Exclusivo CEO do Novobanco “vende” IPO em Nova Iorque, Londres e Frankfurt

Mark Bourke tem-se desdobrado em reuniões com investidores nas principais praças, desde Nova Iorque a Copenhaga para contactos preliminares. IPO do Novobanco vai acelerar nos próximos meses.

Os trabalhos para levar o Novobanco para a bolsa estão a avançar nos bastidores. Nos últimos meses, o CEO do banco, Mark Bourke, tem-se desdobrado em reuniões com os investidores nas principais praças financeiras do mundo, desde Nova Iorque a Londres, em contactos preliminares que vão abrir caminho para a aguardada oferta pública inicial (IPO), de acordo com as informações recolhidas pelo ECO. O processo vai acelerar nos próximos meses.

Além de Mark Bourke, também o administrador financeiro do Novobanco, o alemão Benjamin Dickgiesser, tem participado nestes encontros com os investidores com vista a sondar o apetite do mercado em relação ao IPO.

Esta espécie de roadshow já passou por Nova Iorque, Londres e Frankfurt, onde se encontram as principais bolsas mundiais e onde estão os grandes investidores, mas também pelas cidades de Munique e Copenhaga. As reuniões não vão ficar por aqui. Espera-se que os trabalhos do IPO acelerem nos próximos meses.

O processo que levará o banco “de novo” à bolsa (tendo em conta que o BES esteve cotado até à sua queda há nove anos) poderá conhecer novos desenvolvimentos até final do ano ou início de 2024, quando forem selecionados os bancos que vão estruturar toda a operação, segundo avançou o site de informação financeira Mergermarket, especializado em negócios de M&A, esta semana.

Uma das fontes adiantou que o IPO se poderá fazer através de uma dispersão em bolsa (free float) acima dos mil milhões de euros, embora tenha admitido que ainda é prematuro avançar com moldes da operação.

O banco não faz comentários. Recentemente, em entrevista ao ECO, Mark Bourke revelou que está a trabalhar no sentido de ter o banco preparado operacionalmente quando for para ir ao mercado, o que poderá acontecer na segunda metade do próximo ano. “Depois, o próximo passo depende muito de saber se os mercados estão abertos a IPO”, afirmou, apontando para um eventual dual listing, isto é, colocar as ações em Lisboa e noutra praça internacional.

Incertezas em cima da mesa

Mark Bourke sabe como se fazem estes processos. O irlandês já tratou do IPO do Allied Irish Banks (AIB) em 2017, que marcou o início do fim do período de resgate de mais de 20 mil milhões de euros do Estado irlandês.

A história do Novobanco, de alguma forma, tem pontos de contacto com o AIB: ambos também foram resgatados com dinheiros públicos. Mas agora, para os contactos com os investidores, o gestor irlandês tem levado uma bagagem de boas notícias sobre a recente história do banco. A dura fase de reestruturação já acabou e a subida dos juros do Banco Central Europeu (BCE) está a catapultar os resultados do banco para níveis históricos. No primeiro semestre, os lucros foram da ordem dos 372,2 milhões de euros, um aumento de quase 40% em relação ao mesmo período do ano passado. As metas para 2023 foram revistas em alta.

Ainda assim, o processo do IPO mantém várias incógnitas e dossiês por resolver. Por exemplo, o acordo de capital contingente (CCA) mantém-se até 2026 e isso significa que o Fundo de Resolução continuará a participar em algumas decisões do banco, designadamente em relação aos ativos abrangidos pelo mecanismo.

O mesmo CCA determina que o banco continuará proibido de pagar dividendos, um fator que tira o interesse de qualquer investidor. Este obstáculo pode ser ultrapassado com a antecipação do fim do acordo, algo que estará a ser negociado entre as partes que terão incentivos para tal.

Também não se sabe quais as decisões que o Fundo de Resolução e o Ministério das Finanças (através da Direção-Geral do Tesouro e Finanças) poderão tomar em relação à sua participação de 25% na instituição. O fundo Lone Star tem 75% do capital. Mais certo é que nenhuma das partes deixará escapar um bom negócio. E o melhor timing poderá estar aí à espreita.

Ciclo de alta de juros puxa pelas avaliações da banca

De acordo com a notícia da Mergermarket, o IPO do Novobanco poderá acontecer no final do próximo ano ou no início de 2025. Uma das fontes observou que a oferta pública do grupo de hospitais Luz Saúde – que se encontra numa fase mais adiantada — poderá representar um importante teste ao sentimento do mercado relativamente a novas cotadas.

Outro indicador pode ser relevante para escolher o momento da transação: o rácio price-to-book value (P/B). Os dados mostram que o ambiente de alta de juros está a puxar pelas avaliações dos bancos europeus que estão cotados na bolsa. O rácio P/B do Stoxx Europe 600 Banks avançou de uma média de 0,60 nos últimos cinco para 0,68, o que significa que as cotações dos bancos se aproximaram do seu valor contabilístico (capitais próprios).

Neste ponto em particular, o BCP pode fornecer um quadro de referência para o valor do Novobanco. O rácio P/B do banco liderado por Miguel Maya registou uma das evoluções mais impressionantes a nível europeu, subindo de 0,43 para 0,69. As ações do BCP estão a negociar na bolsa com um desconto de 30% em relação ao seu valor contabilístico.

O Novobanco chegou a junho com uma situação líquida de 3,98 mil milhões de euros. Aplicando o desconto de 30% com que negoceia o BCP na bolsa, os investidores estariam a atribuir um valor de mercado de cerca de 2,7 mil milhões ao banco liderado por Mark Bourke.

No mais recente negócio na banca portuguesa, o Banco Montepio vendeu a licença do banco de empresas à fintech Rauva, num negócio que tem por base um múltiplo de entre 1,15 vezes a 1,18 vezes dos capitais próprios do BEM. Neste caso, o Novobanco valeria bem mais do que os 3,98 mil milhões de capitais próprios.

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