Escritórios “mais verdes”: o segredo está na eficiência

A sustentabilidade no escritório é muito mais do que reciclar: é ser mais eficiente no uso dos materiais. O teletrabalho pode ajudar a reduzir a pegada ambiental, mas o fim dos escritórios está longe.

A pandemia tirou milhares de trabalhadores dos escritórios e deixou os espaços de trabalho vazios. Com a implementação do teletrabalho, foi possível reduzir-se as deslocações entre casa e escritório, uma das grandes causas para o aumento de emissões carbónicas em todo o mundo, bem como todos os gastos associados aos espaços físicos de trabalho. Devido à redução da atividade para controlar a propagação da Covid-19, o planeta entrou em “défice ecológico” quase um mês mais tarde do que no ano passado e os espaços de trabalho tiveram um grande peso na redução da pegada ecológica.

Mas quase um ano depois, as previsões apontam para um futuro do trabalho híbrido – que combina o trabalho presencial com o remoto -, colocando o fim dos escritórios longe de uma certeza a curto prazo. No que se refere às emissões carbónicas, os escritórios inserem-se na categoria “consumos residenciais e de serviços”. “O edificado representa à volta de 20%, 30% do consumo de energia. A maior parte dessa energia é para duas ou três utilizações: a iluminação, o aquecimento base e, no caso dos residenciais, a alimentação e aquecimentos de água, o fogão e o esquentador, que também são relativamente pesados em termos de fatura”, começa por explicar à Pessoas Pedro Barata, coordenador do Roteiro para a Neutralidade Carbónica em Portugal e CEO da GET2C, uma consultora para as alterações climáticas.

Reduzir e reutilizar o papel, optar por iluminação por LED, tirar partido da luz natural ou ter por base critérios de eficiência na escolha de equipamentos são algumas das formas de tornar um escritório “mais verde”. Pedro Barata acredita que ainda é “prematuro” avaliar o impacto global do teletrabalho na pegada ambiental. Há benefícios evidentes na redução das emissões com a redução das deslocações entre casa-escritório. No entanto, há mais gastos em eletricidade, equipamentos de aquecimento ou outros aparelhos durante o trabalho a partir de casa.

“A sustentabilidade é eficiência”, defende o responsável. “Se estamos a pensar na utilização dos espaços naturais, é mesmo uma questão de ter de não fazer algum tipo de ação mas, em grande medida, a sustentabilidade significa apenas ser o mais eficiente possível na utilização de materiais, portanto nessa base não é muito diferente do que deveria já ser a forma de operação das empresas. As empresas querem-se eficientes”, explica o especialista.

Mesmo num modelo híbrido, as empresas têm de criar um ambiente próprio para que as pessoas queiram trabalhar a partir de lá.

Daniela Rodriguez

Fundadora da Forest Homes

Tornar-se mais eficiente no escritório pode passar por fazer reciclagem, reduzir e reutilizar o papel, escolher equipamentos mais eficientes, mas também tirar partido da luz natural ou fazer uma manutenção adequada dos aparelhos. Uma das formas de avaliar as práticas da empresa é fazer uma auditoria energética, aconselha. “Quando estamos a falar de um escritório e não de uma empresa industrial, a auditoria energética resume-se a ter boas práticas na compra de equipamentos eletrónicos, pensar bem a questão da iluminação natural, etc.”, exemplifica.

Há muitos portugueses a querer regressar ao escritório, mas há também uma larga maioria que quer poder escolher ficar em casa, por isso os edifícios mais eficientes – que, por norma, se encontram nos escritórios – terão a tendência de ficar mais vazios. Em casa, criar um escritório eficiente tem as mesmas regras: escolher um lugar para trabalhar mais próximo da luz solar, para poupar em equipamentos de aquecimento, escolher eletrodomésticos com certificação energética mais elevada ou evitar ter equipamentos de aquecimento ligados muito tempo, são algumas das opções.

Se de repente toda a população sai dos edifícios mais eficientes para os edifícios menos eficientes, vamos ter um efeito no aumento do consumo de energia para aquecimentos base“, ressalva Pedro Barata, que lembra que a importância de uma “transição justa” na redefinição do modelo de organização do trabalho, para que a mudança não se faça à custa dos trabalhadores ou dos empregadores.

Ser “verde” é ser mais eficiente

Ter um escritório mais sustentável é muito mais do que reduzir o papel ou os plásticos. Pode passar por criar espaços mais luminosos, com mais luz solar, aumentar o fluxo de ar no local de trabalho e até criar espaços verdes circundantes. É a pensar em escritórios mais verdes que a Forest Homes cria soluções de design biofílico para empresas e clientes particulares.

A pandemia não tem tido impacto no negócio da empresa mas, por outro lado, desde março têm aumentado os pedidos das estruturas de plantas auto preservadas – que não precisam de luz do sol nem de água. “Não é só a parte verde, do ambiente, que é sustentável, mas também de um ambiente onde a pessoa se sinta segura, relaxada e com a mente descansada. É a ciência do que nós trabalhamos, o design biofílico”, começa por explicar à Pessoas Daniela Rodriguez, que fundou a empresa em Portugal, em 2017. “É um terço da vida que passamos no trabalho, então é muito importante que seja agradável para nós”, reforça a responsável.

O conceito pode ser aplicado de várias formas e é muito mais do que “encher o escritório de plantas”, lembra Daniela. “[O design biofílico] é introduzir a natureza de três formas diferentes. Uma é com coisas reais da natureza – como luz, plantas -, depois elementos análogos da natureza, como formas, padrões, e o terceiro é a disposição do espaço. Tal como na natureza, há diferentes tipos, como os espaços de refúgio, onde te sentes protegido. É uma reação biológica”, detalha a responsável.

Em grande medida a sustentabilidade significa apenas ser o mais eficiente possível na utilização de materiais, portanto nessa base não é muito diferente do que deveria já ser a forma de operação das empresas.

Pedro Martins Barata

CEO da GET2C

Os resultados de um estudo desenvolvido na Universidade de Harvard, nos EUA, “The impact of working in a green certified building on cognitive function and health” (2016), revela que as pessoas que trabalham em edifícios sustentáveis demonstraram um desempenho cognitivo 26% superior, além de uma redução de 30% de sintomas como olhos lacrimejantes, dores de cabeça, comichão, palpitações, fadiga e até cancro. “Mesmo num modelo híbrido, as empresas têm de criar um ambiente próprio para que as pessoas queiram trabalhar a partir de lá. Acho que é uma boa oportunidade para as empresas ajudarem os seus trabalhadores a serem mais conscientes do seu espaço e a sentirem-se melhor”, destaca Daniela.

Durante a pandemia, a Forest Homes criou uma solução tecnológica para apresentar os produtos aos clientes através de uma simulação em realidade virtual. Para os próximos tempos está previsto o lançamento de um novo produto: ladrilhos de cerâmica forrados com madeira e materiais de construção sustentável. Será quase como “tocar numa árvore”, para potenciar a sensação de proximidade com a natureza.

9 passos para tornar o escritório mais eficiente, na empresa e em casa

  • Reduza o uso de papel
  • Reutilize papel (ex.: utilizar a página de trás nas impressões)
  • Aposte na iluminação LED
  • Privilegie materiais de isolamento que permitam aquecer os locais de trabalho
  • Para o aquecimento, prefira gás natural, aquecimentos centralizados ou bombas de calor
  • Compre equipamentos eletrónicos mais eficientes
  • Faça a manutenção dos equipamentos de aquecimento e refrigeração para evitar fugas de gases com efeito de estufa
  • Tire partido da luz natural (trabalhar perto de janelas ou locais com maior luminosidade natural)
  • Faça uma auditoria energética

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