Cinco bancos aguardam luz verde do regulador para serem vendidos

M&A na banca vai aquecer em 2024 com venda do Novobanco. Para já, são os bancos pequenos que dinamizam o mercado. Banco de Portugal analisa cinco operações avaliadas em mais de 400 milhões.

Com a venda do Novobanco a chamar todas as atenções, os chineses da Fosun, ao venderem um bloco de 10% no BCP, adensaram ainda mais os rumores de consolidação no setor da banca em Portugal. Para já, têm sido os bancos mais pequenos a dinamizarem o mercado de M&A (fusões e aquisições). Cinco instituições estão à espera da autorização do regulador para serem vendidas a investidores internacionais, em negócios avaliados em mais de 400 milhões de euros, de acordo com os dados compilados pelo ECO. Outros tantos processos poderão surgir.

Há muito que os reguladores europeus defendem uma dinâmica de consolidação na banca europeia que permita criar concorrentes à altura dos gigantes americanos como o JPMorgan Chase, Morgan Stanley e Goldman Sachs.

Também por cá o governador Mário Centeno observou recentemente que isso é “crucial e inevitável” na banca portuguesa, embora o mercado seja já altamente concentrado com os cincos maiores bancos – Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander, BPI e Novobancoa controlarem uma quota de 75%, acima da média europeia.

À boleia da subida das taxas de juro, os lucros expressivos do setor estão a conduzir os bancos para valorizações que podem permitir que a consolidação tenha finalmente lugar.

A consolidação em Portugal terá consequências positivas e negativas. “Desde logo, um mercado com um número menor de maiores bancos poderá originar um mercado menos concorrencial, resultando em preços mais elevados dos produtos/serviços bancários a suportar pelos agentes económicos e, inclusive, em menores incentivos à inovação”, observa Mário Trinca, managing director da Alvarez & Marsal Portugal.

“Numa perspetiva contrária, a consolidação irá permitir criar economias de escala, tornar os bancos mais estáveis e resilientes e devidamente equipados para ambicionarem competir a nível internacional”, contrapõe.

Banca portuguesa nunca esteve tão concentrada

Fonte: BCE

Dos CTT ao EuroBic: 5 negócios de 400 milhões em suspenso

Para já, as movimentações no mercado português têm sido protagonizadas por bancos de menores dimensões, com cada operação a ser desencadeada por razões diferentes. São cinco os bancos que aguardam que os seus processos de venda sejam aprovados no regulador liderado por Mário Centeno.

Enquanto o Banco CTT espera há mais de um ano que o Banco de Portugal autorize a venda de 8,7% do seu capital à seguradora Generali, a troco de 25 milhões de euros, há uma instituição financeira cujo negócio se encontra pendente há mais de quatro anos.

Em outubro de 2019, os angolanos chegaram a acordo para a venda do Banco Atlântico Europa ao grupo Well Link, o mesmo que comprou o Novobanco Ásia em 2017 e tem sede em Hong Kong. Não foram revelados valores da transação, mas se tivermos em conta a situação líquida do banco em setembro, poderá rondar os 80 milhões de euros. Porém, volvidos quatro anos e quatro meses desde que as duas partes acordaram o negócio, o processo não ata nem desata.

Oficialmente, nem o banco nem o regulador quiseram comentar o estado em que se encontra o dossiê, mas o ECO sabe que o Banco de Portugal ainda está a aguardar por mais elementos do grupo asiático, isto depois de ter recebido informação incompleta no passado mês de outubro. O relógio continua a contar.

O maior negócio que está na “fila de espera” no Banco de Portugal envolve o EuroBic. É um processo que também já se arrasta há quatro anos, quando rebentou a polémica do Luanda Leaks, envolvendo Isabel dos Santos, em janeiro de 2020. Só em novembro do ano passado é que os acionistas angolanos, incluindo a filha do antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, acordaram a venda de 100% do capital do banco aos galegos do Abanca por cerca de 300 milhões.

O Abanca já esteve prestes a fechar a compra do ex-Bic logo em 2020, mas o negócio ruiu por falta de acordo quanto ao valor do negócio (em plena pandemia). Agora, a transação parece bem encaminhada e não deverá levantar muitos obstáculos junto do regulador, na medida em que o comprador é bem conhecido das autoridades de supervisão.

Isso mesmo já havia explicado o anterior governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, quando o Abanca se preparava para ficar com o EuroBic há quatro anos: “É uma entidade supervisionada pelo Banco de Espanha, Banco de Portugal e pelo Banco Central Europeu (BCE). (…) Tem, à partida, condições para admitirmos que é um adquirente credível e com interesse”.

Cabe ao BCE aprovar as propostas de aquisições de bancos na Zona Euro, embora o supervisor nacional também esteja envolvido neste processo, nomeadamente ao fazer uma avaliação do potencial comprador. O Banco de Portugal prepara um projeto de proposta para o BCE e este, em cooperação com o supervisor nacional, conduz a sua própria avaliação. As regras determinam que o processo não pode demorar mais de 60 dias úteis, mas pode estender-se por mais 30 dias sempre que o regulador pedir mais informação ao investidor.

É nesta fase em que se encontram também os processos de venda do Banco Português de Gestão (BPG) e do Banco Empresas Montepio (BEM).

No primeiro caso, é a Fundação Oriente quem procura vender o BPG aos chineses da VCredit, por mais de 20 milhões de euros (incluindo dívida subordinada), num negócio que poderá ascender a 35 milhões. A compra do BPG servirá de porta de entrada do grupo chinês na Europa, disseram os responsáveis chineses.

No segundo, o Banco Montepio está a alienar a licença bancária do BEM, o antigo Montepio Investimento que o ex-presidente do banco Carlos Tavares tentou apostar enquanto banco para PME, por cerca de 35 milhões de euros, à fintech francesa Rauva, que pretende entrar no negócio bancário.

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Há mais processos em vista

A tendência de consolidação promete não ficar por aqui. Há outra mão cheia potenciais transações envolvendo instituições mais pequenas, que também não vão alterar de forma substantiva a estrutura do mercado bancário nacional.

Entre eles estão o BNI Europa, cuja venda aos brasileiros do Banco Master não chegou a bom porto, e a Wizink, uma intermediária de crédito com sede em Madrid, que também está a explorar a venda do seu negócio em Portugal, com o Novobanco na “pole position”, de acordo com o jornal Expansión (acesso pago, conteúdo em espanhol).

Sobre esta última operação do Wizink, fonte oficial do banco liderado por Mark Bourk não contesta a notícia do jornal espanhol, dizendo apenas: “O Novobanco olha para todas as oportunidades de M&A que possam acrescentar valor ao seu negócio em Portugal”.

No Bison Bank, antigo banco de investimento do Banif, embora não haja procura ativa por novos investidores, “existe a disponibilidade natural para avaliar novos parceiros, com capacidade de aportar valor e de acelerar crescimento do banco”, segundo adiantou fonte oficial da instituição ao ECO.

Banco Best (que pertence ao Novobanco) e Banco Carregosa também já estiveram em processos de venda nos últimos anos, mas sem qualquer desfecho.

Consolidação a chegar aos grandes

De fora até agora, os maiores bancos poderão estar a chegar ao momento de definição nesta dinâmica. Um sinal disso aconteceu na semana passada, quando os chineses da Fosun anunciaram a venda de um bloco de ações do BCP a investidores privados, reduzindo a sua participação de 30% para 20% no banco português.

Embora o grupo chinês, pressionado por uma dívida de 38 mil milhões de euros, tenha assegurado que vai manter uma participação de 20%, a redução acionista no BCP aumentou a especulação sobre o futuro de um banco cujos principais acionistas estão em fase de desinvestimento.

Como a Fosun, também a Sonangol está a vender negócios que não fazem parte do seu core enquanto petrolífera do Estado angolano.

“De cada vez que um acionista relevante reduz a sua posição torna o banco mais ‘opável’”, adianta João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, a propósito do desinvestimento da Fosun no BCP. “Se o negócio bancário se mantiver com o mesmo tipo de atração, num cenário em que as taxas de juro não caem tão depressa, a médio e longo prazo pode tornar atrativo algum investidor institucional poder entrar”, acrescentou João Queiroz.

Concentração de ativos nos cinco principais bancos

Fonte: BCE

Um dos cenários mais falados para o BCP poderá passar pela fusão com o Novobanco, onde o acionista americano Lone Star se encontra a explorar a venda da sua participação de 75%, depois do investimento de mil milhões de euros realizado em outubro de 2017.

De Espanha as notícias apontam com insistência outro par para o Novobanco: o BPI, detido pelos espanhóis do CaixaBank. Os americanos pedem dois mil milhões pelo banco que cumpre uma década de existência este ano, nascido com a queda do BES em agosto de 2014.

Em qualquer dos cenários, uma fusão do Novobanco com o BCP, BPI ou Santander ditaria uma alteração estrutural no mercado bancário português que poderia desencadear uma reação da Caixa, que não quer perder a liderança. “À Caixa não lhe é indiferente o que lhe vai acontecer porque, se houver consolidação, é claramente ultrapassada por outros bancos”, lembrou o CEO do banco do Estado, Paulo Macedo, há não muito tempo.

O banco público tem acumulado resultados avultados – 2023 terá sido histórico, com lucros acima dos mil milhões de euros — e tem muito capital para ir às compras.

Não se justifica um banco público sem poder de ação no mercado. Um banco público justifica-se ter porque pode ser um player no mercado e um interveniente no mercado. Nesse sentido, a Caixa não é indiferente à consolidação”, reclamou Paulo Macedo.

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