ciência, investigação, das ONGs, nas quais Rita Sá, Coordenadora de Oceanos e Pescas na WWF Portugal garante que as mulheres têm um “papel preponderante”. “A pesca não é só a pesca. Tem muitas componentes que são muitas vezes dominadas por mulheres. Por exemplo, a maior parte das associações de pescadores são maioritariamente lideradas por homens, mas quem trata e assegura o desenvolvimento da associação normalmente são mulheres. As mulheres têm este papel de procurar soluções, resolver problemas, agregar pessoas diferentes para encontrar soluções em conjunto”, explicou.

Lídia Tarré, Administadora da GelPeixe, é um dos exemplos de mulheres que estão na liderança da administração de uma empresa ligada ao setor e garantiu que a tendência será haver cada vez mais mulheres nesta área. Para isso, deu até o exemplo da própria GelPeixe: “A nível da gestão de topo, fui a primeira mulher na administração, agora são 25%. No nível seguinte já são mais mulheres do que homens. Há uma tendência para as mulheres subirem nestes cargos”.

A importância da certificação da sardinha

Dentro das várias espécies de pescado portuguesas, a sardinha é, sem dúvida, uma das que mais se distingue e, por essa razão, certificá-la seria muito vantajoso. No entanto, apesar de o pedido estar feito, ainda está em processo, que deverá conhecer em breve um desfecho positivo. “A sardinha ainda não está certificada. Estamos a terminar um processo de consulta pública que termina amanhã. Se tudo correr bem, esperamos que esteja certificada em julho. E estamos otimistas quanto a isso”, revelou Rodrigo Sengo, Senior Program Development na MSC Portugal.

Apesar do otimismo, Humberto Jorge, Presidente da Associação Nacional dos Produtores da Pesca do Cerco (ANOPCERCO), lembrou que esta certificação já havia sido pedida no passado, mas acabou por ser suspensa: “Na outra certificação, ela foi suspensa porque o recurso [o peixe] caiu imenso. Estivemos 10 anos com recrutamento muito baixo, então instalou-se a ideia de que a sardinha estava em perigo. Depois os os pescadores viram evidências de que o recurso estava a recuperar e começaram a transmitir isso, o IPMA também reportou isso, mas isto não e instantâneo. Por isso, só quando começaram a aparecer documentos oficiais a falar da recuperação é que foi possível fazer uma nova candidatura“.

Mesmo com a certificação e as vantagens associadas que esta traz, há determinadas problemas que ela não impede que aconteçam, tais como as consequências das alterações climáticas. Para esses, é preciso outro tipo de preparação que, segundo Isabel Tato, Secretária-Geral da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe, passa muito por “unir esforços”, nomeadamente com a parte governamental. “A fileira do pescado está formada, mas é preciso a parte governamental. Quando estivermos todos envolvidos numa política de sustentabilidade, acho que uma parte dos nossos consumidores não se vão importar de pagar mais um cêntimos por esses produtos que vão poupar os nossos ecossistemas“, concluiu.

Assista aqui à conferência:

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Transição sustentável traz competitividade às empresas

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  • 30 Maio 2025

A conferência "Leading the Sustainable Transition", organizada pelo Santander, reuniu vários especialistas e empresários para discutirem a importância da sustentabilidade para a vida das empresas.

A sustentabilidade das empresas pode ser um fator decisivo para a sua sobrevivência no atual mercado, cada vez mais exigente com os critérios ESG. Mas como fazer a transição? O que está em risco se ela não acontecer? E quais as principais vantagens? Estas questões foram respondidas por vários especialistas e empresários que se reuniram na conferência “Leading the Sustainable Transition”, organizada pelo Santander, que decorreu na Exponor, na feira EMAF, este ano com o tema “Create a Sustainable Future”.

Na abertura da sessão, Rui Constantino, Economista Chefe do Santander Portugal, fez um enquadramento dos desafios económicos e geopolíticos do país nos últimos anos e o impacto que isso teve no comportamento das empresas, bem como nas exigências dos clientes. “Olhando para a economia portuguesa, desde 2008 já tivemos grandes crises. Em 2020 tivemos o choque da pandemia e quando estávamos a entrar para uma política monetária menos restritiva, começamos a ter guerras“, começou por dizer.

As crises pré-Covid trouxeram às empresas uma necessidade de se transformarem e inovarem, o que “permitiu à economia beneficiar de um período de crescimento sólido até à pandemia”. E, fruto dessa transformação, mesmo com o impacto trazido pela Covid-19, estas empresas conseguiram recuperar muito mais rápido do que o esperado: “Em 2021, os analistas perspetivavam que o setor do turismo e das viagens aéreas só voltasse ao que era em 2026/27, mas foi muito mais rápido. Isto porque, durante a pandemia, as empresas mantiveram níveis de investimento sólidos e isso ajudou na rápida recuperação“.

Rui Constantino, Economista Chefe do Santander Portugal

O que significa ser sustentável no âmbito empresarial?

Mas onde entra a transição sustentável nesta transformação? A verdade é que a sustentabilidade de uma empresa não está apenas no fator “E” dos critérios ESG, mas sim “em todas as funções, desde a definição organizacional e logística a montante e a jusante, na forma como os processos de trabalho são organizados, como a tecnologia é introduzida, e como a informação é distribuída nos seus processos“. “Uma empresa inovadora é aberta ao exterior, tem de ter uma enorme proximidade aos seus clientes. A inovação é olhar para as necessidades do cliente e resolver os seus problemas”, afirmou Jorge Portugal, Diretor-Geral COTEC Portugal.

Neste âmbito, António Ricardo Oliveira, Administrador da OLI – Sistemas Sanitários S.A., deu o exemplo da própria empresa, que também se abriu ao exterior e, de forma gradual, começou um processo de internacionalização: “Começamos com exportações esporádicas que se tornaram constantes a ponto de justificar ter uma equipa no terreno. A inovação é relevante no processo de internacionalização porque nos permite chegar lá fora com algo diferente e melhor do que aquilo que já existe“.

Contudo, muitas vezes, para conseguirem inovar e diferenciar-se no mercado, as empresas recorrem a empréstimos que vão decidir a sua capacidade de crescimento e, por vezes, até de sobrevivência. E ser sustentável, aqui, também tem um peso considerável.

A transição para a sustentabilidade é essencial para aumentar a resiliência das empresas, a sua diferenciação, e será uma vantagem competitiva no acesso ao financiamento. Se uma empresa não fizer este caminho, terá o risco de ser preterida na cadeia de valor e, consequentemente, ver afetada a sua capacidade de pagar o crédito. Os bancos vão ter de fazer a análise dos dados não financeiros na avaliação de risco de crédito das empresas”, explicou Cristina Melo Antunes, Responsável de Sustentabilidade do Santander Portugal.

Mesmo sendo um caminho que já não é opcional, ainda existe muita relutância por parte de várias empresas, especialmente PME, em fazerem o seu reporte ESG. No entanto, Pedro Ginjeira do Nascimento, Secretário-Geral da Associação BRP, garante que este é um processo extremamente necessário, até para organizações de pequena dimensão, na qual a governance passa apenas por uma pessoa: “Todas as empresas têm governance, ainda que seja básico. Mas nós acreditamos que a profissionalização do governance define o crescimento da empresa, isto porque se tivermos um modelo de negócio simples, no qual tudo passa pelo dono, a empresa só vai crescer até aos limites desse dono. E é aí que a profissionalização do governance é fundamental, caso contrário estamos a limitar o crescimento da empresa”.

Painel de debate com Jorge Portugal, Diretor-Geral COTEC Portugal; António Ricardo Oliveira, Administrador da OLI – Sistemas Sanitários S.A.; Cristina Melo Antunes, Responsável de Sustentabilidade do Santander Portugal; e Pedro Ginjeira do Nascimento, Secretário-Geral da Associação BRP.

Como fazer a transição?

Por outro lado, mesmo quando as empresas são conscientes da importância de fazer a transição para a sustentabilidade, muitas vezes deparam-se com a dificuldade de não saber como a fazer. O que é preciso? Quais os dados que têm de reportar? Como o fazer? Jorge Portugal referiu o VSME (Voluntary Reporting Standard Explained) como um dos melhores mecanismos para responder a estas questões. “Apostamos no VSME, que pode ser um ponto de partida para uma empresa que não monitoriza pontos ESG, mas não só. Ele tem 46 indicadores mínimos para as empresas identificarem. Mesmo as empresas que não são obrigadas a reportar usam este mecanismo para fazerem reporting aos seus clientes e criarem possibilidades de transformar o seu negócio“.

“Temos de saber transmitir os nossos pontos fortes e fracos. E aqui é muito importante a transparência. Há, por isso, a necessidade de os bancos recolherem dados financeiros, mas também dados não financeiros e, com esse objetivo, os bancos juntaram-se todos em volta da SIBS para que as empresas que têm mais do que um banco pudessem responder a apenas um questionário sobre os seus dados não financeiros. Preenchem o questionário apenas uma vez e serve para todos os bancos a que quiserem dar acesso. Isto facilita o financiamento“, acrescentou Cristina Melo Antunes.

A OLI foi uma das empresas que preencheu esse questionário e António Ricardo Oliveira parabenizou a iniciativa: “Nós participamos no questionário da SIBS e foi uma experiência positiva. Tínhamos receio de publicar esses dados e começar a receber questionários de todos os bancos, mas não. Por isso, acho que foi bom se juntarem porque é mais fácil para as empresas“. Este reporte, apesar de ter começado por pressão de clientes internacionais, é agora algo que “flui de forma natural” dentro da empresa, que já tem como objetivo atingir a NET Zero em 2030.

Com o objetivo de ajudar todas as empresas a chegarem a este processo “natural” de reporting, Pedro Ginjeira do Nascimento apresentou o programa que a BRP criou “para as PME profissionalizarem o seu governance”: Criamos um pequeno manual que explica de forma simples o que é o governance, uma app que permite fazer uma autoavaliação de onde a empresa está, como se compara, e, depois, uma bolsa de conselheiros de quadros de topo das nossas empresas, que estão disponíveis para apoiar pro bono as empresas“. O objetivo é perceber que a sustentabilidade significa garantir que a empresa vai continuar no mercado. “Significa perceber como gerimos o risco, como gerimos pessoas“, concluiu.

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E-Redes aponta riscos na fragmentação da concessão de eletricidade

  • Lusa
  • 30 Maio 2025

Presidente da E-Redes diz ainda que apagão foi alerta claro para a importância de reforçar os investimentos nas infraestruturas elétricas, mesmo que isso implique custos adicionais na fatura da luz.

O presidente da E-Redes defende que a hipótese de dividir a concessão da baixa tensão entre vários operadores pode acarretar riscos operacionais e complexidades que colocam em causa a eficiência do serviço prestado.

Em entrevista à Lusa, José Ferrari Careto explicou que a atual estrutura dos contratos, que inclui a distribuição de eletricidade em baixa tensão e a gestão da iluminação pública a um único concedente, tem apresentado um desempenho “eficiente”.

O responsável – que falou à Lusa no âmbito do Dia Mundial da Energia, que se assinalou na quinta-feira -, garante que os 278 contratos vigentes, assegurados pela E-Redes, do grupo EDP, mantêm-se em vigor até que um novo concurso público seja lançado, conforme previsto no Decreto-Lei 15/2022, afastando dúvidas sobre eventuais caducidades ou falta de investimento.

Em fevereiro deste ano, o Governo anunciou que ia prorrogar o prazo para a apresentação do relatório final com as propostas para o modelo do concurso para as concessões elétricas de baixa tensão por mais um ano.

O prolongamento desse passo essencial, necessário para o arranque das novas concessões que fornecem energia aos consumidores domésticos, foi solicitado pela Comissão de Coordenação para a Baixa Tensão, liderada por Nuno Ribeiro da Silva, devido à complexidade do processo cuja discussão é anterior a 2019.

Destacando a “qualidade do serviço atual”, a E-Redes alerta para os perigos de se avançar para um modelo de múltiplos concessionários, apontando que “introduz complexidade na operação” e “dificulta a integração técnica”, sobretudo porque a separação entre baixa e média tensão não é comum nem prática na Europa. Como exemplo, apontou o recente apagão de energia na Península Ibérica a 28 de abril.

“O facto de nós termos visibilidade da alta, média e baixa tensão, acabou por contribuir para que tivéssemos uma atuação mais célebre na recuperação de energia”, sustentou.

Além disso, considera que a transição entre concessionários implica riscos acrescidos, dado que envolve milhares de trabalhadores e um elevado volume de investimentos e sistemas tecnológicos em funcionamento. O presidente comparou esta mudança a “trocar os motores de um avião em pleno voo”, uma operação que exige monitorização cuidadosa para evitar impactos na segurança e estabilidade do sistema.

Por fim, questionado se vão concorrer quando o concurso for lançado, sublinhou que a E-Redes está preparada para avançar, desde que as condições e regras do concurso estejam definidas claramente. “Como em qualquer situação, só temos de tomar decisões perante situações concretas”, concluiu.

Apagão evidenciou urgência de investir na rede mesmo se tiver impacto na fatura

O presidente da E-Redes considerou ainda que o apagão de 28 de abril foi um alerta claro para a importância de reforçar os investimentos nas infraestruturas elétricas, mesmo que isso implique custos adicionais na fatura da luz.

“A sociedade em geral ficou mais alerta para a necessidade de haver investimento nas redes”, afirmou José Ferrari Careto em entrevista à agência Lusa, sublinhando que é “arriscado deixar cair as redes e não fazer investimento”.

Para garantir a modernização e robustez da rede de distribuição elétrica nacional, a E-Redes propôs um plano de investimento de 1,6 mil milhões de euros, entre 2026 e 2030, em infraestruturas de alta e média tensão, já aprovado pelo regulador (ERSE) estando a aguardar a decisão final do Governo.

Só para 2025, o investimento previsto é de 430 milhões de euros, e aqui também estão incluídas as infraestruturas de baixa tensão que servem os clientes domésticos. Mas, reforça o presidente, este é um processo que exige tempo e planeamento: “Não são coisas que compramos no supermercado ou que podemos estalar os dedos e temos estes investimentos feitos. É preciso definir planos, fazer análise de rede, contratar mão-de-obra, executar e comissionar o investimento.”

Sobre o impacto na fatura da eletricidade, o presidente da E-Redes – que falou à Lusa no âmbito do Dia Mundial da Energia, que se assinalou na quinta-feira – garante que os efeitos serão residuais.

“A avaliação que fizemos foi que o impacto nas tarifas era perto de zero. A própria ERSE aponta para um impacto de 0,7% nas tarifas finais, e em termos reais, com o aumento do consumo, esse valor será ultrapassado”, assegurou.

Além disso, lembrou que o custo da distribuição representa apenas 10% da fatura elétrica dos consumidores, sendo o grosso destinado a produção, impostos e outros encargos.

Na ótica da empresa, é também essencial garantir uma remuneração atrativa para os investimentos. “Todos estes investimentos são financiados pela empresa e depois pagos, aos bocadinhos, pela tarifa [de acesso]. Mas para isso é preciso garantir uma remuneração adequada do capital”, explicou, acrescentando que a rentabilidade líquida em Portugal é atualmente inferior à verificada em Espanha.

O presidente da E-Redes destacou ainda o esforço feito pela empresa nos últimos anos para aumentar a eficiência e reduzir custos, nomeadamente com a digitalização da rede e a conclusão do ‘roll-out’ dos contadores inteligentes.

Entre 2020 e 2024, o investimento da E-Redes aumentou 50%, refletindo o impacto da transição energética, da mobilidade elétrica e da ligação de geração renovável à rede. “Hoje, cerca de 75% da geração distribuída está ligada à nossa rede”, sublinhou.

José Ferrari Careto sublinhou que a primeira lição do apagão é que “não se pode tomar nada por garantido”, apesar do elevado desempenho habitual das redes, que funcionam com níveis próximos dos “99,9999%, há sempre uns 0,00001 em que as coisas podem falhar”.

O episódio demonstrou que falhas externas podem sempre ocorrer e que é essencial manter processos disciplinados, rotinados e pré-definidos para uma resposta rápida e eficaz. “Tivemos uma atuação muito disciplinada e rápida”, comentou.

“A empresa seguiu à risca o guião e comportou-se como esperado, tendo conseguido repor a eletricidade num espaço de tempo que, se olharmos para o ‘benchmarking’ [comparação] internacional, acaba por ser bastante bom”, acrescentou.

Outra lição considerada importante pelo responsável é o reconhecimento do envelhecimento natural das infraestruturas em contraste com o aumento contínuo das necessidades da sociedade e da economia, criando um “gap” entre a juventude da rede e suas exigências.

Para resolver essa lacuna, defende ser fundamental aumentar a resiliência, a digitalização e substituir equipamentos obsoletos, assegurando uma rede mais moderna, flexível e robusta.

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Os rumores não eram só rumores. Maria Grazia Chiuri deixa a Dior

  • ECO
  • 30 Maio 2025

Dois dias depois de mostrar a nova coleção, a Dior, detida pelo grupo LVMH, anunciou a saída da sua diretora criativa, pondo fim aos rumores. Jonathan Anderson deve ser o senhor que se segue.

Agradeço calorosamente a Maria Grazia Chiuri, que, desde a sua chegada à Dior, realizou um trabalho extraordinário com uma perspetiva feminista inspiradora e uma criatividade excecional, tudo isto inspirado no espírito de Monsieur Dior, o que lhe permitiu desenvolver coleções altamente apreciadas. Escreveu um capítulo fundamental na história da Christian Dior, contribuindo grandemente para o seu notável crescimento e sendo a primeira mulher a liderar a criação de coleções femininas“, disse Delphine Arnault, presidente e diretora-executiva da Christian Dior Couture, em comunicado.

Maria Grazia Chiuri, italiana, 61 anos, esteve quase uma década à frente da Dior e foi a primeira mulher a exercer este cargo na maison fundada em 1946 por Christian Dior. “Após nove anos, deixo a Dior, feliz por me ter sido dada esta extraordinária oportunidade.

Gostaria de agradecer a Monsieur Arnault por ter confiado em mim e a Delphine pelo seu apoio”, afirmou, no mesmo comunicado que chegou às redações (e foi partilhado nas redes sociais oficiais da marca francesa). “Estou particularmente grata pelo trabalho realizado pelas minhas equipas e pelos ateliers. O seu talento e experiência permitiram-me concretizar a minha visão de uma moda feminina empenhada, num diálogo estreito com várias gerações de mulheres artistas. Juntos, escrevemos um capítulo impactante do qual estou imensamente orgulhosa”.

A saída de Maria Grazia Chiuri pode abrir caminho para o designer irlandês Jonathan Anderson, 40 anos, cuja saída da Loewe foi conhecida em março e a sua entrada na Dior Men foi anunciada em abril.

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Descarbonizar com estratégia implica novo mix energético, apontam peritos

  • ECO
  • 30 Maio 2025

Na Semana da Energia, debateu-se como descarbonizar sem perder competitividade, mantendo o foco no consumidor e na colaboração entre energias.

Falar de energia hoje é falar de descarbonização. A constatação marcou o arranque de uma conversa no âmbito da Semana da Energia — uma iniciativa do ECO com o apoio da Repsol — moderada por Tiago Freire, subdiretor do ECO. Armando Oliveira (Repsol Portuguesa), Ana Luís de Sousa (Associação Portuguesa de Energia – APE) e Filipa Pantaleão (BCSD Portugal) analisaram o que está a mudar, o que falta mudar e como.

Ana Luís de Sousa, diretora-executiva da Associação Portuguesa de Energia – APE, Armando Oliveira, administrador-delegado da Repsol Portugal, e Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD Portugal, estiveram no Estúdio ECO para falarem de soluções para uma descarbonização imediata. A moderação foi do Tiago Freire, subdiretor do ECOHugo Amaral/ECO

“Quando falamos de energia, falamos de sustentabilidade, acessibilidade e segurança”, começou por destacar Ana Luís de Sousa, lembrando que o setor energético tem vindo a descarbonizar, mas que o processo deve assegurar produtos competitivos e acessíveis. “Todas as empresas estão a fazer o seu caminho para emitir menos CO2”, reforçou a diretora-executiva da APE.

Ana Luís de Sousa, diretora-executiva da Associação Portuguesa de Energia – APE: “Nos centros urbanos, a mobilidade elétrica é uma solução. Mas no transporte de longo curso, ainda não temos alternativa viável ao diesel”Hugo Amaral/ECO

Do lado das empresas, Armando Oliveira, Administrador-delegado da Repsol Portugal, falou de uma “reinvenção” em curso. “O que fazíamos há 100 anos não pode continuar a ser feito”, reconheceu. Em 2015, a Repsol assumiu o compromisso de ser neutra em carbono até 2050, e para isso está a apostar em novas soluções como os combustíveis 100% renováveis. “Hoje, entra na nossa refinaria de Cartagena um comboio com resíduos agrícolas e sai um combustível — HVO — que permite abastecer um carro diesel sem mudar nada”, exemplificou.

Armando Oliveira, Administrador-delegado da Repsol Portugal: “Hoje, entra na nossa refinaria de Cartagena um comboio com resíduos agrícolas e sai um combustível — HVO — que permite abastecer um carro diesel sem mudar nada”Hugo Amaral/ECO

O responsável considerou que a transição tem de ser feita com “senso comum” e sublinhou que o objetivo é compor um “puzzle energético” com várias peças: elétrico, hidrogénio, combustíveis tradicionais e novos combustíveis.

Mas esta transição encontra entraves pelo caminho. Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD, notou que “há uma aceleração” por parte das empresas, mas também “uma reação contra a sustentabilidade”, vinda de alguns setores e geografias. “A Europa percebeu que não pode recuar”, referiu, comentando a revisão do pacote legislativo europeu em matéria de reporte de sustentabilidade. “Não é perder ambição, é otimizá-la. A sustentabilidade é um fator de inovação e de competitividade”, reiterou.

Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD Portugal: “A Europa percebeu que não pode recuar. A sustentabilidade é um fator de inovação e de competitividade”Hugo Amaral/ECO

A questão regulatória foi, aliás, amplamente debatida durante a mesa-redonda. Ana Luís de Sousa apontou que “as transposições de diretivas são processos complexos, que exigem articulação entre várias entidades” e que os ciclos políticos podem atrasar esta articulação. Já Filipa Pantaleão alertou que muitas leis estão “desatualizadas” e que “as instituições públicas precisam de se formar, agilizar e acompanhar a velocidade da sociedade e das empresas”.

“É normal irmos a correr fechar uma torneira que ficou aberta. Mas ninguém corre a apagar uma luz que ficou acesa”, apontou Armando Oliveira, referindo-se ao papel do consumidor. Para o gestor, todos temos um papel na descarbonização, e essa intervenção começa nas pequenas decisões diárias.

“Nos centros urbanos, a mobilidade elétrica é uma solução. Mas no transporte de longo curso, ainda não temos alternativa viável ao diesel”, notou ainda Ana Luís de Sousa. Por isso mesmo, a aposta em combustíveis renováveis como o HVO ganha tração, sobretudo nas grandes frotas. “Desde julho do ano passado que temos este produto à venda em Portugal, embora a regulamentação ainda não permita a sua plena comercialização ao público em geral”, revelou Armando Oliveira.

A circularidade, que em Portugal apresenta uma taxa muito baixa, também entrou no debate, com Filipa Pantaleão a defender que a energia devia ser reconhecida como parte de uma economia circular mais abrangente. “Nada se perde, tudo se transforma — inclusive a energia”, afirmou. A ausência de um índice de circularidade que integre energia e água “dificulta o acesso das empresas às novas soluções”, acrescentou.

A talk encerrou com uma certeza e uma dúvida. A certeza: a transição é inevitável e colaborativa. A dúvida: qual será o mix energético ideal no futuro? “Se alguém disser que sabe, está enganado”, brincou Armando Oliveira. “Quem quiser saber, que vá ao museu da ciência no Dubai perguntar à senhora-robô qual é a energia do futuro”, rematou.

Veja outros conteúdos da Semana de Energia aqui.

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Tribunal Constitucional já recebeu recursos para avaliar prescrição do ‘cartel da banca’

  • ECO
  • 30 Maio 2025

Recursos apresentados pela Autoridade da Concorrência e o Ministério Público colocam em causa os prazos de prescrição, que no entender do Tribunal da Relação de Lisboa já se verificaram.

Já deram entrada no Tribunal Constitucional os recursos apresentados pela Autoridade da Concorrência e pelo Ministério Público para impedir a prescrição das coimas de 225 milhões de euros, impostas à Caixa Geral de Depósitos (CGD), ao BCP e ao Santander, no âmbito do caso conhecido como ‘cartel da banca’, noticia o Público (acesso pago). O juiz relator responsável por este processo é Afonso Patrão, nome saído do sorteio realizado em 27 de maio.

Agora, o Palácio Ratton terá de se decidir sobre a admissibilidade dos recursos e, se sim, sobre os argumentos de cada entidade, estando em causa a contagem dos prazos de prescrição — que, para o Tribunal da Relação de Lisboa, já se verificaram, ao contrário do defendido pela Autoridade da Concorrência e pelo Ministério Público.

De momento, seja qual for o entendimento do Tribunal Constitucional, os prazos de prescrição estão a aproximar-se. Mesmo o único dos três juízes da Relação que considerou não haver prescrição tem o entendimento de que as infrações apontadas pela Autoridade da Concorrência aos bancos começam a prescrever a partir do fim do ano, com as últimas entidades com prescrição agendada para maio de 2026.

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