Cinco respostas sobre os períodos horários da eletricidade que a ERSE quer mudar

- Ana Batalha Oliveira
- 18 Setembro 2025
O regulador da energia, a ERSE, avançou que irá lançar em breve uma consulta pública para alterar os períodos horários da eletricidade, que determinam quando esta é mais barata. Saiba como funcionam.
Cinco respostas sobre os períodos horários da eletricidade que a ERSE quer mudar

- Ana Batalha Oliveira
- 18 Setembro 2025
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O que são e quais são os períodos horários da energia elétrica?
Os períodos horários da energia elétrica correspondem à forma como o consumo de eletricidade se distribui ao longo das 24 horas de cada dia e dos sete dias da semana.
Além dos períodos horários, também estão previstos dois ciclos: ciclo diário (em que o consumidor escolhe que lhe sejam aplicados períodos horários iguais em todos os dias do ano) e ciclo semanal (os períodos horários diferem entre dias úteis e fim de semana). Os períodos horários também diferem consoante se esteja a falar de Portugal Continental, Açores ou Madeira.
Há ainda uma outra camada. Escolhido o regime tri-horário ou bi-horário, as horas correspondentes a cada período podem ser iguais em todos os dias do ano (ciclo diário) ou podem variar consoante se trate de um dia útil, sábado ou domingo, ou se é verão ou inverno (ciclo semanal).
Existem, por fim, diferenças regionais. Os períodos são diferentes entre o continente, os Açores e a Madeira.
Proxima Pergunta: Como varia o preço entre períodos?
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Como varia o preço entre períodos?
Para os consumidores domésticos, há três opções tarifárias:
- Tri-horário: três períodos, que se dividem em ponta, cheias e vazio;
- Bi-horário: dois períodos, constituídos pelo vazio e fora-vazio;
- Simples: um único período
Na opção tri-horária, o preço mais elevado verifica-se no período de ponta e o mais reduzido durante o período de vazio. Na opção bi-horária, o preço mais elevado verifica-se no período fora-vazio e o mais reduzido igualmente durante o período de vazio. Na opção simples não existe diferenciação do preço de energia durante o dia.
Se o ciclo for semanal, nos dias úteis, os períodos mais baratos (os de vazio), numa opção tri-horária, decorrem entre a meia noite e as sete da manhã. Ao sábado prolongam-se entre as 22 horas e as 9h30 do dia seguinte, e entre as 13 horas e as 18h30, com ligeiras alterações no inverno. O domingo é considerado um período ‘vazio’, ao longo de todo o dia. Na opção bi-horária, as horas de vazio são as mesmas já descritas, o que varia é que as restantes horas são todas “fora-vazio”, enquanto a tri-horária tem mais subdivisões.
Se o ciclo escolhido for diário, tanto no regime tri-horário como no bi-horário, o ‘vazio’ regista-se entre as 22 horas e as 8 horas do dia seguinte.
Para os consumidores de maiores níveis de tensão, geralmente industriais, além das horas de ponta, em que o preço da energia é mais elevado, das horas cheias, e vazio normal, em que o preço é mais reduzido, acresce o “super vazio”, com preços ainda mais baixos.
Proxima Pergunta: Como é que os consumidores podem tirar proveito dos diferentes períodos?
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Como é que os consumidores podem tirar proveito dos diferentes períodos?
A lógica subjacente é procurar concentrar os consumos nas horas mais baratas, de forma a poupar na fatura.
Um consumidor doméstico que transfira consumos do período de ponta para o período de vazio (por exemplo, utilizar a máquina de lavar a loiça a partir da meia-noite) verifica uma redução na sua fatura mensal em comparação a um consumidor que esteja numa opção tarifária simples, afirma a ERSE, na nota informativa “Períodos Horários na energia elétrica em Portugal”.
“Se mais de 40% do seu consumo diário é feito entre as 22h e as 8h, esta tarifa pode ser vantajosa”, escreve a Galp, que é fornecedora de eletricidade, no seu site. Pedro Silva, especialista em Energia da Deco Proteste, aconselha cautela, já que um uso pouco disciplinado da tarifa bi-horária pode mesmo encarecer a fatura da luz. “Não é garantido que a fatura fique muito mais leve. Pior: sem disciplina férrea que migre consumos para as horas de vazio, é até possível pagar mais do que com a tarifa simples“, escreve o mesmo, num artigo disponível na página da Deco Proteste. Fazendo as contas, é possível poupar 5,5 cêntimos por quilowatt-hora com a tarifa bi-horária no mercado regulado, mas um mau uso pode mesmo tornar a fatura mais pesada.
Proxima Pergunta: O que é que o regulador quer mudar?
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O que é que o regulador quer mudar?
Isabel Apolinário, administradora da ERSE, avançou que o regulador vai lançar uma proposta em consulta pública, na qual pretende alterar os períodos horários que estão definidos de momento. A proposta vai abranger todos os níveis de tensão, desde a baixa tensão (consumidores domésticos), à média e alta tensão, características dos consumidores industriais.
“Nós vamos lançar, ainda este mês, uma consulta pública para atualizar os períodos horários”, indicou a administradora da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), Isabel Apolinário, na intervenção com a qual fechou a conferência Energy 2025, organizada pelo ECO/Capital Verde esta quarta-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Embora, à margem da conferência, a administradora da ERSE tenha optado por não avançar mais detalhes da proposta, no seu discurso referiu que, no verão, o vazio deixa de acontecer à noite, passando a acontecer durante o dia.
Proxima Pergunta: Porquê atualizar os períodos horários?
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Porquê atualizar os períodos horários?
Embora a administradora da ERSE não tenha aprofundado este assunto, a ideia de alterar os períodos horários já havia sido levantada na mesma conferência por António Vidigal, ex-CEO da EDP Inovação, que é atualmente consultor de energia.
O mesmo, questionado sobre formas de promover a flexibilidade do sistema elétrico, deu França como um bom exemplo, já que este país inventou a tarifa bi-horária em função da produção de energia nuclear: “queriam transferir o consumo para a noite”, explicou. Neste sentido, recomendou que o horário das tarifas bi-horárias em Portugal seja revisto, de forma a transferir o consumo de horas onde o preço é mais alto para mais baixo, o que agora acontece quando há muita luz solar, durante o dia. No fundo, a ideia seria promover o uso de eletricidade nas alturas do dia em que há excesso de produção, e muitas vezes preço zero, geralmente as horas em que há sol, promovendo que não se desperdice esta energia.