A sócia da SPS Advogados, Carla Azevedo Gomes, confessa que a nomeação como equity partner desenrolou-se de "forma natural” e “respeitando os timings da sociedade”.
Carla Azevedo Gomes, sócia da SPS Advogados, admite que não há uma característica específica para desempenhar melhor o papel de sócio. Sobre a recente nomeação como equity partner, a advogada confessa que “tudo se desenrolou de forma natural” e “respeitando os timings da sociedade”.
Com a pandemia, explica que no setor dos seguros houve uma diminuição do fluxo de negócio, mas que atualmente já existem indicadores de crescimento que em algumas seguradoras é superior 20%.
Foi recentemente nomeada como equity partner da SPS. Como recebeu essa nomeação?
De facto, em 2021 a sociedade encerrou um ciclo de gestão de cinco anos que, entre muitas outras decisões estruturantes, determinou a minha nomeação a equity partner, algo que, naturalmente, recebi com enorme apreço. Ver reconhecido, pelos meus colegas sócios, o trabalho desenvolvido desde 2001 na sociedade, é um orgulho enorme.
O caminho para aqui chegar contou com muito empenho, dedicação e sacrifício, momentos fantásticos e outros nem por isso, mas ainda assim este objetivo esteve sempre presente no percurso. Desistir ou deixar de me manter focada nesse objetivo, nunca foi hipótese. A sociedade, em especial e naquela altura os sócios fundadores, tiveram desde sempre a generosidade de me manter envolvida em todos os temas, desde o mais pequeno até aos verdadeiramente estruturantes e de reconhecer o meu mérito e o meu valor. Nunca a sociedade levantou qualquer obstáculo à minha ambição, evolução e crescimento. Cumpridos os objetivos e preenchidos os critérios todos têm lugar para crescer na SPS.
Qual é a responsabilidade que um sócio possui dentro da sociedade?
Para além de todos os sócios trabalharem diariamente com vista a ampliar o negócio da sociedade, seja através de novos clientes seja no desenvolvimento do negócio já existente, no modelo que temos atualmente em vigor, cada sócio é responsável por uma área concreta de gestão que desenvolve com a sua equipa de suporte e respetivas direções: Financeira, Recursos Humanos, Inovação e Tecnologia, Marketing e Comunicação. Apesar de termos canais de comunicação muito estreitos e de entre as áreas de responsabilidade de cada um dos dez sócios existirem muitos pontos de contacto, é em reuniões de sócios periódicas que prestamos contas uns aos outros, debatemos pontos de vista e tomamos decisões de gestão estruturais em conjunto.
Qual é a principal característica que um sócio deve ter para desempenhar da melhor forma o seu papel?
Não há exatamente uma característica que nos habilite a desempenhar melhor o papel de sócio, mas acho que ajuda muito ter uma visão global e atenta da própria sociedade, do mercado, em especial, das pessoas, como somos vistos pelos nossos colegas e colaboradores, clientes, concorrentes. Devemos ser corajosos e arrojados e muito conscientes de que a vida profissional que escolhemos nunca está encerrada, é um constante work in progress.
Apesar de no ano passado o número ter aumentado, qual considera ser o principal fator para existirem poucas mulheres em cargos de liderança nos escritórios de advogados?
Nunca senti, nem por um segundo sequer, que o facto de ser mulher tivesse qualquer influência na progressão de carreira no escritório. Aliás, se em número de sócios somos seis mulheres para quatro homens, nas equipas de advogados essa realidade é ainda mais acentuada.
A SPS sempre promoveu as pessoas pelo seu mérito, independentemente de serem mulheres ou homens, todos temos características próprias mas concentramo-nos num objetivo comum.
No imediato, com a Covid-19, diminuiu drasticamente o fluxo de negócio e a imprevisibilidade de retoma fez com que do lado do tomador de seguros houvesse contenção e alívio de compromissos.
Integrou a SPS em 2001. Como têm sido os últimos 20 anos ao serviço do escritório?
Na realidade foram vinte anos que passaram num estalar de dedos. Quando fazemos o que gostamos e concentrados em metas, não damos pelo tempo passar. Contribuir para fazer crescer uma sociedade em que trabalhavam dez ou doze pessoas, para uma empresa que sustenta mais de cem famílias é uma sensação incrível, uma sensação de que a missão do dia foi cumprida com o contributo de todos. Só possível com pessoas incríveis, clientes extraordinários que me acompanham desde o início da jornada, que se transformaram, cindiram, fundiram, mas sempre acompanharam e contribuíram para este crescimento.
Com quase 25 anos de experiência, como descreve o seu percurso profissional?
Comecei a trabalhar numa sociedade de advogados logo que em 1997 saí da Faculdade de Direito de Lisboa. Trabalhávamos quase em exclusivo com Direito dos Seguros. Aí nasceu o gosto e a consciência de que esta seria a área onde trabalharia e me especializaria. Depois de fazer o estágio e ter sido convidada para integrar tal sociedade enquanto associada, começou a ser evidente que para crescer, desenvolver as minhas capacidades técnicas e perseguir objetivos maiores, o meu caminho teria que passar por outra sociedade.
Naquele que, até hoje, tenho como o momento de maior sorte que marca o início do meu percurso profissional soube em meados de 2001 que o meu (hoje) sócio, Pedro Malta da Silveira, precisava de alguém com experiência em seguros para substituir uma colega, sem hesitar, pus o meu CV num envelope dirigido diretamente a ele e esperei o seu telefonema. O telefonema aconteceu e comecei a trabalhar na SPS pouco depois, em julho de 2001. Fui convidada para sócia de indústria em 2006 e agora em 2021 para integrar o capital da sociedade. Tudo se desenrolou de forma natural, respeitando os timings da sociedade, sendo focada, empenhada, atenta e paciente, acreditando sempre que a decisão de fazer carreira na SPS havia sido a decisão certa.
Qual o maior ensinamento que teve durante a sua carreira?
A aprendizagem é constante e nas várias fases da carreira, algumas algo solitárias, os desafios são diferentes, mas nada nos ensina mais que as pessoas à nossa volta. Quem puxa por nós, quem nos empurra para trás, todos nos ensinam, mas no fim do dia com vontade, humildade, resiliência e perseverança aprendemos que só não conseguimos o que não queremos verdadeiramente.
Foi recentemente referenciada na shortlist dos prémios Women In Business Law na categoria de “Individuais”, em Insurance and Reinsurance Lawyer of the Year. Como encara estas nomeações?
Encaro com total tranquilidade. Acho, honestamente, que nenhum de nós trabalha para os reconhecimentos e para as nomeações e prémios, mas quando estes aparecem são obviamente muitíssimo bem acolhidos e são motivo de orgulho e um estímulo para quem, como nós, tem vontade de fazer mais e melhor na nossa área.
Como é que o departamento de seguros atravessou a tempestade da pandemia?
Com a mesma preocupação que todas as outras áreas de negócio. Com alguma incerteza e sem antecipar que consequências a pandemia deixaria não só no setor em que mais trabalho, como em tudo no escritório, no país e no mundo.
Internamente e em equipa, disciplinámo-nos e organizámo-nos num modelo de trabalho à distância totalmente novo para todos, arrumámos a casa, limpámos pendências, procurámos formas alternativas de negociação, diversificámos o trabalho respondendo a todas as novas necessidades que iam surgindo. O trabalho, maioritariamente judicial, deu lugar a mais trabalho de consultoria e assessoria. Foram meses muito intensos em que o empenho, espírito de equipa e solidariedade fizeram com que tudo parecesse passar mais rápido e facilitasse a retoma e recuperação para a vida aproximada à que tínhamos antes da pandemia.
Contribuir para fazer crescer uma sociedade em que trabalhavam dez ou doze pessoas, para uma empresa que sustenta mais de cem famílias é uma sensação incrível, uma sensação de que a missão do dia foi cumprida com o contributo de todos.
Qual foi o impacto da pandemia Covid-19 no setor dos seguros?
No imediato, com a Covid-19, diminuiu drasticamente o fluxo de negócio e a imprevisibilidade de retoma fez com que do lado do tomador de seguros houvesse contenção e alívio de compromissos. Do lado das seguradoras nos ramos Não Vida, se é verdade que a sinistralidade desceu fortemente e o custo dos sinistros diminuiu, designadamente em seguros automóvel, multirriscos e até acidentes de trabalho, no ramo Vida foi notório o desinvestimento em produtos financeiros, resgates de seguros, indemnizações a clientes de produtos com taxas fixas e rendimento garantido, o que pesou no reforço de provisões e pesou certamente nos resultados de encerramento em especial em 2020 e 2021. Atualmente, assiste-se já à inversão desta tendência havendo já indicadores de crescimento que em algumas seguradoras é superior 20%, tanto em Não Vida como Vida, mantendo-se a diminuição do custo dos sinistros e ainda a menor sinistralidade. O futuro prevê-se otimista.
Quais são os principais desafios da área de seguros?
O desafio é diversificar. As recentes e constantes alterações legislativas desafiam seguradoras e advogados de seguros a estar atentos e a adaptar-se rapidamente a todas as exigências. Cada vez mais o Legal & Compliance, a assessoria e consultoria a par do trabalho de proximidade com o regulador e supervisor ganham espaço no trabalho de todos os dias.
E quais os desafios no contencioso de seguros?
O maior desafio é conseguir ser eficiente continuando a entregar trabalho de excelência.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“Nunca senti que ser mulher tivesse influência na progressão de carreira no escritório”
{{ noCommentsLabel }}