Manuel Ramalho Eanes: “Para a NOS investir na Fibroglobal têm de existir condições efetivas de acesso”

Administrador da Nos, Manuel Ramalho Eanes considera que para a empresa investir na Fibroglobal tem de existir uma oferta competitiva. Sobre a guerra no Sporting diz que esta não desvaloriza a marca.

Manuel Ramalho Eanes, administrador executivo da Nos, com o pelouro empresarial, garante que o crescimento da empresa é feito à custa de desenvolvimento e inovação. Sobre a Fibroglobal reafirma que lhe parece pouco razoável que não se criem condições de acesso à rede para todos os operadores, à semelhança do que acontece com a rede DST. Nesse sentido, acrescenta, “quem celebrou esses contratos deveria garantir que estes servem o propósito inicial — efetivamente servir a população e as empresas que aquela rede visava servir“. Já sobre a eventual compra da Media Capital por parte da Altice, negócio a que a Nos se tem oposto, Ramalho Eanes preferiu não fazer comentários.

A Nos inaugurou, recentemente, dois data centers (Lisboa e Famalicão) qual o objetivo destes investimentos?

A Nos tem como propósito servir, num perímetro cada vez mais alargado, as necessidades de telecomunicações e tecnologias de informação dos seus clientes, e acredita que pode prestar um melhor serviço aos seus clientes se o fizer de forma integrada. Daí decorre, naturalmente, que temos de ter infraestruturas de data center.

Vão fazer mais investimentos nessa área? O objetivo são dez milhões de investimento anual em centros de armazenamento de dados (data center)?

De momento são estes os investimentos que cumprem integralmente aquilo que era o nosso propósito. Teremos uma rede de quatro data centers operacionais ligados entre si por ligações redundantes de elevada disponibilidade, resiliência e capacidade. Temos os quatro, dois novos e dois que vamos manter. Atualmente temos seis, mas dois são para descontinuar, porque servem apenas necessidades internas.

Qual é, neste momento, a quota de mercado da Nos a nível empresarial?

Tenho algum receio de lhe dar um número porque o universo empresarial é bastante diverso, a quota que poderíamos medir para o segmento corporate ou grandes empresas é diferente das PME, e também porque não há uma forma de contrastar esta informação porque nem todos os operadores divulgam as suas receitas segregados de forma comparada.

Como é que se cresce no segmento empresarial? É por uma política agressiva de preços ou por um serviço melhor?

Acho que se cresce sobretudo por serviço e inovação. O preço é mais tático e acessório do que estes dois blocos. O serviço é absolutamente crítico, temos de demonstrar a um cliente a nossa competência técnica para lhe assegurar competências que são absolutamente críticas para o seu negócio. Hoje em dia ninguém consegue viver, nem sem comunicações, nem sem sistemas de informação, ou conseguimos garantir essa qualidade ou nenhum cliente muda de operador sem ter essa credibilidade garantida.

Hoje em dia ninguém consegue viver, nem sem comunicações, nem sem sistemas de informação, ou conseguimos garantir essa qualidade ou nenhum cliente muda de operador sem ter essa credibilidade garantida.

Manuel Ramalho Eanes

Administrador da Nos

Mas se os operadores forem muito equilibrados a opção por um ou por outro faz-se pelo preço.

Pode ser, mas ainda assim entre uma realidade conhecida e uma realidade desconhecida quem quer demonstrar a sua competência, vindo de fora, tem de fazer um esforço do ponto de vista de credibilidade muitíssimo elevado. Os clientes não mudam para o desconhecido, correndo riscos. Não faz sentido. Entre uma diferença de valor e a possível rutura do serviço, mesmo até no processo de migração entre um e outro operador, as pessoas não arriscam, até porque eventualmente conseguir o mesmo preço está à distância de um telefonema. Ou essa credibilidade fica estabelecida ou essa mudança não ocorre.

Está a dizer que a Nos é uma empresa mais inovadora do que as outras e, por isso, tem um grande peso empresarial?

A Nos acredita que tem uma perspetiva do serviço e da abordagem aos clientes empresariais de facto diferente. Primeiro porque, do ponto de vista de serviço, acredita que montou de raiz um conjunto de processos e competências que são diferentes e com os quais competimos efetivamente para mostrar aos nossos clientes que podemos fazer diferente e melhor — podemos dar-lhe mais escala, mais resiliência, mais segurança. Segundo, porque as empresas estão a fazer um processo de transformação digital muito profundo e precisam de ter a seu lado quem tenha a competência, as ferramentas e a agilidade para as poder acompanhar nesse processo e guiar nestas áreas de infraestruturas. A Nos está mais bem posicionada para fazer isso.

Um exemplo, mais pequeno e que me parece ser interessante partilhar. A Nos tem uma filosofia de inovação não fechada, aberta. A Nos inova com muitos parceiros no mercado, desde startups até, naturalmente, fabricantes de tecnologia de referência, estabelecidos. Ao poder fazer este sourcing de tecnologia de forma bastante abrangente e, podendo escolher a melhor tecnologia para cada área de trabalho, e ao ser capaz de agregar isso numa solução que serve a necessidade dos cliente, está a aportar um valor grande porque o cliente não terá os meios, o tempo e a rede estabelecida para poder fazer isto de forma eficiente.

Mas isso requer investimentos muito avultados?

A Nos investe sensivelmente 24 milhões de euros em inovação. Obviamente que este esforço requer investimentos que são significativos, mas acreditamos que esses investimentos produzem bons resultados económicos, caso contrário não os teríamos vindo a fazer. Acreditamos neste modelo de parcerias, que adotamos num conjunto de áreas, com um conjunto de empresas novas, com bons produtos, a quem acrescentamos a camada de segurança, resiliência e serviço que lhe falta para ganhar escala, mas que na base tem um produto muito bom, traz valor a todos.

Não me quis dizer qual era a vossa quota de mercado, mas em tempos disse que tinham todas as empresas do PSI 20 menos uma. E essa deduzo que fosse a Pharol e que continua a não ser vossa cliente.

A Pharol não é, mas temos pena. Julgo que trabalhamos com todas as empresas do PSI 20 com exceção da Pharol.

Qual é que é o peso da Administração Pública nas vossas contas?

Muito pequeno ainda face aquilo que é a nossa ambição. Neste momento posso partilhar uma preocupação e que tem a ver com o novo regime de contratação pública. Este novo regime vai causar — já está a causar — bloqueios para a agenda. Um bloqueio desnecessário e potencialmente lesivo dos interesses das instituições públicas porque paralisa, ou pára mesmo, uma decisão de concurso por via de um recurso de quem quer que seja. A situação fica suspensa até se resolver. É uma situação que é nociva para a Administração Pública porque paralisa qualquer transformação tecnológica que esta queira fazer e, segundo, porque exige tempos e processos muito para além daquilo que seria razoável.

Mas já vos aconteceu algum caso?

Já. Temos neste momento um caso com alguma dimensão parado.

Qual é?

Preferia não dizer, para não criar nervosismos desnecessários.

Qual é que a vossa margem de crescimento?

Para além das empresas do PSI 20 há muitas outras empresas e muitas multinacionais em Portugal. Temos um espaço de crescimento importante no mercado empresarial como um todo, seja o das grandes ou das pequenas empresas. Para além de que acreditamos que podemos ainda crescer o nosso perímetro de responsabilidade nos clientes com os quais já trabalhamos. Temos vindo a fazer isso de forma expressiva.

O que é que isso quer dizer?

Temos um fixo, passamos a ter móvel, temos voz e dados passamos a… Há muitas destas coisas que passamos a ter em bloco, agora passamos a ter data centers, passamos a ter segurança, temos a gestão da rede interna do cliente, são tudo áreas importantes para crescer.

Para crescer a quota de mercado…

Sim, mas como digo não é fácil falar da quota de mercado porque a comparabilidade das receitas entre players não é fácil de fazer. A Nos no somatório do segmento empresarial e wholesale faturou, o ano passado, 437 milhões de euros, o que representa cerca de 30% das receitas de telecomunicações no grupo Nos, é uma perspetiva da dimensão que temos neste mercado.

Como é que olha para a lei da proteção de dados que entra em vigor dia 25 de maio?

Desde logo, a Nos, como qualquer grande empresa em Portugal, tem de ser full complay com o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), e será. Esse é um primeiro aspeto e é uma primeira garantia que é importante para podermos dar também aos nossos clientes empresariais que naturalmente é o mínimo que esperam da Nos. O segundo tema é que estamos envolvidos nos processos e nas implicações da mudança que o RGPD acarreta. Para além da preocupação com os dados pessoais e com a segurança da informação de clientes e de parceiros, há ainda todo o tema da segurança efetiva dos sistemas e, essa é uma área da nossa aposta em que temos uma parceria em que estamos a trabalhar com os nossos clientes e acreditamos que podemos vir a crescer.

No próximo dia 25 de maio a Nos está apta a responder à nova lei?

Sim, está tudo preparado.

Como é que olha hoje para o setor das telecomunicações?

O setor das telecomunicações em Portugal sempre foi um setor muito competitivo e, se nos compararmos até em termos dos resultados mais imediatos e, que são os resultados do investimento, a nossa penetração de fibra em casas com a nossa cobertura móvel 4G, devemos estar num nível absolutamente benchmarking na Europa. Isso demonstra que é um setor que investe e que é competitivo naquilo que são os seus ativos de base que são os seus ativos de rede. É um setor competitivo, forte e inovador e isso implica que é um setor com uma dinâmica competitiva forte, isso sempre foi verdade e continuará, espero eu, a ser. Porque não vejo que as condições de incentivo ou as condições de base para essa competitividade sejam alteradas nos próximos tempos.

O regulador está à altura do setor?

Sobre o regulador já temos expressado a nossa opinião de forma pública, por outras vias e, julgo ter pouco a acrescentar àquilo que já foi dito.

Parece-nos pouco razoável que não se tenham criado e, não se criem, condições de acesso à rede da Fibroglobal para todos os operadores que maximizem o valor que é criado por cada uma das pessoas e empresas que é servida por aquela rede à semelhança com o que acontece com a rede da DST.

Manuel Ramalho Eanes

Administrador da Nos

A Nos tem sido bastante critica da Fibroglobal. Miguel Almeida falou inclusive em fraude. O que era necessário para que a Nos investisse na rede e este fosse um investimento viável?

O nosso entendimento como, aliás já foi dito e é publico, é que nos parece pouco razoável que não se tenham criado e, não se criem, condições de acesso à rede da Fibroglobal para todos os operadores que maximizem o valor que é criado por cada uma das pessoas e empresas que é servida por aquela rede à semelhança com o que acontece com a rede da DST, na qual operam todos os operadores. O nosso entendimento é que quem celebrou esses contratos deveria garantir que servem o propósito inicial que era efetivamente servir a população e as empresas que aquela rede visava servir.

O que é que era necessário fazer para que a Nos pudesse investir nessa rede? Baixar os preços?

Teria de haver naturalmente uma oferta competitiva e, condições efetivas de acesso, depois também há temas técnicos a resolver, como houve na rede da DST, não só efetivos, como aceder à rede, porque uma tem precedência sobre a outra.

Do seu ponto de vista é o Governo que tem de rever isso porque foi quem fez o contrato e não a Anacom?

Sim.

E quando é que acha que esse assunto estará resolvido?

Está a perguntar à pessoa errada. Por mim, estaria amanhã.

O futebol é uma aposta da Nos e o principal patrocinador do Sporting, como é que vê a polémica à volta do clube leonino?

Está falar com a pessoa errada porque o meu conhecimento de futebol como é aqui conhecido na empresa é absolutamente nulo.

Mas a questão é perceber se a polémica entre jogadores do Sporting e o presidente não desvaloriza a marca?

Não.

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