Das leituras remotas aos tarifários personalizados: o que pode ganhar com um contador inteligente
- Ana Batalha Oliveira
- 9 Dezembro 2024
A E-Redes deu a volta ao país e terminou, este novembro, uma campanha de instalação de contadores inteligentes que decorria desde 2016. Saiba o que muda e como pode tirar partido do seu novo contador.
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O que se torna mais simples quando tenho um carregador inteligente?
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Que serviços só funcionam com carregadores inteligentes?
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O que ganha o sistema elétrico nacional (e que tem impacto no consumidor?)
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E no futuro próximo, para que pode ser útil o contador inteligente?
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E quais os desafios que traz esta inovação?
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Mas eu não tenho contador inteligente. E agora?
Das leituras remotas aos tarifários personalizados: o que pode ganhar com um contador inteligente
- Ana Batalha Oliveira
- 9 Dezembro 2024
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O que se torna mais simples quando tenho um carregador inteligente?
Há dois benefícios mais imediatos e “com mais impacto”, explica Luís Pereira, diretor de Operações de Redes Inteligentes na E-Redes.
EM primeiro lugar, um contador inteligente faz leituras automáticas e diárias. “Isto significa que os comercializadores têm capacidade de acabar com as estimativas, afirma o mesmo, reconhecendo que anteriormente a questão das estimativas criava “alguns atritos”.
Em segundo lugar, aumentam os casos em que se podem resolver questões remotamente. “Deixa de ser necessário, na esmagadora maioria das vezes, a pessoa estar em casa”, por exemplo quando quer realizar a atualização de um tarifário ou potência contratada, afirma Luís Pereira. Só este ano, a E-Redes já fez “cerca de meio milhão de atualizações remotas”. Dependendo do comercializador e da forma como se processa a interação deste com a E-Redes, as alterações até podem ser feitas na própria hora.
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Que serviços só funcionam com carregadores inteligentes?
Há dois exemplos paradigmáticos: a mobilidade elétrica e o autoconsumo.
Em relação ao autoconsumo, explica João Nunes, diretor da Área de Clientes da E-Redes, à medida que os clientes foram instalando estas soluções, também os seus contadores foram sendo mudados. Só com um contador inteligente é possível fazer a gestão de optar pela energia produzida em vez da energia da rede, e vender o excedente à rede. Está já disponível, no Balcão Digital da E-Redes, na área pessoal do cliente, a energia que este produziu, consumiu e o respetivo saldo.
No que toca a mobilidade elétrica, é necessário que a energia seja medida a cada 15 minutos, “senão, não se conseguem distinguir consumos próprios do posto de carregamento daquilo que são os consumos de carregamento. Uma questão técnica”, explica Luís Pereira.
Proxima Pergunta: O que ganha o sistema elétrico nacional (e que tem impacto no consumidor?)
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O que ganha o sistema elétrico nacional (e que tem impacto no consumidor?)
“Do ponto de vista do operador de rede de distribuição [a instalação de contadores inteligentes] também traz vantagens, que obviamente se refletem no cliente”, garante o diretor de Operações de Redes Inteligentes.
Como cada contador pode funcionar como uma espécie de “sonda”, já que recolhe dados quase em direto, é mais fácil perceber onde estão os problemas na rede e solucioná-los, proporcionando uma melhor qualidade de serviço, indica.
Em paralelo, existe a questão do planeamento de rede, que pode ser feita de forma mais eficaz, continua Luís Pereira. E João Nunes acrescenta: há zonas nas quais, se detetado determinado padrão de tensão elevada na rede, pode-se optar por, em vez de construir um transformador para lidar com essa tensão — o que implica custos que vão ser arcados por todos os consumidores –, “desafiar” os consumidores dessa zona a desligarem a eletricidade sempre que necessário, antes de criarem problemas ao sistema, perante contrapartidas. Uma solução eficaz e mais económica.
Por fim, existindo uma capacidade muito maior de prevenir e solucionar a fraude — as comummente chamadas “puxadas” –, os custos da rede são melhor distribuídos por todos os utilizadores, “o que reduz, no limite, as tarifas de acesso”, explica Luís Pereira.
Proxima Pergunta: E no futuro próximo, para que pode ser útil o contador inteligente?
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E no futuro próximo, para que pode ser útil o contador inteligente?
Uma das capacidades do contador inteligente, que ainda não está a ser tão utilizada como poderá vir a ser no futuro, é a de permitir tarifários mais ajustados ao consumo do cliente.
Os consumidores já podem, no site da E-Redes, consultar o seu diagrama de consumo, e perceber quando consomem mais e menos eletricidade. São dados pessoais, que só podem ser partilhados pela E-Redes com o comercializador ou com outra entidade caso o cliente autorize. Mas o cliente pode mesmo ter interesse nessa partilha. Porquê? Pode querer partilhar com empresas de consultoria de serviços energéticos ou com o respetivo comercializador, para que estas entidades possam fazer uma avaliação das melhores soluções que têm disponíveis para cada caso, em termos de qualidade e preço.
Há uma outra porta aberta (já aqui mencionada), que é a de um consumidor, no futuro, se disponibilizar para parar o respetivo consumo a determinadas horas nas quais o sistema elétrico nacional o necessite, de forma a equilibrar o funcionamento da rede, já que com o crescimento das renováveis a disponibilidade de eletricidade é mais imprevisível. Caso um cliente se disponibilize previamente para desligar os seus consumos assim que o sistema necessite, pode receber contrapartidas como descontos no preço da sua eletricidade, como incentivo.
Proxima Pergunta: E quais os desafios que traz esta inovação?
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E quais os desafios que traz esta inovação?
Luís Pereira afirma que, apesar de sem contadores inteligentes o autoconsumo e mobilidade elétrica não serem possíveis, as novas capacidades da rede vão ter de servir os novos casos de usos e serviços que surgirão à medida que a transição energética avança, o que constitui um desafio.
Ao mesmo tempo, à medida que os portugueses se forem habituando às potencialidades da nova rede e comecem a tirar cada vez mais proveito, também deverão ficar mais exigentes. “Vão querer por exemplo uma manutenção e intervenção muito rápida“, projeta o responsável. O que, naturalmente, exigirá mais do serviço do operador de rede.
Além disso, a interatividade destes contadores cria um novo problema, o chamado “ruído” na rede, que impede uma correta comunicação com o operador. Este ruído pode ser criado por equipamentos simples na casa dos portugueses, como fontes de alimentação de computadores — sobretudo, dos mais antigos — ou algumas lâmpadas LED, que causam interferências. “Temos de ir endereçando no terreno. O analisador de sinal tem de encontrar a agulha no palheiro, o cliente que está a introduzir ruído“, para que depois possa instalar um filtro na rede, sem incomodar o cliente, explica. Uma congénere espanhola instala 10.000 filtros ao ano, indica, para dar uma noção da dimensão do problema.
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Mas eu não tenho contador inteligente. E agora?
A E-Redes anunciou que terminou a campanha que tinha iniciado em 2016 e cujo prazo era final de 2024, tendo percorrido todas as casas. No entanto, a substituição só aconteceu efetivamente em 99,5% dos lares com contrato ativo. “O que fica a faltar para os 100% são aqueles [lares] em que não conseguimos entrar apesar de múltiplas tentativas. Ou prédios que não conseguimos acesso, e ficaram a faltar um ou dois contadores. São situações residuais”, indica Luís Pereira, assumindo que estes casos se irão resolvendo “em velocidade cruzeiro” há medida que as pessoas queiram, por exemplo, uma mudança contratual. Também há consumidores que agendaram para mais tarde a alteração, mas já está planeada.
No caso de o cliente querer, proativamente, fazer essa mudança, só tem de ligar para o 218 100 100, para que o operador agende um dia e hora que sejam convenientes. “Não tem qualquer custo para o cliente. É tão simples quanto isso”, diz o diretor de Operações.