“Há gente que não teria vindo a Portugal se não fosse pelo alojamento local”

Em entrevista ao ECO, o presidente do grupo Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, sai em defesa do alojamento local, que tem sido um dos alvos preferidos do setor hoteleiro.

Jorge Rebelo de Almeida é o presidente do segundo maior grupo hoteleiro português. E está irritado com os hoteleiros portugueses. Pelo menos, com os que considera que estão a atacar o alojamento local. Em entrevista ao ECO, Jorge Rebelo de Almeida explica porque é que esta é a estratégia errada: os hotéis têm de diferenciar-se pela positiva. E garante: a explosão do alojamento local foi boa para o país e, sem ela, não seriam possíveis os recordes consecutivos que o setor do turismo tem vindo a registar.

Há uns tempos, numa conferência, o seu filho falava na possibilidade de o grupo Vila Galé avançar para o segmento do alojamento local, com uma marca Vila Galé Residences. Esta é uma possibilidade?

Não. Ao contrário de muita gente, nunca estou contra ninguém. O que eu odeio é o condicionamento industrial. Como nasci na época em que havia condicionamento industrial, em que qualquer um, para ter um negócio, tinha de passar por um processo complicadíssimo para ser autorizado, sou contra tudo isso. Numa sociedade de mercado, se alguém se espalhar e lhe correr mal azar, vai à vida. E alguns vão começar a cair que nem tordos. Começam a achar que o turismo dá para tudo, não fazem contas, gastam dinheiro a mais. Eu ando a tentar comprar umas coisas e não consigo, porque está tudo tão caro. Em Lisboa, não dá. Vamos estar sossegados à espera de melhores dias. Mas os senhores da hotelaria também não têm de se atirar contra o alojamento local. O que temos de fazer é diferenciar-nos pela positiva.

Teríamos o número de turistas que temos hoje só com as camas classificadas? Não tínhamos.

Jorge Rebelo de Almeida

Presidente do grupo Vila Galé

Mas esses apartamentos fazem falta. Há gente que não teria vindo a Portugal se não fosse pelo alojamento local. Irrita-me tanto esta malta hoteleira, e algumas associações, que se põem a atacar fortemente os apartamentos. O negócio do alojamento local trouxe mais riqueza para o país. Foi bom ver uma série de gente que estava desempregada a rentabilizar alguns negócios, no início, de uma forma muito informal, mas que acabou por contribuir para balanço global. Teríamos o número de turistas que temos hoje só com as camas classificadas? Não tínhamos. Há muita gente que vai para o alojamento local não só por motivações económicas, mas pela experiência, para viver uma coisa menos provável do que são os hotéis, que são mais ou menos iguais em todo o mundo. Se for para um apartamento, vai conhecer os vizinhos locais. Foi ótima esta reabilitação urbana, mas tem de haver algum tempero. Quando for à Baixa de Lisboa ou do Porto, não posso ter porta sim porta sim hotéis ou alojamento local.

Faria sentido, então, uma quota para apartamentos de habitação em apartamentos que tenham alojamentos locais, como está a ser discutido?

Não sou defensor das quotas. Temos de fazer pelo contrário: criar atrativos para que as coisas aconteçam.

Para que novos mercados estão a olhar? Os Açores são uma hipótese?

Houve duas oportunidades em que estivemos quase a fechar negócio. Chegámos a apresentar uma proposta para um hotel em São Miguel, que era para ter um casino, mas nunca se proporcionou.

Não me passa pela cabeça comprar um grupo hoteleiro que tivesse muitos hotéis, porque não haveria afinidade.

Jorge Rebelo de Almeida

Presidente do grupo Vila Galé

Não faz sentido agora, numa altura em que a região é a que mais cresce em Portugal?

Há uma coisa que, na Vila Galé, sempre tivemos ao longo destes trinta anos de vida: bom senso e o pé muito bem assente no chão. Não conseguimos dar conta de mais recados, porque depois não absorvemos. Não me passa pela cabeça comprar um grupo hoteleiro que tivesse muitos hotéis, porque não haveria afinidade. Acho preferível irmos fazendo alguns em que vamos inventando umas coisas para lá e ganhando uma certa intimidade e proximidade com aquilo que vamos fazer.

E fora de Portugal, tem outros mercados em vista?

Neste momento, não. Estivemos a pensar seriamente em Cuba, que é um sítio encantador, mas, entretanto, não nos entregaram a exploração. É um sítio encantador, mas tem algumas coisas terríveis, por exemplo, os cubanos não poderem entrar nos hotéis. É uma coisa que não lembra a ninguém, nem no pior país deste mundo.

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Qual o balanço da atividade do grupo este ano?

Em Portugal, crescemos em torno de 10% e devemos ultrapassar os 70 milhões de euros em receitas, no conjunto do ano. No Brasil, estamos perto dos 250 milhões de reais, quase tanto como em Portugal. No verão, conseguimos ocupações médias acima dos 90%, ou seja, um crescimento de 4 pontos percentuais face ao ano passado.

Quais as perspetivas da Vila Galé para o próximo ano?

O próximo ano também vai ser cheio em investimento, porque devemos estar a começar o projeto de Touros, no Brasil. Comprámos também uma área condicionada, ainda a aprovar, em Manteigas. Temos muita coisa a acontecer.

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