ESG pode impulsionar negócios dos escritórios de advogados

A consultora OnStrategy revelou quais são as cinco marcas da advocacia com melhor perceção nas práticas de ESG. A Advocatus foi falar com as visadas e perceber quais as políticas que implementaram.

ESG (Environmental, Social and Governance), uma sigla que passou a estar de “braço dado” com as empresas e a ocupar um lugar de destaque nas suas agendas. O objetivo? É produzir melhores práticas de sustentabilidade em cada um dos vértices: ambiental, social e de governança.

Recentes conclusões da consultora OnStrategy revelaram que entre os serviços jurídicos a Vieira de Almeida (VdA) é a sociedade de advogados com melhor perceção nas práticas de ESG, obtendo um índice de 66,7 numa escala de 100.

“A sustentabilidade não é apenas uma opção, mas um elemento genético fundador da nossa cultura e um imperativo, ao qual nos temos dedicado de forma intensa ao longo dos anos, promovendo a integração das diversas vertentes ESG na definição da estratégia da firma. E temos feito um investimento muito significativo, incluindo na vertente de recursos especializados, totalmente dedicados a esta matéria”, explicou à Advocatus João Vieira de Almeida, senior partner da VdA.

Como exemplo deste investimento no escritório, João Vieira de Almeida destacou a existência de uma Corporate Sustainability Officer, que é responsável pela gestão e integração da política ESG da firma, ou de uma General Counsel, dedicada unicamente aos temas de governance e compliance.

Em segundo lugar nesta tabela ficou a CMS, que obteve um índice de 65,5. Para Maria Figueiredo, counsel do escritório, esta distinção é um motivo de orgulho e resulta do “grande investimento” que têm feito na área de ESG.

Não há futuro sem “políticas” direcionadas para a sustentabilidade, seja a nível corporativo, seja a nível individual. Na CMS temos feito um grande investimento nesta área através de ações que visam dotar a sociedade de ferramentas práticas que permitem acompanhar a mudança, obrigatória, de paradigma. Agora vemos, de várias formas, esse investimento reconhecido. Seja por distinções como esta, seja com mudanças de comportamentos e, sobremaneira, também pela confiança dos nossos clientes. Isso é um motivo de orgulho para a sociedade”, disse.

Maria Figueiredo, counsel da CMS

Em terceiro lugar, com um índice de reputação no mercado de 65,2, ficou a Cuatrecasas. À Advocatus, o escritório liderado por Nuno Sá Carvalho explicou que atribuem grande importância às políticas de ESG, publicando anualmente um relatório de Sustentabilidade Corporativa que contém várias métricas sobre o ESG na firma.

“Na Cuatrecasas foi lançada uma unidade ESG em julho de 2019, com o objetivo de investigar, debater e apoiar em questões ambientais, sociais e de governo corporativo todos os grupos de prática da firma. Esta unidade tem contribuído também para abordar de uma forma mais estruturada os compromissos internos que a Cuatrecasas mantém em matéria de ESG”, sublinharam.

Logo a seguir, com um índice de 63,4 numa escala de 100, está posicionada a Garrigues. Segundo Vasco Rodrigues, membro do comité de ESG e sócio do departamento de mercantil, a sustentabilidade tem sido um “pilar estratégico” em dois sentidos: como sociedade de advogados e como organização. “Como sociedade de advogados, orientamos os nossos clientes para o desenvolvimento sustentável, avaliando os seus riscos e oportunidades; e, como organização, integramos a sustentabilidade na nossa estratégia a longo prazo, norteados pelos 10 Princípios do Pacto Global e pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU”, explicou.

O advogado sublinhou ainda que todos os anos a Garrigues publica um Relatório da Sustentabilidade, onde comunicam os progressos feitos na área de ESG, com metas e indicadores que medem o impacto do escritório em questões ambientais, sociais e de governança. “A publicação deste relatório é um dos grandes marcos do ano, que nos orgulha particularmente, pois é o resultado do empenho de toda a organização e um compromisso de melhoria contínua que já abrange quase duas décadas”, acrescentou.

Por fim, a fechar o top 5, ficou a PLMJ que foi pontuada com 61,6. Bruno Ferreira, managing partner, garante que os critérios ESG estão no core do plano estratégico da PLMJ. “Intervenção social e sustentabilidade são aliás uma tradição da PLMJ e procuramos cada vez mais consistência, mais ambição e mais determinação no compromisso com o foco no bem-estar das nossas pessoas, na monitorização do impacto social gerado pela nossa atividade e no apoio aos nossos clientes e parceiros”, disse.

O líder da PLMJ sublinhou ainda que, desde 2021, o tema da sustentabilidade tem ganhado uma importância central, tendo o escritório lançado uma nova área de prática, a Responsible Business. “Esta é sem dúvida uma das grandes apostas do escritório, até pelo seu cariz transversal, na medida em que aporta uma abordagem ESG à generalidade dos desafios que os nossos clientes nos colocam. Depois de uma pandemia que durou mais de dois anos e que levou à existência de um Plano de Recuperação e Resiliência que é todo ele perpassado pelo tema da sustentabilidade, além da nova regulamentação europeia, o movimento que as empresas já estavam a fazer em direção a um desígnio global, pelo menos nas economias desenvolvidas, acelerou e vai consolidar-se”, sublinhou.

No geral, numa escala de 100 pontos, entre as marcas com melhores resultados está a Delta com 85,9 pontos, Nestlé com 83,5 pontos, Danone com 80,6 pontos, Água das Pedras com 80,3 pontos, e Luso com 80,1 pontos, entre mais de 2.000 marcas auditadas.

Relativamente aos setores de atividade, os que mais se destacaram foram o de Retalho Alimentar, com 66,8 pontos, seguido de Energia, com 66,3, e de Empresas Holdings, com 66 pontos. O setor jurídico atingiu o nível de 60,7 pontos.

Pedro Tavares, managing partner da OnStrategy, destacou que apenas cinco marcas recolhem uma avaliação de perceção de excelência, ou seja, com mais de 80 pontos, e que os setores que se destacam pela positiva são retalho alimentar, energia, holdings e retalho de saúde e bem-estar. Entre os setores mais expostos destacou o da indústria financeira (banca, seguros, crédito ao consumo), luxo e acessórios de moda, engenharia e construção.

“De uma forma consolidada, juntando todos os setores de atividade, Portugal recolhe uma avaliação moderada na prática de ESG (60 pontos), e nenhum setor de atividade atinge sequer uma avaliação robusta (mais de 70 pontos)”, disse. Entre as três dimensões que compõem o índice de ESG, Pedro Tavares destacou a de Governo com a melhor avaliação (69 pontos) e a de Responsabilidade Ambiental com a avaliação mais baixa (46 pontos).

A OnStrategy consolidou assim a informação referente à avaliação que decorreu entre 1 de abril de 2022 e 31 de março de 2023, junto de mais de 50.000 cidadãos que “refletem a sociedade portuguesa em termos de distribuição geográfica, género, idade, grau de formação e classe social”.

Estas são as práticas de ESG dos escritórios

Desde a criação de plataformas à utilização de motas elétricas, várias são as práticas levadas a cabo pelos escritórios de advogados.

Empenhados em contribuir ativamente para a prossecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas, a VdA tem investido em várias áreas, como a preservação dos recursos, maximização da eficiência organizacional, aumento das competências e da qualidade de vida, fomentando a adoção de um conjunto de práticas ESG junto dos colaboradores e stakeholders e o envolvimento destes na sua concretização.

“Todas as iniciativas têm metas concretas ambiciosas, o que nos levou a implementar sistemas de monitorização robustos, assentes em tecnologia e processos inovadores alinhados com indicadores e padrões internacionalmente reconhecidos, para medir o nosso progresso e permitir-nos identificar áreas de melhoria”, explicou João Vieira de Almeida.

João Vieira de Almeida, senior partner da VdA

Por outro lado, na CMS, a mudança de instalações permitiu um novo capítulo na história de ESG do escritório. Criaram um Green Lounge (horta urbana), em parceria com a Noocity, que é um espaço de 250 metros quadrados, onde têm 55 growbeds, com 17 espécies cultivadas. “O resultado destas colheitas é partilhado com várias associações, entre elas a Refood de São Sebastião, numa lógica de impacto com proximidade”, sublinhou Maria Figueiredo.

Outras das práticas levadas a cabo pelo escritório são o CMS E-Mobility, em parceria com a startup portuguesa Wyze e que permite que os colaboradores se movam em motas elétricas; e o Going Digital, que consiste na adoção de comportamentos digitais responsáveis e que permite, entre outras finalidades, uma poupança no uso do papel bastante significativa. “Temos também um programa de capacitação interna e partilha de informação e boas práticas com clientes chamado ESG Fridays que pretende dotar todas as áreas do escritório de conhecimento acerca de temas no âmbito da sustentabilidade, partilhar conhecimento e experiências, nomeadamente incluindo clientes na discussão interna. Trata-se de sessões informais, com a duração de cerca de uma hora”, notou a counsel da CMS.

Já na Cuatrecasas foram adotadas políticas ambientais, políticas ligadas aos direitos humanos, inclusão, diversidade e equidade, e políticas relacionadas com o governo da sociedade, incluindo a gestão das compras e a transparência. Para as concretizar, o escritório criou estruturas dentro da organização que pensam estas políticas e que as executem, envolvendo todos.

“No âmbito da unidade ESG da Cuatrecasas, existem gestores ao nível da administração da cadeia de fornecimento, ambiente, ação social, e prestação de contas e contabilidade, e que têm como objetivo implementar o sistema de gestão concebido para cada área. Ao mesmo tempo, todos os pilares que constituem o nosso plano estratégico estão em linha com as políticas ESG. Se houve algo que aprendemos depois da crise pandémica recente, foi a necessidade de “refocalizar” a nossa atividade económica colocando as pessoas e o planeta no centro da nossa estratégia”, disse o escritório.

Conscientes de que as organizações que encaram o desenvolvimento sustentável de forma “holística” e “transversal” têm uma “clara vantagem competitiva”, a Garrigues decidiu agregar os mais de 20 anos de experiência em sustentabilidade numa única plataforma, a Garrigues Sustentável.

Esta plataforma é “constituída por equipas de advogados especializados nas várias áreas jurídicas e que atuam em diferentes jurisdições, organizadas em torno de 12 linhas de serviço para abordar os grandes setores empresariais e nichos de especialização, desde o meio ambiente, a transição energética, o financiamento verde ou o turismo sustentável, até os grandes desafios das empresas em termos de governança corporativa, compliance, igualdade de género, diversidade e direitos humanos”, explicou Vasco Rodrigues.

Vasco Rodrigues, membro do comité de ESG e sócio do departamento de mercantil da Garrigues

Por fim, na PLMJ, a nível interno, publicam um relatório de sustentabilidade, desde 2021, que “olha para dentro da PLMJ e assume compromissos alinhados com uma matriz ESG”. Esta matriz é materializada através da implementação de um conjunto de políticas, que vão desde políticas de recursos humanos, de mitigação da pegada de carbono, promoção do bem-estar físico e mental dos colaboradores, e abrangem as cadeias de valor de que são parte, incluído os fornecedores.

“A PLMJ existe há mais de 50 anos e temos fornecedores de longa data, de várias dimensões, que não passariam no crivo de hoje. Não achamos que o nosso papel seja abandoná-los, mas sim ajudá-los no caminho que têm de fazer. A transição para esta nova forma de estar no mundo não se faz da noite para o dia nem sem custos e achamos que o nosso papel não é contribuir para o esmagamento daqueles que precisam de mais tempo para se ajustar. Dito isto, abrimos, claro diálogo com eles sobre este tema: sabemos bem da nossa responsabilidade, potencial e capacidade de influenciar a mudança e usamo-la para isso”, defendeu Bruno Ferreira.

Outras das políticas do escritório prendem-se com a parentalidade, modelos de carreira, paridade de género, medidas de mitigação da pegada de carbono e do investimento em impacto social.

Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ

A nível externo, Bruno Ferreira destacou a área de Responsible Business, que está focada em três áreas principais: financiamento sustentável e social; empresas e direitos humanos; e ética de negócios. “Acima de tudo, acreditamos que é sempre possível devolver valor à sociedade, sem pôr em causa o sucesso da nossa atividade. E é neste equilíbrio de gestão e mitigação de impacto no ambiente e na sociedade por um lado, e a construção de um projeto economicamente sustentável e de constante crescimento por outro, que fazemos assentar a nossa ética de negócio”, acrescentou.

O impacto nos escritórios

A Advocatus questionou as cinco sociedades de advogados sobre que impacto têm as políticas de ESG no negócio do escritório. Todas acreditam que provocou mudanças positivas até a nível financeiro.

Para o senior partner da VdA, a implementação de práticas ESG impulsiona “mudanças estruturais” e o alinhamento com estas práticas é um fator decisivo para o sucesso das organizações, “gerando benefícios tangíveis para o negócio em muitas frentes”.

“Desde a poupança implícita na redução do consumo de recursos, até à atração e retenção das pessoas que se identificam com o nosso propósito, gerando elevados níveis de engagement, motivação e produtividade. E, ao nível dos nossos stakeholders, fazer o “walk the talk” credibiliza o aconselhamento que damos em ESG e coloca-nos numa posição de parceiros preferenciais, estrategicamente alinhados”, disse João Vieira de Almeida.

Maria Figueiredo, por sua vez, acredita que não é possível prestar serviços de qualidade aos clientes nestas matérias sem adotar a mesma atitude no que diz respeito à sua própria atividade, por isso adotaram a prática “walk the talk”. A counsel da CMS avançou que é ainda possível identificar impactos ambientais e sociais no escritório, designadamente ao nível da saúde mental e conciliação entre vida profissional e pessoal. “No longo prazo será possível ter maior visibilidade destes impactos, nomeadamente ao nível de atração e retenção de talento”, disse.

“A nível financeiro, embora não seja ainda possível ter dados muito concretos, há um crescimento significativo de receitas com consultoria ligada a estas matérias e também ao nível de eficiência nos custos”, acrescentou Maria Figueiredo.

Também Vasco Rodrigues sublinhou que o impacto destas políticas no volume de negócios é “sem dúvida significativo”. “Nos últimos anos os serviços relacionados com a transformação e o desenvolvimento sustentável têm estado na liderança das áreas que mais crescem. 2022 foi especialmente movimentado no que diz respeito às transações, quer na área de M&A e projetos de energia renovável, na qual participamos em mais de 40 operações a nível internacional, quer na área de financiamento sustentável, com o nosso envolvimento em 30 transações deste tipo”, explicou.

Já na Cuatrecasas, veem a inclusão de práticas ESG no dia-a-dia como um “investimento no futuro”, com um impacto positivo a nível económico, ambiental e social. À Advocatus, o escritório explicou que também os clientes estão a integrar práticas ESG, trazendo diversas questões jurídicas que, enquanto advogados, devem saber como contribuir, acrescentando valor à sua assessoria.

“O nosso objetivo como sociedade de advogados é também assessorar os nossos clientes nos seus compromissos ESG. Depois, também é importante que nós, como uma organização responsável, melhoremos a nossa própria gestão ESG”, considerou a Cuatrecasas.

Por fim, a PLMJ admite que políticas de ESG são uma exigência tanto dos colaboradores, como dos clientes e parceiros. Para o managing partner, a partir do momento em que sejam capazes de se alinharem sobre uma ética de negócio e uma forma de estar no mundo, o “ESG é uma ferramenta indiscutível de captação e retenção de talento, na geração de uma cultura coesa e de um mindset de sustentabilidade e esse impacto é absolutamente mensurável”.

“Do ponto de vista do contributo da área de Responsible Business para a faturação do escritório, para já, por ser uma área que funciona numa lógica de multidisciplinaridade e assente nas equipas de várias áreas de prática, ainda não nos preocupamos com a segmentação por tema. Mantemos com toda a confiança o objetivo de chegar aos 10% em 2025 e, resultado da nova regulação europeia e mundial por um lado, e do entusiasmo que o tema gera nos advogados que têm colaborado no desenvolvimento da área, esse objetivo tem todas as condições de ser cumprido. E tem sido particularmente gratificante ver os clientes a entusiasmarem-se cada vez mais com o seu papel na construção de um mundo melhor”, concluiu Bruno Ferreira.

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