“Lisboa e outra bolsa europeia”. CEO Mark Bourke diz que Novobanco vai estar pronto para ‘dual listing’ em 2024

O CEO do Novobanco diz ao ECO que a superação de metas e o sucesso da emissão de dívida mostram que o banco estará pronto para entrar em bolsa durante 2024. Depois é avaliar o 'timing' nos mercados.

Um disparo de 40% no lucro para 373,2 milhões de euros nos seis meses até junho, o estabelecimento e atingir de novas metas, aliados a uma emissão de dívida sénior no valor de cerca de 263 milhões de euros em março, significam que o Novobanco deverá estar preparado para um IPO (Initial Public Offering, termo em inglês para uma entrada em bolsa) no próximo ano, talvez até mesmo no primeiro ou no segundo trimestre.

Em entrevista ao ECO em dia de apresentação de resultados, o CEO Mark Bourke explica que, uma vez que colocar o banco em forma para ir para a bolsa, caberá aos acionistas, o fundo americano Lone Star (com 75%), o Fundo de Resolução (13%) e o Estado (11,96%) escolher o bom momento nos mercados financeiros.

Não falta interesse de bancos de investimento, diz o irlandês que lidera o Novobanco desde 2022, salientando que são frequentes as visitas que representantes fazem à sede (ainda na Avenida da Liberdade em Lisboa) para começar a avaliar o negócio. A mudança da sede para o Tagus Park deverá ocorrer em junho de 2024, altura escolhida para possibilitar uma transição suave, especialmente para colaboradores com filhos.

Sobre a ideia do Governo querer que os bancos ofereçam taxas de juro mistas (inicialmente fixas e depois variáveis) aos clientes que já têm crédito à habitação, Rourke diz que ainda não vê a necessidade disso e que o banco já consegue através de reestruturações ajudar os clientes mais aflitos.

Do outro lado da moeda, nos depósitos, o CEO explica que o volume já estava a subir, com maior remuneração, mesmo antes do Governo ter alterado as regras dos Certificados de Aforro em junho. O Novobanco não teve nenhuma conversa com o Governo sobre esse assunto, garante, negando assim qualquer hipótese de ter pressionado o ministério de Fernando Medina.

Qual é ponto da situação do ‘repricing’ da vossa carteira de crédito no contexto dos aumentos das taxas de juro?

Estamos a 75% do caminho a percorrer. Está tudo a ser feito com o novo equilíbrio e está tudo bem. A maior parte da reavaliação de preços teve lugar, praticamente toda, nas empresas. Por isso, tudo o que está a acontecer aplica-se a um mercado totalmente variável, o que significa que é altamente sensível. A maioria dos nossos empréstimos para a habitação é boa. Grande parte da nossa carteira de crédito hipotecário tem revisão a três, seis e 12 meses. Quase metade é a 12 meses, portanto, ainda temos um pouco de caminho a percorrer.

Estamos a passar uma fase benigna para os bancos, mas o preço a pagar pelos depósitos vai aumentar. Como é que isso vai afetar a rentabilidade?

Estamos certamente na parte final da atualização de preços, portanto, o nosso asset yield irá provavelmente atingir um pico no terceiro ou no quarto trimestre. O que acontece depois depende de se as taxas de juro subirem ou descerem. Nos depósitos é preciso ver por tipos. Temos 60% em retalho e 40% em empresas.

Nas empresas todas têm pago, no retalho perdemos mil milhões em depósitos no primeiro trimestre, quando esperávamos perder 300 ou 400 milhões de euros. Mas depois recuperamos 800 milhões no segundo trimestre, ou seja, estamos agora com menos 200 milhões do que no início do ano. A coisa mais importante foi que 12 mil milhões foram para Certificados de Aforro e, mesmo tendo o Governo mudado as regras e o limite, isso ainda não teve impacto, é ainda cedo para isso. Os depósitos estabilizaram.

Como é que viu essa mudança nos Certificados pelo Governo? Falaram ou fizeram alguma pressão com os governantes no contexto de uma fuga massiva?

Nenhuma conversa sobre isso. Nem de forma direta ou indireta, não tivemos envolvimento. A recuperação dos depósitos aconteceu antes dessa decisão. Dizer que houve uma fuga massiva seria um enorme exagero. Se esperamos uma queda de 400 milhões e temos uma de 800 milhões é uma fuga, sim, mas num livro de crédito de 28 mil milhões é relativo. Presumo que o Governo, por si próprio, com 12 mil milhões de euros em financiamento decidiu que já era suficiente.

Por outro lado, também tem havido muita discussão recentemente sobre as taxas do crédito à habitação, especialmente porque o ministro das Finanças deu duas entrevistas no mesmo dia, dizendo que está a falar com os bancos para estes oferecerem taxas mistas aos clientes que já têm empréstimos. Acha que há mesmo um problema que essa medida poderá resolver?

Essa é que é a pergunta! Temos 200 mil empréstimos para esse propósito, uma carteira com ‘loan to value’ de 50%, portanto uma carteira madura. E nos créditos novos isso sobe para 60%. Podemos estar na ponta mais conservadora, mas acho que é uma tendência que percorre a indústria, não há evidência sobre a existência de problemas que podem levar as pessoas a terem de reestruturar os créditos. Claro que as pessoas têm de ser cuidadosas, mas isso já somos.

Já disse que o banco não está à venda, mas a preparar um IPO. Qual é a ponto da situação?

O cenário de base continua a ser o mesmo. Temos estado de forma consistente a preparar, a construir um prospeto, trimestre a trimestre, o que leva tempo. Toda a gente fala de consolidação no setor e ela nunca acontece. Um IPO faz sentido para todos os nossos acionistas, é a única solução para a qual podemos efetivamente almejar. É preciso ter resultados no retalho e no corporate, o que requer investimento e há muito para fazer, mas estamos a conseguir.

O meu trabalho, o nosso trabalho como banco, é estarmos preparados quando for para ir ao mercado. A forma como se começa é estabelecer metas, depois ultrapassá-las e levá-la à comunidade de investimento, a todos os fundos. E isso temos feito, estamos na fase inicial. Mas mais importante, que nos ajudou a acelerar seis meses neste processo, foi a emissão de dívida em Tier 2. Mostrámos acesso ao mercado, algo que não acontecia desde a resolução e a um preço que seria equivalente a uma notação de crédito três vezes acima da nossa. O mercado está a dizer que as agências de rating podem colocar o banco em grau de investimento nos próximos dois anos.

uma mudança na perceção no mercado. Antes quem queria dívida do Novobanco eram os hedge funds, e tudo que queriam era ativos sob pressão. Agora falamos com a Capital, a Fidelity, a Wellington. Todos que se esperam ver na dívida e depois numa oferta de ações. A emissão foi prova viva do acesso ao mercado.

Com essa aceleração estamos a falar de que calendário?

É necessário criar credibilidade, demonstrar a capacidade operacional, o investimento e o retorno. Diria que em termos de preparação operacional estaremos prontos no meio de 2024 ou na segunda metade desse ano. Depois, o próximo passo depende muito de saber se os mercados estão abertos a IPO. Ninguém está a fazê-los neste momento, mas estão a começar a falar disso, CEOs de grupos como o JPMorgan falam disso. Mas mesmo as hipóteses de que se falam estão a ser avaliadas com desconto face ao book.

Não posso dizer quando faremos o IPO, acho que podemos até estar prontos no primeiro ou o segundo trimestre do próximo ano num contexto operacional e iremos continuar a levar a nossa história aos investidores.

Será uma entrada só na Bolsa de Lisboa ou mais outra?

Estamos aqui a saltar alguns passos, portanto, não sei ao certo, mas o que a minha experiência me leva a pensar é que seria um dual listing, um local, em Lisboa, e um na Europa. Não sei se Londres, que está a perder poder, mas talvez Amesterdão, Paris ou Frankfurt. Nos EUA é complicado, pela regulação e contabilidade.

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