Luís Araújo: “Estamos a trazer os hóspedes que gastam mais”

O presidente do Turismo de Portugal antecipa que a rota direta Portugal-China "vai ser um êxito". E estima que este mercado, o maior do mundo no que toca ao turismo, vai crescer à volta de 20%.

Desengane-se: Luís Araújo não tem um trabalho fácil, mesmo sendo presidente do Turismo de Portugal quando o setor passa pelo melhor momento da história. Os números crescem a dois dígitos, os recordes são sucessivamente batidos e o país prepara-se para lançar uma nova rota direta para o maior mercado emissor do mundo. “Agora é que começa o desafio. Quando as bases são muito pequenas, é fácil crescer. O difícil é manter este crescimento”, diz-nos ainda antes de ligarmos o gravador. Apesar dos desafios, em entrevista ao ECO, Luís Araújo antecipa um novo ano de crescimento, conseguido com a aposta na diversificação de mercados e na atração dos turistas “que interessam”.

Como vê a evolução do setor até aqui e o que podemos esperar para este ano?

O balanço do ano passado é muito positivo. Batemos novos recordes, tivemos 53 milhões de dormidas, mais de 12,7 mil milhões de euros de receitas, 19,1 milhões de turistas. Pela primeira vez, o número de turistas estrangeiros ultrapassou o número da população portuguesa, foram quase 12 milhões de turistas estrangeiros. Estes são dados muito positivos e aquilo que vemos para 2017 é que os números também vão ser positivos. Os dados até fevereiro mostram que o número de hóspedes cresceu 11% e as dormidas 10%. Em proveitos, estamos a falar de um crescimento de 17%.

As receitas estão a crescer a um ritmo mais acelerado do que os restantes indicadores.

Exatamente. Estamos a conseguir ganhar escala, ganhar mais em receitas do que em hóspedes. Ou, se quisermos, estamos a trazer os hóspedes que gastam mais.

Que estratégias estão a ser implementadas para que isso seja conseguido?

Variadíssimas. Uma tem a ver com uma campanha muito mais direcionada e muito mais segmentada, de acordo com os turistas que nos interessam mais, aqueles que valorizam a questão da cultura, da gastronomia, que valorizam os percursos pelo país e não só numa região específica. Fundamentalmente, são os turistas com um conhecimento melhor dos nossos mercados. Outra tem a ver com a diversificação de mercados. Estamos a ter crescimentos em mercados que não seriam mercados tradicionais.

Por exemplo?

Por exemplo, os Estados Unidos, que cresceram 40%. Muito disso está baseado no aumento da capacidade aérea, mas sentimos que há também uma maior curiosidade por Portugal destes mercados não tradicionais. Definimos os mercados que continuam a ser os prioritários, os cinco europeus: Reino Unido, França, Alemanha, Espanha e Holanda. Mas também temos alguns mercados de aposta, como a China, Estados Unidos e Índia, que são mercados que nos interessam, pela dimensão, mas também pela curiosidade e pelo facto de serem dos turistas que gastam mais quando vão para o estrangeiro.

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.Paula Nunes / ECO
Que expectativas tem para a nova rota direta para a China?

Em 2016, crescemos à volta de 20% com o mercado chinês, tivemos cerca de 180 mil hóspedes chineses em 2016. Este ano, começamos com as ligações diretas Pequim-Lisboa a partir de julho, com três a quatro voos semanais. Estamos confiantes de que isto é positivo não só por haver ligação direta, mas, principalmente, porque vamos estar muito mais presentes nos canais de distribuição chineses. Temos uma delegação do turismo permanente em Xangai, mas temos inúmeros contactos com operadores chineses e estes contactos permitem-nos aumentar a visibilidade. Portanto, é interessante a ligação direta, mas é mais interessante ainda a visibilidade que temos a partir de ter a ligação direta.

Essa ligação vai abrir portas a outros mercados?

Totalmente. Desde logo, à Coreia do Sul e ao Japão. Hoje, existem ligações, através de outras capitais europeias ou através do Dubai, com a Emirates, mas o que acreditamos é que é mais uma ligação. Portugal hoje está localizado como um hub para ligações com África e América do Sul, cada vez mais com a América do Norte e, agora, também com a Ásia. Conseguimos ter essa distribuição dos nossos aeroportos para os diferentes mercados que nos interessam. Tendo para esses mercados, mais facilmente atingimos mercados a que chamamos de mercados de aposta seletiva, que obviamente não têm a dimensão daqueles maiores, mas que, por algumas razões — por exemplo, a Coreia do Sul graças à afinidade religiosa, o Japão graças à afinidade cultural –, vêm conhecer aquela que é a nossa história e património. Há cada vez mais ligação com estes países.

A rota Portugal-China vai correr muito bem e vai ser um êxito. Acreditamos que o mercado chinês vai crescer sensivelmente na mesma ordem daquilo que tem vindo a crescer, à volta dos 20%.

Luís Araújo

Presidente do Turismo de Portugal

Qual o objetivo de expansão no mercado chinês?

Acreditamos que a rota vai correr muito bem e vai ser um êxito. A própria companhia que vai operar a rota tem muito interesse e está confiante de que vai ser um sucesso. Mas não temos objetivos concretos relativamente a números de crescimento para o próximo ano. Acreditamos que vamos crescer sensivelmente na mesma ordem daquilo que temos vindo a crescer ou do que crescemos em 2016, à volta dos 20%. Aliás, janeiro e fevereiro já nos dão essa indicação, dessa ordem de crescimento. O nosso objetivo macro é aquele que está definido na estratégia. Queremos atingir os 80 milhões de hóspedes em 2027 e os 26 mil milhões de receitas. Para isso, estamos a trabalhar naquelas várias tónicas: reforçar as acessibilidades, diversificar mercados, segmentar os mercados de acordo com os turistas que mais nos interessam.

Veem a Índia como outros dos mercados de aposta. O que devemos esperar?

É um mercado muito grande em que sentimos uma crescente curiosidade. A visita do primeiro-ministro à Índia ajudou muito, porque houve uma afinidade muito grande com o primeiro-ministro indiano. Nós, Turismo de Portugal, estivemos lá sensivelmente dois meses depois da visita do primeiro-ministro e ficámos muito bem impressionados com a curiosidade sobre o nosso país. Curiosidade em vários âmbitos. Não só na perspetiva do turismo, mas também numa perspetiva mais ampla, de investimento, de transferir empresas para Portugal.

Podemos esperar investimento indiano nos próximos tempos?

Acho que sim. Aliás, já estamos a sentir que há muita curiosidade. Estivemos a apresentar o Revive, o programa de reabilitação de património, e a curiosidade foi enorme. Havia muita atenção para este tipo de projetos e outro tipo de investimentos, no imobiliário mas não só. Sentimos que havia grande afinidade, grande curiosidade e acreditamos que vai ser extremamente positivo. Além disso, há a questão do study in Portugal, que também acreditamos que pode ser uma oportunidade grande. O mercado de estudantes pode ser um mercado importante para nós.

Podemos esperar investimento indiano? Acho que sim. Já estamos a sentir que há muita curiosidade.

Luís Araújo

Presidente do Turismo de Portugal

Quanto vale o mercado de estudantes neste momento?

Não temos esses dados. Mas há procura por parte não só do ensino universitário mas também do ensino técnico. Tanto é assim que, quando lá estivemos, assinámos um protocolo com uma escola de Goa e vamos receber, durante um mês e meio, um grupo de 15 alunos de Goa, de turismo, em duas das nossas escolas, em Lamego e em Setúbal. Isto no âmbito da estratégia de internacionalização das nossas escolas. Queremos atrair estes alunos para virem estudar, para virem desenvolver os seus negócios, montar as suas empresas, aquilo que quiserem. O nosso objetivo é, cada vez mais, promover o país como lugar para férias, mas também como lugar para investir, para estudar, para viver. É um bocadinho mais abrangente do que o turismo puro e duro.

Para que outros mercados vão apontar?

Além daqueles que são os nossos mercados tradicionais, dos mercados que consideramos de crescimento, como Rússia, Polónia, Europa de Leste, e dos três mercados de aposta, temos os mercados de aposta seletiva. Na Ásia, seria a Coreia do Sul, Japão, Singapura. O que fazemos é tentar encontrar oportunidades em cada país e, dentro desses países, ver quais são os segmentos que mais nos interessam e tentar trazê-los para Portugal.

Têm novas rotas na calha?

Mais do que novas rotas, é importante reforçar as que temos hoje. Portugal, hoje, está no mapa, agora é preciso consolidar a presença nos mercados em que já estamos, tradicionais ou não tradicionais.

Mais de cinco meses depois de o terem apresentado, que balanço faz do Revive?

Temos 30 imóveis do Estado prontos para serem concessionados. Um já foi concessionado, o mosteiro de Elvas, pela Vila Galé, o segundo concurso está em curso e é nas Caldas da Rainha. São processos diferentes, que têm velocidades diferentes, até por causa do próprio estado do edifício e do levantamento que tem de ser feito. Aquilo que queremos é que quando o concurso é lançado exista o máximo de certezas para os promotores, que eles saibam exatamente o que podem fazer e em que termos. Ao todo, tivemos já 143 manifestações de interesse, por parte de nacionais, e à volta de 30 manifestações de interesse de promotores estrangeiros. Os promotores estrangeiros também estão atentos e a ver quando é que os concursos são lançados.

 

Tivemos 143 manifestações de interesse pelo Revive, por parte de nacionais, e à volta de 30 manifestações de interesses de promotores estrangeiros.

Luís Araújo

Presidente do Turismo de Portugal

De que países são esses promotores estrangeiros?

Variadíssimos. China, Índia, Espanha, França, Brasil. Há de tudo. Temos grupos hoteleiros, temos promotores que só querem investir e que terceiros operem. Muitos dos grupos estrangeiros não têm ainda presença na Europa e identificaram Portugal por todas as razões. Por ser um destino turístico consolidado, o 14.º destino mais competitivo do mundo, mas também pelo esforço que está a ser feito na simplificação dos procedimentos, na estabilidade que existe hoje.

Somos um país atrativo para se investir?

Cada vez mais. Aliás, melhorámos uma posição, éramos o 15.º país mais competitivo de acordo com o World Economic Forum, em 2015, e em 2016 fomos considerados o 14.º. Para isto, contribui uma série de indicadores, que têm a ver com a facilidade de abrir uma empresa, com a facilidade de recrutar mão-de-obra, a qualidade da mão-de-obra, por aí fora. 14.º país mais competitivo do ponto de vista turístico, em 140 países, é algo de que nos devemos orgulhar.

Além dos 30 monumentos já disponíveis para serem concessionados, haverá outros a irem a concurso?

Era tão bom, não era?

Há interesse por parte das câmaras municipais?

Tem havido muito interesse a abertura por parte de todos.

A solução Portela + 1 é a mais rápida, é a mais eficaz e a mais simples. E é a que consome menos custos, ou menos recursos financeiros. Tomada a decisão e passada a fase dos estudos, temos de avançar rapidamente.

Luís Araújo

Presidente do Turismo de Portugal

Como vê a solução Portela + 1?

O mais importante é que a rede aeroportuária nacional tenha capacidade de resposta para sustentar os crescimentos que nós queremos. Temos ambição de receber 80 milhões de dormidas em 2027 e isso é algo que não é possível neste momento. Nós temos de ter aeroportos que tenham capacidade para isso e os aeroportos, obviamente, têm horários de funcionamento e têm slots que são mais importantes do que isso, principalmente quando nós nos posicionamos como um hub estratégico de ligação com outros continentes, e temos de ter isso em consideração. Acredito que a solução Portela + 1 é a mais rápida, é a mais eficaz e a mais simples. E é a que consome menos custos, ou menos recursos financeiros. Tomada a decisão e passada a fase dos estudos que estão em curso, temos é de avançar rapidamente. É a nossa única questão, é tomar decisões para avançar.

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.Paula Nunes / ECO
Que impacto terá a revisão da lei que impede as plataformas de aceitarem alojamentos locais que não estejam registados?

Vamos conseguir passar muita gente para a legalidade. Se não estiverem naquelas plataformas não têm negócio, acredito que 60% a 70%, se não mais, do volume de negócios dessas casas e desses projetos, se faça através dessas plataformas, para não chegar aos 80% ou 90%. Vai ser um impacto muito significativo. Principalmente, garantimos aquilo que todos queremos, que é ter melhor alojamento, com mais uniformidade de critérios, todos a competirem da mesma forma, e isso é positivo.

  • Paula Nunes
  • Fotojornalista

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