Preço de mercado da eletricidade dispara em Portugal após apagão. Irá chegar à fatura?

- Ana Batalha Oliveira
- 7 Maio 2025
Medidas de contenção pós-apagão estão a ditar preços mais altos no mercado da eletricidade. É pouco provável que estes preços afetem contratos a preço fixo, mas devem notar-se em tarifários indexados.
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Porque é que o preço grossista da eletricidade em Portugal difere do espanhol desde o apagão?
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Como é que o preço em Portugal tem comparado com o de Espanha?
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Mas porque é que os preços estão mais altos em Portugal do que em Espanha?
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Até quando é que Portugal se vai manter isolado face a Espanha?
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Os preços mais elevados após o apagão vão chegar à fatura?
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O que esperar se escolhi um contrato indexado?
Preço de mercado da eletricidade dispara em Portugal após apagão. Irá chegar à fatura?

- Ana Batalha Oliveira
- 7 Maio 2025
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Porque é que o preço grossista da eletricidade em Portugal difere do espanhol desde o apagão?
Os preços grossistas da eletricidade — isto é, aqueles que são negociados no mercado entre produtores e comercializadores ou grandes consumidores –, são geralmente iguais em Portugal e Espanha, já que o mercado está completamente integrado.
Contudo, após o apagão ibérico do dia 28 de abril de 2025, a REN, operadora da rede de transporte em Portugal, decidiu interromper a ligação com Espanha, deixando de importar energia do país vizinho, dado “o consequente processo de estabilização em curso”. Isto faz com que Portugal esteja a gerir o respetivo mercado elétrico de forma independente do de Espanha, resultando desta forma em preços diferentes.
Proxima Pergunta: Como é que o preço em Portugal tem comparado com o de Espanha?
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Como é que o preço em Portugal tem comparado com o de Espanha?
No dia a seguir ao apagão, os preços de mercado da eletricidade estiveram em sintonia no mercado ibérico – nos 5,79 euros por megawatt-hora – mas, a partir daí, foram-se notando algumas diferenças. Dois dias depois do colapso da rede, a 30 de abril, o país vizinho marcou 31,83 euros de preço médio, enquanto Portugal ‘levou a melhor’, ficando pelos 20,54 euros.
A 1 de maio, a tendência inverteu-se, com Portugal a pagar uma média de 18,85 euros e Espanha a marcar 13,29 euros. A 2 de maio, a diferença entre os dois países ditou que Portugal superasse Espanha em três euros por megawatt-hora.
No dia 3, a diferença foi mais pequena, de pouco mais de um euro. Contudo, no dia 4, o hiato atingiu mais de nove euros e, finalmente, esta segunda-feira, 5 de maio, Portugal marcou um preço quatro vezes maior, os 43,94 euros, que comparam com os 10,89 euros de Espanha.
Esta quarta-feira mantém-se a tendência, embora mais modesta: Portugal está a pagar 47,19 euros por megawatt-hora e Espanha 19,01 euros pela mesma quantidade de eletricidade.
Proxima Pergunta: Mas porque é que os preços estão mais altos em Portugal do que em Espanha?
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Mas porque é que os preços estão mais altos em Portugal do que em Espanha?
Ao decidir suspender a interligação com Espanha, e portanto cessar as importações a partir do país vizinho, Portugal não pode beneficiar de energia mais barata que esteja a ser produzida em Espanha, o que evitaria ter de recorrer a tecnologias mais caras.
Ora, até ao dia 27 de abril, o dia antes do apagão, 89,7% da eletricidade consumida em Portugal teve origem renovável, com maior peso da hídrica — acima de 40% –, seguida da eólica, na ordem dos 30%, e da energia solar, que pesou cerca de 10%. O gás natural só foi chamado a contribuir para a produção de 7,5% da energia. Contudo, no dia 5 de maio, o consumo que é abastecido por energia renovável caiu para 85,2%, com o gás natural a subir para dar resposta a 14,3% do consumo, em linha com o registado desde o início de maio.
O maior recurso ao gás faz diferença porque é uma tecnologia mais cara, e os preços da eletricidade são definidos hora a hora consoante as tecnologias que são necessárias para dar resposta ao consumo nesse espaço de tempo. Se o gás natural tem de ser mais solicitado porque se rejeita a possibilidade de importar renováveis de Espanha, contar-se-ão mais horas nas quais os produtores vendem eletricidade mais cara.
Proxima Pergunta: Até quando é que Portugal se vai manter isolado face a Espanha?
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Até quando é que Portugal se vai manter isolado face a Espanha?
A REN tem dado atualizações através do respetivo site. A última, que data desta terça-feira, dia 6 de maio, aponta para que a ligação com Espanha seja reaberta dia 8 de maio, mas com um limite de importação de 1000 megawatts.
Proxima Pergunta: Os preços mais elevados após o apagão vão chegar à fatura?
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Os preços mais elevados após o apagão vão chegar à fatura?
Depende se está no mercado indexado ou se, como a maioria dos consumidores, tem um contrato com preços fixos (que são atualizados a cada 12 meses).
No caso de ter um contrato com preço fixo, pode sentir ou não impacto consoante a decisão da comercializadora à qual compra eletricidade, e de como estas possam acomodar os custos eventualmente mais pesados com a compra de eletricidade. Os CEO da Manie, André Pedro, e da Bling Energy, Bernardo Fernandez, concordam, contudo, que, sendo um fenómeno isolado e do qual se espera um impacto momentâneo, não é expectável que existam revisões de preço.
Em oposição, Ana Rita Antunes, diretora Executiva da Coopérnico, acredita que os preços fixos irão agravar-se na sequência dos preços pós-apagão, mas que esse agravamento será diferido no tempo, verificando-se quando as comercializadoras revirem os seus preços. De qualquer forma, assinala a Selectra, caso as comercializadoras desejem rever os preços, isto exigiria uma comunicação prévia e o cumprimento das condições contratuais.
Já os preços nas faturas dos consumidores que se encontram com tarifários indexados, variam de acordo com o preço praticado no mercado de energia, ao qual se somam componentes como a tarifa de acesso às redes (TAR) e a margem da comercializadora, explica André Pedro, CEO da Manie, para depois concluir: “Por isso, sim, os consumidores [com tarifário indexado] em Portugal vão sentir um acréscimo na fatura quando comparado a um cenário hipotético em que não existia apagão, considerando que o efeito do aumento é apenas causado pelo apagão”.
Proxima Pergunta: O que esperar se escolhi um contrato indexado?
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O que esperar se escolhi um contrato indexado?
Pela natureza do mercado indexado, “qualquer flutuação de preço reflete-se no preço final pago pelo cliente, portanto será de esperar um custo acrescido dos preços atuais” do mercado grossista, indica a Bling Energy. A mesma aponta que em empresas ou negócios ligados em média ou alta tensão, a componente da energia pode representar mais de 70% da fatura, logo o impacto será mais significativo. Já nos clientes residenciais ligados à Baixa Tensão Normal (BTN), a componente da fatura relativa à energia tem um peso de cerca de 60%, pelo que o impacto será menor.
Entre segunda-feira, 21 de abril, e segunda-feira, 5 de maio, o preço médio da eletricidade, ponderado pelo consumo, registou um aumento de cerca de 12%, continua a Bling. Assumindo que a componente de energia representa 70% do valor total da fatura, este aumento pode traduzir-se num impacto de aproximadamente 8,4% na fatura final dos clientes com tarifa indexada. No entanto, ressalva André Pedro, da Manie, é difícil isolar a percentagem do aumento do preço que está a ser resultado exclusivamente do apagão e não da tendência normal de mercado. Além disso, o impacto negativo depende de cada consumidor, da comercializadora em questão, do padrão de consumo, entre outros.
“O mais importante quando se está no mercado indexado é ter sempre em conta que não se está necessariamente a “jogar um jogo” diário mas olhar sempre para um cenário mensal ou até trimestral”, defende o fundador e CEO da Manie, sublinhando que mesmo neste cenário em que aconteceu um apagão, “é expectável que o mercado indexado compense em termos financeiros para os clientes quando comparado com o tarifário fixo com preços mais baixos”.