Após um ano, Gaming Hub já acolhe 42 empresas com 248 trabalhadores. Francisco Moreira, gaming lead da Unicorn Factory Lisboa, diz que este é o local que agrega a energia desta comunidade.
Foi o primeiro hub temático a nascer em Lisboa sob a égide da Unicorn Factory Lisboa. O primeiro nível foi com a norte-americana Fortis, mas um ano depois do seu arranque oficial o Gaming Hub já acolhe 42 empresas associadas, com um total de 248 trabalhadores, e acolhe fisicamente 24 empresas, com 80 pessoas a trabalhar presencialmente.
São na sua maioria portuguesas (67,5%), mas mais de um terço (32,5%) são internacionais de origens como França, EUA, Brasil, Suécia, Irlanda, Reino Unido, Chile, Austrália, Roménia, Canadá, Itália. E tem ainda membros remotos a viver em Portugal de Espanha, Índia, Albânia, Dinamarca. A maioria está há 10 meses ligada ao hub que quer dinamizar uma indústria que, em 2023, gerou em Portugal 48,6 milhões de euros de volume de negócios.
Francisco Moreira, gaming lead da Unicorn Factory Lisboa, não tem dúvidas de que hoje o hub é o local que agrega a energia da comunidade de gaming. “É o sítio por onde toda a gente da indústria que vem a Lisboa passa”, garante.
Em três meses, o hub atingiu a lotação máxima. Há planos para expandir fisicamente o espaço? “Se no futuro surgir uma oportunidade faz sentido analisarmos porque, de facto, essa comunidade tem crescido. Nos primeiros três meses ficamos com o espaço lotado, portanto, claramente que há procura para mais, mas o nosso foco será o crescimento da comunidade, até porque aí não temos limitação e isso permite-nos ganhar escala”, diz Gil Azevedo, diretor da Unicorn Factory.
Três hubs depois — surgiram entretanto web3 hub, o greenhub e o AI Hub —, Gil Azevedo considera que esta estratégia será ainda aposta no futuro. “Com quatro já cumprimos o objetivo mínimo que tínhamos, podemos crescer mais um ou dois se surgirem as oportunidades com parceiros credíveis e relevantes que possam se associar à fábrica de unicórnios. No entanto, sendo totalmente transparentes, não temos neste momento nenhum planeado ou em desenvolvimento”, diz o diretor da Unicorn Factory.
O Gaming hub faz em dezembro um ano. Está a cumprir o seu papel de dinamizador da comunidade, da indústria de videojogos nacional?
Gil Azevedo: Sem dúvida que sim. Foi o primeiro de quatro hubs e a nossa extensão para outros três hubs demonstra que esta estratégia de criar espaços físicos em verticais de elevado crescimento tem permitido não só dar visibilidade a esses verticais, como agregar e atrair toda a comunidade e, desta forma, ganhar escala, visibilidade e apoiar de uma forma mais estruturada todo o setor. Por termos mais esta visibilidade, mais escala também ganhamos atenção internacional e, desta forma, conseguimos também mais projetos, mais investimento, mais talento para Portugal.
Tem sido uma estratégia que tem dado frutos logo desde o início, pela rapidez com que enchemos o espaço e pela forma como tem crescido esta comunidade. Vamos continuar a fazer uma aposta forte nos hubs de inovação e, em particular, na área de indústria de videojogos.
Arrancou com a norte-americana Fortis. Agora são mais de 40 empresas associadas. O que as tem atraído?
Francisco Moreira: Tem atraído empresas e as pessoas. Dando um exemplo, o evento de comunidade que organizamos antes da Covid tinha, em média, 30 a 40 pessoas a participar. Agora tem uma média de 80, portanto, muito mais gente do que havia nos antigos meets organizados pela indústria.
Permitiu a muitos estrangeiros em Portugal há vários anos e a empresas que estavam isolados — umas das maiores empresas que temos no hub, a Phat Fingers, estava num coworking e não tinha contacto com a indústria — agora terem acesso a toda a gente que está no Gaming hub, seja consultoras, recrutadores, investidores, até técnicos, artistas e programadores.
Abrimos muitas portas à conexão internacional, através da participação em feiras, mas neste momento, o Gaming hub é o sítio por onde toda a gente da indústria que vem a Lisboa passa. Isso permite muitas vezes fazer a conexão com empresas que estão cá. Alguns publishers (estúdios de videojogos) já se ofereceram para vir cá ter reuniões com os estúdios independentes e até fazer uma apresentação de como abordar os publishers. Há um acesso muito maior a conhecimentos e a parceiros a partir do momento em que as empresas estão cá e antes estavam dispersas e sem ninguém a quem recorrer.
Essa atração de empresas estrangeiras ajuda também as próprias startups portuguesas a terem ânimo e investimento para lançarem os próprios estúdios ou Portugal é mais visto como uma pool de talento?
Gil Azevedo: Portugal tem aqui três grandes segmentos dentro do gaming e todos têm potencial. Um deles é a criação de novos estúdios de videojogos. As empresas que estão no hub e são, na sua grande maioria, portuguesas na área de videojogos; segundo, a atração de projetos internacionais. A FunPlus, que abriu escritório em Lisboa muito recentemente, é exemplo de uma empresa grande, unicórnio, internacional, que decidiu montar cá escritório e pretende cá crescer a equipa; em terceiro lugar o talento. Há vários cursos universitários nesta área de videojogos. Os estúdios portugueses também vão contratando e vão desenvolvendo recursos.
Francisco Moreira: Havia uma sensação na comunidade de que Portugal não tinha relevância, não era visto como indústria de jogos lá fora. Todas estas empresas virem para cá criou uma sensação mais generalizada de que temos alguma voz dentro da indústria internacional de jogos.
Muitos dos grandes estúdios independentes com sucesso são pessoas que saem de empresas e criam os seus próprios projetos. Em Portugal há alguns estrangeiros que vieram para cá com empresas e estão a sair para criar cá a sua própria empresa. Portanto, beneficia todos os formatos, seja quem está à procura de um emprego estável, quem quer crescer e procura um sócio, um parceiro para um jogo, ou simplesmente talento para contratar para o projeto. A médio e longo prazo valoriza toda a gente.
O hub tem um modelo presencial e de membros virtuais. Fisicamente há planos de expandir o espaço? Parece já bastante ocupado.
Gil Azevedo: Há um plano claro de expandir a comunidade. Tem sido esse também o caminho de crescimento dos nossos programas de startups de incubação e de scaling up. Crescemos de 50 startups por ano apoiadas há dois anos, para cerca de 250 novas startups, obviamente não temos espaço físico para apoiar todas estas startups. Aqui no hub de gaming será seguida a mesma estratégia. O foco é o crescimento da comunidade como um todo, quer física quer remotamente, tocando nos vários parceiros, estúdios, talento, empresas, investidores, universidades. Se entretanto haver uma oportunidade de crescer o espaço iremos analisar.
Mas está em cima da mesa? A FunPlus veio para Portugal e instalou-se na Fintech House porque no hub não havia espaço.
Gil Azevedo: Se no futuro surgir uma oportunidade faz sentido analisarmos porque, de facto, essa comunidade tem crescido. Nos primeiros três meses ficamos com o espaço lotado, portanto, claramente que há procura para mais, mas o nosso foco será o crescimento da comunidade, até porque aí não temos limitação e isso permite-nos ganharmos escala.
Francisco Moreira: Existem já muitas empresas em Lisboa que estão na comunidade, mesmo não vindo fisicamente para cá. E nesses eventos de comunidade abertos acabam todos por vir cá. E isso permite a comunidade e a indústria no seu todo crescer muito mais depressa do que ficássemos à espera do espaço físico. Consoante as as oportunidades, depois pensamos num espaço físico.
Este foi o primeiro de vários hubs da Unicorn Factory nascer, o mais recente é de IA. Que sinergias mantêm entre si?
Gil Azevedo: Cada hub tem um plano de atividades de dinamização da sua comunidade. Há várias sinergias e overlaps entre os diferentes hubs. Por exemplo, a Gaming, empresa de videojogos na área do web3, acabou por se instalar no hub de Web3. Portanto, há aqui uma oportunidade das empresas se instalarem naquela comunidade que lhes está mais próxima. Este ano já fizemos atividades conjuntas entre hubs, por exemplo, o Web3 e o Gaming fez um evento conjunto. O de sustentabilidade e IA abriram mais para o final do ano e não houve ainda essa oportunidade, mas durante 2025 iremos aproveitar as sinergias entre os diferentes verticais, mais uma vez, pensando nos parceiros, nas startups, nos estúdios, nas universidades, em como é que podemos multiplicar o impacto positivo com a rede.
Mas, já conseguiram perceber o impacto efetivo que o Gaming hub tem na comunidade? A indústria é muito incipiente nesta área. O que é que o país pode ambicionar? Que “voz” Portugal pode ter no contexto…
Gil Azevedo: Começou com uma indústria que que não é grande, julgo que são 48,6 milhões de euros de volume de negócios em 2023, mas está a ter um crescimento muito rápido. O grande objetivo do hub de gaming era posicionar Portugal e Lisboa para capturar parte deste crescimento. Estarmos presentes nas indústrias que estão a crescer rapidamente. Quando temos 40 entidades associadas ao hub, já é um número bastante significativo. Quando as conseguimos levar às duas maiores feiras mundiais de videojogos e puderam promover-se, estamos a internacionalizar a inovação na área de videojogos. Vai ser este o caminho. Ainda é cedo para fazer um balanço com números concretos, 12 meses é bastante curto, mas todo o feedback que temos vindo a recolher junto dos estúdios e da indústria tem sido muito positivo. A dimensão que já alcançámos é também um sinal que existe muito potencial para crescer.
Fazem um esforço proativo para atrair empresas para Portugal para o hub?
Francisco Moreira: Temos tido um trabalho de exposição da marca Gaming Hub lá fora e isso, consequentemente, tem trazido muita gente a perguntar pelo hub, por Lisboa, por Portugal. Quando vou a eventos internacionais não ando necessariamente à procura de empresas X ou Y, porque estas empresas também não expõem diretamente, mas com a exposição que fazemos por ter há sempre esse retorno.
Gil Azevedo: Estivemos nos Estados Unidos, na Alemanha, no Brasil na Web Summit, onde tivemos várias conversas relacionadas com a área de videojogos, no Médio Oriente e o Francisco agora, recentemente foi ao Japão e aproveitou para ter uma série de conversas sobre como é que podemos aumentar a exposição e como vamos atrair.
Quais as próximas geografias a virem instalar-se?
Francisco Moreira: As mais fortes são Brasil, os Estados Unidos e Centro-Norte da Europa. Estamos em contactos com empresas dos Estados Unidos, do Ucrânia e do Dubai que já estão a analisar em concreto.
As empresas que por cá se instalam têm aumentado as equipas, recrutam talento?
Francisco Moreira: As que se instalam numa fase inicial, todas crescem. Tem havido muitos despedimentos lá fora e isso tem beneficiado Portugal um bocadinho, é uma geografia que está em crescimento. Todas as empresas que abriram cá depois cresceram as suas contratações.
Com talento local?
Francisco Moreira: Talento local, talento que trazem para o país e alguns talentos remotos. Às vezes, dentro grupos internacionais, por alguma razão, Portugal é escolhido como sítio para alocar os remotos.
Na área de jogos também vos transmitem a dificuldade de atrair talento internacional, devido à morosidade dos vistos, à questão dos benefícios fiscais? Que dificuldades vos transmitem?
Francisco Moreira: A maior dificuldade é a atração de talentos, mas não tem sido um bloqueio, pode às vezes ser mais lento do que as empresas queriam, mas de alguma forma conseguem eventualmente concretizar. A existência do residente não habitual ajudou ao investimento internacional e a trazer talento muito específico para cá, e algumas queixaram-se que isso foi um bocadinho um problema para a perspetiva de médio prazo.
Gil Azevedo: Creio que este governo tem tido a preocupação de olhar para que instrumentos podem ser melhorados e creio que vamos ver melhorias em alguns instrumentos que possam beneficiar a atração de talento. Dito isto, temos esta burocracia, que globalmente nos referem, de atrair uma pessoa e numa fase inicial essa pessoa começar a trabalhar cá. O regime de residente não habitual, apesar das discussões públicas que houve é, de facto, uma ferramenta importante para atrair pessoas com rendimentos muito elevados noutros países e que nunca viriam para Portugal porque a carga fiscal é muito elevada. Se Portugal quer competir na área de inovação, quer a inovação como um motor da economia, obviamente há que criar estes instrumentos que apoiem a atração.
E o IFICI+ é eficiente? É uma melhoria face ao anterior?
Gil Azevedo: Vamos ter de analisar com detalhe, para fazer um comentário.
Hoje são quatro hubs. Vão ficar por aqui? Quais são os planos?
Gil Azevedo: Quando lançámos esta estratégia dos hubs de inovação, imaginámos que Lisboa tinha a capacidade de ter quatro a seis hubs na cidade, mais do que isso não há dimensão a nível de talento, de foco, de estratégia para ter tantas áreas de apoio. Com quatro já cumprimos o objetivo mínimo que tínhamos, podemos crescer mais um ou dois se surgirem as oportunidades com parceiros credíveis e relevantes que possam se associar à fábrica de unicórnios. No entanto, sendo totalmente transparentes, não temos neste momento nenhum planeado ou em desenvolvimento.
E o welltech que chegou a ser anunciado para o Técnico Innovation Center, no Arco do Cego?
Gil Azevedo: O espaço físico está ainda pendente da disponibilização do espaço a nível formal. Até ser disponibilizado, continuaremos a apoiar de uma forma remota esta comunidade. Tem de haver um acordo concreto. Tem de passar da intenção à concretização.
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